Gaudium news > “Apesar de tudo, a fé continua firme e Deus continua sendo amado e adorado”, afirma o arcebispo de Porto Alegre

“Apesar de tudo, a fé continua firme e Deus continua sendo amado e adorado”, afirma o arcebispo de Porto Alegre

Porto Alegre (Terça-Feira, 20/03/2012, Gaudium Press) Dom Dadeus Grings, arcebispo metropolitano de Porto Alegre, no Estado do Rio Grande do Sul, recentemente escreveu um artigo, intitulado “A demitologização”, em que ele fala que a partir das tentativas de demitologização, iniciada no século XVX e aprofundada no século XX, se tentou reescrever e rever os dados do Antigo Testamento, com base no método histórico-crítico.

Segundo o prelado, foram tirados os livros das origens, desde o Gênesis até os juízes, do âmbito dos escritos históricos, para situá-los, puramente, no contexto teológico. “Não descreveriam fatos, mas concepções de vida. Não só as figuras de Adão e Eva caíam, mas também Caim e Abel, Noé e o dilúvio, passavam ao rol das ficções teológicas. Até Abraão, Isaac e Jacó, com seus doze filhos, perderam sua historicidade, para se transformarem em modelos de fé”, completa o arcebispo.

Dom Dadeus lança o seguinte questionamento: se a narrativa acerca de Abraão, venerado como pai da fé e fundador do Monoteísmo, não passa de uma ficção teológica, como fica nossa fé, que tem nele seu fundamento? Para o arcebispo, é certo que os que elaboraram esta demitologização não perderam a fé abraâmica, e isto significa que esta fé existe e é plenamente histórica. “Como se originou não está plenamente esclarecido, depois que se tirou Abraão, Isaac e Jacó do contexto da História”, destaca.

Crer que Adão e Eva não passam de figuras literárias, afirma dom Dadeus, em nada desmerece seu significado, como concepção da origem do homem. De fato, de acordo com o prelado, não cremos, a rigor, nem em Abraão, nem em Adão, mas em Deus, cuja ação, em nosso favor, é narrada através das figuras literárias e figurativas de ambos. “É a fé que se quer ressaltar e não um fato histórico, que eventualmente, pudesse colidir com os dados das pesquisas científicas.”

O arcebispo lembra ainda que causou maior impacto a demitologização de Moisés e da epopéia do Êxodo, parecendo até que o mundo da fé viria abaixo. Ele pergunta: “Se Moisés não existiu, nem houve Êxodo do Egito, nem conquista militar e sangrenta da Palestina, nem travessia do deserto ao longo de 40 anos, como fica nossa Religião? Tudo não passa de falsificação? E as pesquisas do lugar junto ao Mar Vermelho, por onde os israelitas teriam passado e o lugar do Sinai, apontado como lugar do encontro com Deus?”.

Na verdade, explica dom Dadeus, assim como não cremos em Adão, nem em Abraão, mas no Deus deles, também não cremos em Moisés, mas no Deus dele, e este existe e se revelou de um modo muito misterioso, no passado. “Moisés simboliza a lei divina e a organização do povo. Josué representa a entrada do Povo de Israel na Palestina. Não há dúvida que este povo morou na Palestina, quando foram escritos os livros da Bíblia. Como chegou até lá se traduz por uma epopeia de façanhas mais literárias que históricas. Após mais de mil anos, tentou-se sistematizar a doutrina revelada ao longo dos tempos”, disse.

Por fim, o prelado destaca que quem entende a Sagrada Escritura ao pé da letra, o que em termos exegéticos se chama de fundamentalismo, fica, certamente, abalado com estas propostas, pois confunde fé em Deus e nas suas promessas, com fé na história, com suas narrações. Essas pessoas, conforme o arcebispo, creem mais na apresentação dos fatos que na acolhida de sua mensagem.

“Certamente a Revolução bultmaniana sacudiu os fundamentos da fé ingênua, de muita gente, bem mais que a revolução copernicana, a revolução freudiana e a revolução darwiniana juntas. Mas, apesar de tudo, a fé continua firme e Deus continua sendo amado e adorado”, conclui dom Dadeus.

Deixe seu comentário

Notícias Relacionadas