Artigo: Da beleza participada à Beleza Pura, Absoluta
A beleza por estar profundamente unida ao bem e à verdade, nos impulsiona a amar o que é bom e verdadeiro. Parece, assim, que o pulchrum nos proporciona uma como que facilidade peculiar para amar. O amor é fruto da Beleza; dito em outras palavras a percepção da beleza nos situa em um estado amoroso; o afeto é um atributo não submerso na beleza, mas consequência desta. [1]
É que de fato “a beleza é uma forma de amor, é um título autônomo do amor, enquanto faz ver a bondade ou a verdade das coisas. Não há dúvida de que quando o homem capta o ‘verum’ e o ‘bonum’ sob o aspecto do ‘pulchrum’, lhe é concedida uma facilidade especial de amar. Isto acontece porque a experiência estética e a consideração do ‘pulchrum’, fazem vibrar as mais profundas cordas do ser humano, toca as fibras do amor, como se por uma ‘conaturalidade’, o nelo penetra-se nele e ele no belo, produzindo um tipo de emoção especial: um ‘Oh!’ de encanto e entusiasmo saído do interior da alma. Vem, então, o arrabatamento, o êxtase que derruba as barreiras do egoísmo e deixa a pessoa fora de si”. [2]
Por outro lado isto que nos extasia tem que ter certas qualidade para que realmente nos arrebate; ao belo como transcendental do entre se lhe atribuirá a ‘integritas’, a ‘proportio’ e a ‘claritas’. “Para a beleza se requer o seguinte: primeiro, integridade ou perfeição, pois o inacabado é feio. Também se requer a devida proporção ou harmonia. Por último, precisa-se da claridade; da aí que o que tem nitidez de cor seja chamado belo”. [3] Os entes são belos na medida que sejam e se manifestem íntegros ou perfeitos, proporcionado, e cheios de claridade; por isto se depreende que a beleza é o esplendor da forma sobre as partes proporcionadas da matéria. [4]
Beleza na criação, reflexo de Deus
Uma vez que já conhecemos que é a beleza e a força que está sempre para nos induzir a amar o bom e o verdadeiro nos surge de forma impulsiva e ansiosas a dúvida, mas… onde há coisas belas? Sem embargo, pensando mais reflexivamente percebamos que o interrogante é um tanto supérfluo, pois parece ser mais uma pergunta de cegos do que de videntes … já que é evidente que o homem em contato com o universo se dá conta que nele há seres belos pois “onde o belo, se está privado do ser? E onde pode se encontrar o ser sem a beleza?”. [5]
Percebemos, portanto, que junto a nossa realidade existe a beleza patente nas coisas. “Kant afirmava que havia duas coisas que arrebatavam seus espírito pelo encanto de sua beleza: o céu estrelado fora dele e a lei moral em seu interior”. [6] De fato cada um de nós costuma ter experiências do belo, em cuja contemplação ficamos comprazido.
Justamente “Deus viu que tudo quanto havia feito era muito bom” (Gn. 1, 31), e como bom se assemelha a belo; poderíamos dizer com toda liberdade que Deus viu que tudo quanto havia feito era belo. E é que em verdade esta beleza se faz patente na obra criada pelo Altíssimo, pois Ele, por ser o ‘Ipsum esse subsistens’, está presente em todas as suas criaturas – que são entres por participação – comunicando seu ser e sua beleza. Ademais, também Deus se manifesta em todas as coisas como o agente que está sempre presente em tudo que faz. Assim pois, tendo Deus como essência o próprio ser, é necessário que os seres criado sejam efeito Dele e que Ele esteja presente em todos os entes enquanto causa. [6]
Portanto Deus é causa da beleza das criaturas, mas o é na medida que é causa de seu ser. A medida da participação da beleza está na medida da participação do ser. [7]
Platão, em sua visão idealista do cosmos, opinara algo similar ao Aquinate. O ‘Divino’ mantem que a existência da Beleza nos seres materiais dependeria de uma comunicação existente entre ele entre e aquela Beleza Absoluta, que em seu livro Banquete a chama “divina beleza”. [8] Portanto, para Platão, a beleza será como um reflexo do Hiper Topo Uranos, da absoluta perfeição da Ideia Suma de Bem. Por isso a alma, delirante de beleza, ascende da beleza participada à beleza pura e absoluta. [9]
Por Leonel Mosquera Véliz
Notas
1 RÍOS, E. J. Belleza y Mística en Platón. [en línea] [fecha de consulta: noviembre de 2010]. Disponible en http://www.monografias.com.
2 CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. «Série de Conferências sobre o Pulchrum», Brasil, São Paulo: s.n., 1966 e 1984.
3 S.TH. I, q. 39, a. 8. Traducción personal. “Nam ad pulchritudinem tria requiruntur. Primo quidem, integritas sive perfectio, quae enim diminuta sunt, hoc ipso turpia sunt. Et debita proportio sive consonantia. Et iterum claritas, unde quae habent colorem nitidum, pulchra esse dicuntur”.
4 SAN ALBERTO MAGNO, De Pulchro, edic. Mandonnet, p. 427.
5 PLOTINO, Ennéadas. v. 8, 9
6 LOBATO OP, Abelardo. Ser y Belleza. Editorial Herder, 1965, Barcelona, p. 72.
7 Cfr. LASHERAS PRESAS, Ángel. El pulchrum como trascendental del esse en el comentario al De Devinis Nominibus y en la Summa Theologica de Santo Tomás de Aquino. Profesor guía. Prof. Dr. Ignacio Yarza. Tesis para optar al grado de Doctor en Filosofía (Pontificia Universitas Santæ Crucis, Facultas Philosophiæ, Romæ 2003).
8 PLATÓN. «El Banquete, o del amor», en Obras Completas. Mora, 1969, Madrid, p. 589.
9 RÍOS, E. J. Op. Cit. [en línea] Disponible en http://www.monografias.com.
Deixe seu comentário