Com cerimônia do Domingo de Ramos, Papa abre as celebrações da Semana Santa
Cidade do Vaticano (Domingo, 05-04-2009, Gaudium Press) Era por volta das 9 horas de uma ensolarada manhã romana quando os sinos da Basílica de São Pedro começaram a ressoar, sobrepondo-se a um frágil silêncio de muxoxos abafados e conversas miúdas que dominavam a Praça de São Pedro. Ainda não começava a missa do Domingo de Ramos, mas o som retumbante do badalo de metal ecoando pela Praça já dava uma ideia do que seria a primeira celebração do calendário litúrgico da Semana Santa, a Missa de Ramos.
Apesar do forte frio matinal, o dia era convidativo. O céu claro e sem nuvens, pouco vento e o indefectível coro papal ajudavam a compor essa atmosfera. Aos poucos, a Praça de São Pedro começa a ser inteiramente preenchida por uma massa viva e multicolor de gente, pessoas portando bandeiras e faixas de seus países, fiéis, peregrinos, leigos de inúmeras origens, religiosos de inúmeras ordens.
Para a cerimônia de Ramos, a praça foi dividida em seis principais e grandes blocos para acomodar as pessoas, separados entre si por cercados de metal e onde é possível sentar-se para acompanhar a celebração. É pelo meio desses blocos que, mais tarde, Bento XVI passaria acenando de seu papa-móvel. Os demais espaços da Praça de São Pedro são preenchidos por fiéis que não conseguiram um lugar nessas áreas e, portanto, têm de acompanhar a missa de pé, em lugares distantes, por um dos quatro telões espalhados pela platitude.
Do alto das colunatas da Praça de São Pedro, tem-se uma visão privilegiada do ambiente. É possível distinguir bandeiras da Croácia, Espanha, Alemanha, Grã-Bretanha, Polônia, França, Austrália e Argentina. E, claro, também do Brasil. Muitos trazem com si ramos de palmas – como a multidão que teria recepcionado Jesus montado em um burro em seu retorno a Jerusalém – para receber a benção pontifical. Já não há mais pequenos rumores. Muitos gritam. Quase todos cantam.
Por volta das nove e meia da manhã, quando os sinos já haviam parado de badalar e o frio cedido mais espaço ao calor, a procissão do Domingo de Ramos irrompeu pela lateral esquerda da colunata da Praça de São Pedro, passou pelo flanco central entre os blocos de peregrinos e se encaminhou em direção ao obelisco localizado no meio da praça. A procissão foi se dispondo em círculo ao redor do monumento. Primeiro leigos, depois padres, sacerdotes, bispos e cardeais. Por fim, o Papa, que se posiciona em um pequeno altar na base do obelisco.
Foi ali que Bento XVI presidiu os primeiros momentos da missa: a benção dos ramos e a leitura do Evangelho da Paixão do Senhor. Após esses ritos iniciais, a comitiva papal deixou o obelisco e deslocou em direção à entrada da Basílica de São Pedro, de onde Bento XVI presidiu o restante da cerimônia.
Homilia
Quando se aproximou o momento da comunhão, dezenas de “assistentes” portando pequenas sombrinhas se posicionaram na parte de baixo do altar para acompanhar os padres que entregariam as hóstias consagradas à multidão. O Papa ministrou o sacramento a cardeais e alguns convidados e pessoas que representavam diferentes grupos étnicos e sociais.
Na homilia, o Papa recordou o momento em que Jesus, voltando a Jerusalém de uma peregrinação pascal, é recebido por uma multidão com ramos nas mãos, gritando o seu nome e referindo-se a ele como o “Filho de Deus” e aquele que vem trazer o “Reino de Davi” para a Terra. Assim, o Papa questionou se também as pessoas entendem o que vem a ser o Reino do qual Jesus falou no interrogatório diante de Pilatos.
O Santo Padre chamou a atenção para o fato de que o verdadeiro objetivo dos peregrinos em Jerusalém era o de adorar Deus e que esse deveria ser o objetivo principal de toda peregrinação:
“A verdadeira finalidade da peregrinação deve ser encontrar Deus; adorá-lo, e assim colocar na justa ordem a relação de fundo da nossa vida. Uma grande palavra: ‘Queremos ver Jesus’. Caros amigos, para isso estamos aqui reunidos. Queremos ver Jesus. Com essa finalidade, no ano passado, milhares de jovens foram a Sydney. Certamente, terão tido muitas expectativas para essa peregrinação. Mas o objetivo essencial era este: Queremos ver Jesus”.
Bento XVI ressaltou, ainda, durante sua alocução, a importância do sacrifício e da renúncia para a vida cristã. Para o pontífice, a privação é uma importante maneira de viver como Cristo viveu.
“Não existe uma vida realizada sem sacrifício. Se lanço um olhar retrospectivo sobre a minha vida pessoal, me dou conta de que justamente nos momentos em que eu disse ‘sim’ a uma renúncia, foram esses os grandes e importantes momentos de minha vida”, afirmou o pontífice.
O Papa falou ainda sobre a importância de se tomar uma vida ampla de “catolicidade”, o que, segundo ele, significa viver sobre a “liberta adesão do amor”:
“Quanto mais por amor à grande verdade e a Deus formos capazes de fazer alguma renúncia, maior e mais rica será a vida. Quem quiser reservar a sua vida para si mesmo a perde. Quem doa a sua vida – diariamente nos pequenos gestos, que fazem parte da grande decisão – esse a encontra. Essa é a verdade exigente, mas também profundamente bela e libertadora, na qual queremos passo a passo entrar durante o caminho da Cruz através dos continentes.”
João Paulo II também foi lembrado. Um grupo de fiéis lançou ao ar uma faixa com o nome do papa polonês. A morte do predecessor de Bento XVI fez quatro anos e foi lembrada pela Santa Sé com uma grande missa na última quinta-feira.
Ao final da cerimônia de Ramos, a entrega de uma grande cruz de madeira, por um grupo de jovens australianos a outro de espanhóis, simbolizou a passagem da sede da Jornada Mundial da Juventude de Sidney, que sediou o evento neste ano, para Madri, que o sediará em 2011.
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