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Artigo: A Beleza e o Pôr-do-sol

 

Imaginemos um homem que no fim do dia contempla o sol espargindo seus raios de luz. Lentamente os reflexos do astro rei vão desaparecendo no horizonte, criando no céu uma feeria de cores. E ele, diante de tamanha maravilha, movido por um impulso de admiração exclama: “Oh! Como é belo o pôr-do-sol!”

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Entretanto, este mesmo homem que tão espontaneamente exaltou a beleza do sol, se perguntássemos a ele o que é a beleza, bem poderíamos ouvir a seguinte resposta: “Eu não sei dizer, só sei que é belo, faça esta pergunta aos poetas”.

E então, mesmo diante daquilo que os poetas disseram sobre a beleza não encontraríamos ainda os elementos necessários para a presente reflexão. Eles bem poderiam nos dizer: “É verdade que nós cantamos as maravilhas da natureza e proclamamos que todas as coisas são belas. Agora, dizer por que são belas, isto parece ser papel dos filósofos”.

Com o intuito de obter uma resposta, acabamos por recorrer a alguns filósofos a fim de saber no que consiste propriamente a beleza. Fizemos a eles a mesma pergunta: O que é o belo? O primeiro filósofo interrogado foi Platão. Entretanto, o que ouvimos dele? Ouvimos este dizer que “o Belo é difícil”. (em Hípias Maior).

Nesta sentença se patenteia o primeiro obstáculo do presente artigo, pois sempre se encontrou certa dificuldade em definir o que é o pulchrum. É fácil dizer que algo é belo, porém tal facilidade desaparece ao tentarmos responder à pergunta: Por que é belo?

Entretanto, se existe dificuldade de defini-lo, defender sua importância parece ser uma tarefa mais fácil. JOÃO PAULO II chegou a afirmar que “a beleza salvará o mundo” . Em outro trecho, o mesmo Papa também afirmou que “a beleza é a chave do mistério e apelo ao transcendente: É convite a saborear a vida e a sonhar o futuro. Por isso, a beleza das coisas criadas não pode saciar, e suscita aquela arcana saudade de Deus que um enamorado do belo, como Santo Agostinho, soube interpretar com expressões incomparáveis: ‘Tarde Vos amei, ó beleza antiga e tão nova, tarde Vos amei'”. (JOÃO PAULO II, Carta aos Artistas, 04 de Abril de 1999).

O homem naturalmente procura ver em todas as coisas, aquilo que elas têm de verdadeiro, de bom e de belo. Por isso, cultivar e promover esta aptidão parece ser um instrumento poderoso para a recuperação dos valores transcendentais perdidos no relativismo e no hedonismo que pervadiram nosso tempo. Vejamos mais uma vez o que disse JOÃO PAULO II:

“Nem todos são chamados a ser artistas no sentido específico do termo. Mas, segundo a expressão do Gênesis, todo homem recebeu a tarefa de ser artífice da própria vida: de certa forma, deve fazer dela uma obra de arte, uma obra-prima […]. Um conhecido poeta polonês, Cyprian Norwid, escreveu: “A beleza é para dar entusiasmo ao trabalho, o trabalho para ressurgir”. O tema da beleza é qualificante, ao falar de arte. Esse tema apareceu já, quando sublinhei o olhar de complacência que Deus lançou sobre a criação. Ao pôr em relevo que tudo o que tinha criado era bom, Deus viu também que era belo. A confrontação entre o bom e o belo gera sugestivas reflexões”. (ibidem).

De acordo com PERISSÉ (2007, p. 09) “contra a beleza não há argumentos”. O mesmo autor também afirma que Aristóteles teria dito que sofremos muitas vezes da falta de experiência da beleza e que tal sentimento era definido pelo Estagirita como apeirokalia “A filocália, a arte, a beleza combatem o tédio da vida, decorrência emocional da falta de compreensão do mundo. Ensinam-nos a ver, mais ainda: a desvelar e a contemplar. Outra vez, Rodin: “A Beleza está em toda parte. Não é ela que falta aos nossos olhos, mas nossos olhos que falham ao não percebê-la. Privar-nos da beleza é um enterrar-se vivo. É negar nossa própria capacidade de transcendência e de encontro com o Todo…” (PERISSÉ, 2007, p.09).

FAITANIN (2007, p. 18) afirma que a maior parte da tradição filosófica encalçada sobretudo no ensino platônico e aristotélico, ensina-nos que o homem é passível de apreciar o que é belo mediante os sentidos. Esta mesma tradição adverte-nos que a razão contempla o belo, quando concebe a verdade do ser que considera.

“o estudo da beleza é o (estudo) do próprio ser, porque o belo é considerado como uma propriedade transcendental do ser, ou seja, como uma perfeição inseparável do ser. Ora, o ser é entendido como ato e belo como um grau de intensidade deste ato. Daí que se determina o grau de beleza, segundo a intensidade do ato de ser em algo. Por isso, nesta linha de pensamento, se exige investigar o belo como uma perfeição do ato de ser, porque toda e qualquer perfeição é alguma exigência do ato”. (FAITANIN, 2007, p. 18).

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CARLOS MAGNO citado por WEISS (1969, p. 779) tinha uma perfeita compreensão do que o pulchrum representa: “a religião é geralmente mãe das artes, e o belo é naturalmente irmão do verdadeiro e do bom. Quem uma vez compreende o belo, não cai facilmente em vícios vulgares”.

CHATEAUBRIAND, ao falar do belo na arte cristã, afirma que São Basílio disse que os pintores “conseguem tanto com os seus quadros, como os oradores com a sua eloquência”. Este autor também nos apresenta o seu pensamento sobre a gênese da arte, bem como sua relação com a beleza.

“Conta a Grécia que uma donzela, enxergando a sombra do seu amado sobre um muro, desenhou os contornos desta sombra. Deste modo, no pensar dos antigos, uma paixão volúvel produziu a arte das mais perfeitas ilusões. A escola cristã quis outro mestre: reconhece-o no Artista que, amassando entre as mãos um pouco de barro, proferiu estas palavras: façamos o homem à nossa semelhança. Logo, para nós, o primeiro traço de desenho existiu na ideia eterna de Deus, e a primeira estátua que o mundo viu foi essa famosa argila animada pelo sopro do Criador”. (CHATEAUBRIAND. O Gênio do Cristianismo Volume II p. 08).

Por isso, hoje mais do que nunca, quando muitos artistas dão-lhe pouca importância após cultuá-la durante séculos, cabe a nós ressaltarmos sua importância. De acordo com ERNEST HELLO “O homem que procura conhecer as causas (das coisas) dirige uma prece à luz” (1923, p.173). É de acordo com esta perspectiva que o presente artigo visará abordar a natureza do belo e seus principais desdobramentos.

Inácio Almeida

 

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