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“Ele era um Papa que, pela primeira vez, descia do pedestal”, afirma vaticanista mexicano sobre João Paulo II

Roma (Terça-feira, 05-04-2011, Gaudium Press) A história do pontificado de João Paulo II para diversos jornalistas permanentemente credenciados à Sala de Imprensa da Santa Sé foi também sua história profissional. Aqueles que se ocupam especificamente das notícias do Vaticano e da Igreja Católica são chamados “vaticanistas”.

Entre os correspondentes do Vaticano estão pessoas de toda a parte do mundo, crentes e não crentes, católicos e não católicos. E entre os vaticanistas que acompanharam todo o pontificado de Wojtyla, há Jorge Sandoval, jornalista mexicano e correspondente do jornal “El Sol de Mexico” e da rádio “MSV Noticias” do país. Em vista da beatificação, voltam à tona as recordações e os momentos mais significativos sobre João Paulo II. Como demonstra, nessa entrevista, Sandoval.

Anna Artymiak: Como o senhor reagiu sobre a data da beatificação de João Paulo II? Parece-lhe muito cedo ou muito tarde?

Jorge Sandoval: Parece-me uma coisa da qual se falou muito, de que se freava o processo, fez-se um pouco de polêmica, mas no fim aconteceu o que era lógico que acontecesse. Sinto-me pessoalmente feliz porque tive a possibilidade de conhecer João Paulo II desde quando iniciou seu pontificado. Viajei com ele em sua primeira viagem, em janeiro de 1979, ao México, no voo papal. Aquilo foi importante para mim porque entendi que se tratava de uma pessoa que iria mudar o modo de ser Papa.
Era uma pessoa com um carisma, com um entusiasmo humano com as pessoas que não era comum. Parecia que você estava falando com uma pessoa, entre aspas, normal, isto é, não com um Papa. Isso me tocou. Por isso, com o passar do tempo apreciei sua forma simples. Foi um pontificado muito simples na maneira de aproximar-se das pessoas, o que nunca havia acontecido antes. Agora, um contato a nível de pele como o que ele tinha com as pessoas é normal.
Ocupei-me dele por todo o pontificado, então estou feliz principalmente que o Papa Bento XVI tenha escutado o povo que no funeral de João Paulo II gritava “Santo logo!”, que esta fama de santidade que foi criada enquanto vivo, seja confirmada.

Anna Artymiak: Também em sua opinião João Paulo II é um santo?

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Vaticanista mexicano se emocionou com a despedida do Papa João Paulo II

Jorge Sandoval: Ele agora se tornará beato; se depois será santo, isto eu não sei. Para mim ele era uma pessoa que merecia uma grande admiração. Este modo de tratar as pessoas, esta forma de aproximação das pessoas, este seu carisma, são coisas importantes para um santo, para um beato. Lembro-me das pessoas que não acreditavam, as pessoas ateias que admiravam João Paulo II por esta sua capacidade de falar, de saber chegar até as pessoas. Isto se compreende vendo sua biografia. Antes de ser um Papa, ele foi uma pessoa que trabalhou, que foi atuante, que viveu no mundo fora da Igreja, digamos assim. Ele tinha fama de pessoa admirável. Fama de santidade? Não posso dizer porque não estou dentro das coisas doutrinais. Se todas as pessoas que são admiráveis em vida, por estarem junto às pessoas, cativarem as multidões, se isto é ter uma fama de santidade, então ele a tinha.

Anna Artymiak: Como recorda o dia da eleição de Papa Wojty?a?

Jorge Sandoval: Eu estava em Roma quando morreu Paulo VI, quando elegeram João Paulo I e depois no dia 16 de outubro, quando na Praça São Pedro anunciaram que havia sido eleito este personagem do qual não se entendia bem o nome. Wojtyla. Dizia-se: “Mas quem é?” Pelo menos entre nós não era considerado favorito, alguém de quem se falasse muito. Conhecia-se apenas um pouco e basta. De repente, aparece esta pessoa e nós dizemos: “Quem?”. Há uma famosa história sobre alguém que disse que era um africano, porque não se entendia bem. Depois disso, apareceu no balcão e falou naquele seu italiano não perfeito. Cometeu um erro e brincou com as pessoas, conquistando-as. Depois, na missa de entronização, foi em direção às pessoas tirando a mão do chefe dos cerimoniários que o impedia de aproximar-se. Afastou-o e foi diretamente até as pessoas para tocá-las. Aquilo me fez entender que era um Papa que descia do pedestal. Antes os Papas eram intocáveis. Ele não. Desceu e foi até as pessoas e se fazia tocar. Isto me impressionou, e depois ele o confirmou durante o seu pontificado. Para mim foi pessoalmente uma experiência como jornalista e como ser humano muito importante, ter sido testemunha de um pontificado que muitos especialistas acreditam, em alguns aspectos, ser um pontificado que de algum modo mudou muito a história dos pontificados na Igreja.

Anna Artymiak: No dia 2 de abril de 2005 chegou o momento do adeus. Depois de quase 27 anos, o pontífice morreu. O que se lembra daquela noite?

Jorge Sandoval: Aquela noite de 2 de abril de 2005, em torno das 8 da noite, esperava-se a notícia porque se sabia que ele estava muito mal, praticamente à morte. Chegando em casa, um minuto depois me comunicaram que ele havia morrido. E naquele momento me chamou a rádio do México para confirmar a notícia da morte. Eu estava no pequeno escritório que tenho em casa onde há diversas fotos e também uma foto na qual estou com ele, justamente na primeira viagem ao México, em janeiro de 1979. Nesta foto estou falando com ele em uma entrevista que ele deu a todos os jornalistas. E quando estava falando com a rádio, olhei aquela fotografia e me comovi de uma maneira que não conseguia falar. Mas estava tudo ao vivo. A rádio me dizia: “Não se preocupe, todos entenderão”. Consegui depois de um minuto superar esta grande comoção e comecei a falar. Entendi que João Paulo II não era somente o Papa, tema de minha vida profissional. Tornou-se para mim, no nível pessoal, uma pessoa próxima do ponto de vista humano. Era como se eu tivesse um grande amigo que havia morrido e eu, naquele momento, vendo sua foto, me comovi, quase me envergonho. E me disseram que as pessoas que ouviam a rádio se comoveram também sentindo a minha emoção.

 

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