Artigo: A primeira “maratona”
Sem dúvida, uma das glórias da antiga Grécia foi a batalha de Maratona; gesto heroicio de um punhado de guerreiros gregos decididos a defender a independência de seu país frente à invasão de um massivo exército de “bárbaros” asiáticos. O resultado deste acontecimento deu origem a uma das provas atléticas mais conhecidas no mundo do esporte. Vejamos sua origem.
Era o mês de setembro do ano 490 a.C. e os atenienses viam-se na iminência de ter que enfrentar o poderoso exército persa enviado pelo rei Dario para vingar o apoio que os habitantes da Ática tinham dado, em 499, à revolta das colônias gregas da Jônia (oeste da atual Turquia). Estas desde a segunda metade do século VI pagavam tributo à dinastia aquemênida.
O império persa fundado por Ciro II, o Grande (555-529 a.C.), tinha como forma de governo as satrapias (províncias), que eram administradas por sátrapas. Geralmente esse cargo era exercido por um chefe local designado pelo rei. Entretanto, esse sátrapas às vezes aproveitavam-se do cargo para benefício dos persas e próprio, tratando seus compatriotas de modo tirânico. Com isso surgiu a consciência de que existia uma falta de liberdade. Esse descontentamento foi a causa da sublevação de 499 e que, posteriormente, desencadeou nas duas conhecidas “Guerras Médicas” – pois os gregos chamavam os persas de “medos”.
A situação era perigosa, pois a diferença numérica de militares corria muito a favor dos persas. Eram mais de cem navios, que depois de arrasar a cidade de Erétria – que também tinha participado da revolta jônica – dirigiram-se com o mesmo objetivo para Atenas, desembarcando na baía de Maratona, a uns 40 km da acrópole.
Os atenienses tinham duas opções: esperar a chegada das tropas persas, pondo em risco a própria cidade ou enviar seu exército até Maratona, deixando Atenas desguarnecida. Optaram por esta última. Foram enviados uns dez mil hoplitas, apoiados por outros mil da cidade de Platea, enquanto os persas eram quase trinta mil entre infantaria e cavalaria.
Esta situação fez com que os atenienses mandassem pedir ajuda a Esparta – então a maior potência militar da Grécia – através de um mensageiro corredor chamado Filípides (posteriormente conhecido como Fidípides “o que poupa cavalos”…), pois o terreno era muito acidentado e complicaria a locomoção de qualquer animal. Filípides, numa proeza extraordinária, percorreu praticamente em dois dias a distância de uns 240 km. que separam Atenas de Esparta, passando por caminhos agrestes e difíceis. Chegando à cidade transmitiu às autoridades a petição de seus conterrâneos, mostrando o perigo em que se encontravam e como era necessária a ajuda dos lacedemônios – assim eram chamados os espartanos. Estes responderam que a celebração das festas religiosas em louvor ao deus Apolo impedia que suas tropas prestassem ajuda imediata. Só poderiam enviar seus militares ao fim das comemorações, daí a alguns dias…
Filípides, inconformado com a resposta, voltou imediatamente para Atenas e incluso participou do combate em Maratona!
Depois de alguns dias no cenário da batalha – pois alguns generais achavam que era melhor esperar a chegada dos espartanos – os gregos, através de seus espiões, souberam que a cavalaria persa tinha embarcado durante a noite em direção a Atenas. Foi aí que o general Milcíades convenceu seus colegas que era a oportunidade para atacar.
Ante a formação persa, superior em número, os gregos tiveram que estender seu exército numa frente de mais de um quilômetro, com três fileiras de soldados na parte central e o dobro nas laterais para evitar que suas alas fossem rodeadas. Os hoplitas avançaram contra o inimigo, e chegando há uns 200 metros lançaram-se a correr rapidamente em direção aos persas para evitar a mortífera eficácia dos arqueiros asiáticos.
A pesar de não dispor de sua cavalaria, os persas conseguiram quebrar o centro da formação, mas as alas do exército grego impuseram-se de tal modo que começaram um movimento envolvente em direção ao centro persa. O resultado foi espetacular. Os que não conseguiram chegar até os barcos caíram nas mãos dos hoplitas: mais de seis mil mortos; enquanto que as baixas gregas foram apenas 192…
A história conta que foi o próprio Filípides quem, depois da vitória em Maratona, dirigiu-se até Atenas para dar a notícia; o fez numa tal velocidade que, depois de chegar e exclamar “atenienses vencemos!”, morreu imediatamente de exaustão…
É exatamente em sua memória que nas modernas olimpíadas celebra-se a corrida denominada maratona.
Depois de ler este fato histórico alguém poderia perguntar-se: esta proeza de Filípides tem aplicação para os dias de hoje? Se um pagão fez isso por amor à sua pátria, não faríamos o mesmo por amor à nossa fé?
“Correi de tal maneira que conquisteis o prêmio” (1Cor 9,24). É o Apóstolo que dá a clave; a finalidade é sobrenatural. Uma corrida espiritual, mas com um objetivo real: anunciar a vitória de Cristo no reino de Nossa Senhora. Levar a boa nova a tantas pessoas sedentas das coisas de Deus, é uma façanha maior que a de Filípides; pois ele o fez para salvar seu país, enquanto nós podemos fazê-lo com uma intenção mais sublime, que é a de salvar almas. E qual será a nossa recompensa? A resposta está no Livro dos Provérbios: “O fruto do justo é uma árvore de vida; o que conquista as almas é sábio” (11,30).
Alejandro Javier de Saint Amant
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