“A vida depende, no seu sentido, da cultura edificada sobre valores e princípios éticos e morais”, disse o arcebispo de Belo Horizonte

Belo Horizonte (Sexta-feira, 03-12-2010, Gaudium Press) Em seu artigo desta semana, o arcebispo de Belo Horizonte, Minas Gerais, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, aborda um assunto que vem movimentado a Igreja nos últimos tempos: a descriminalização do aborto. A partir do apelo do Papa Bento XVI e da maciça participação das Igrejas no mundo inteiro na Vigília pela vida nascente, o prelado mapeia o que segundo ele são enfraquecimento dos valores na cultura contemporânea, que vão desembocar na falta de amor à vida da pessoa humana.

Para Dom Walmor, é urgente a superação da indiferença diante do sofrimento alheio e dos ataques à vida

Segundo Dom Walmor, os homens da sociedade contemporânea carecem de um sentido para a vida. Questão que é desafiadora, conforme ele, porque não se vale materialmente em si e acarreta um esgarçamento da cultura que sustenta a vida em todos os seus sentidos. Mas “vida, morte e atividades humanas exigem clareza a respeito do significado que têm. São questões que não se explicam unicamente no âmbito do progresso científico e tecnológico”, afirma o prelado, para quem, sob todos esses anseios da humanidade, está em questão o indagamento a respeito da aventura humana de compreender seu sentido e seu destino.

A resposta por esse sentido deve vir da Igreja, diz Dom Walmor. É ela que tem por missão “recebida de seu mestre e senhor, Jesus Cristo, ajudar o ser humano a descobrir Deus – significado último da existência”. Contudo, esta tarefa é árdua, afirma. “Em meio a tanto apelos, a Igreja sabe que só Deus responde às aspirações mais profundas do coração humano”. Mas, quando o homem não alcança essa meta, sua vida fica sem sentido, destituída de valores. Assim, conforme o arcebispo, a cultura enfraquece e cede lugar à violência e falta de solidariedade. Sem os valores éticos e morais, continua Dom Walmor, “o caos se instala facilmente, comprometendo culturas individuais que, por sua vez, comprometem contextos culturais (…)”.

Dom Walmor reflete que destruir uma cultura pela perda de valores se dá de forma muito mais rápida do que recuperá-la através da obediência e a vivência desses mesmo valores. “Essa tarefa, incluída na missão da Igreja, razão que faz o Papa levantar a voz com uma decisiva convocação, há de ser assumida com urgência por diferentes segmentos da sociedade”, expressa. Neste sentido, segundo o prelado, diante da situação “deplorável” em que se encontra a sociedade, “comprometida pela violência, droga e corrupção, é tarefa da Igreja não se calar; falar, promover e educar”.

Tal conduta, segundo o arcebispo, não pode ser considerada um atentado à liberdade e à autonomia, “conceitos tão caros a sociedade contemporânea’. A liberdade e a autonomia é que “precisam respeitar e obedecer a princípios e valores para que, de fato sejam sustentáculos da vida”. Citando o Documento de Aparecida, Dom Walmor diz que “a vida é presente gratuito de Deus, dom e tarefa que devemos cuidar desde a concepção, em todas as suas etapas, até a morte natural, sem relativismo”. Conforme o arcebispo, as pessoas precisam ser conscientizadas disso.

Adentrando mais diretamente no assunto do aborto e a outros relacionados à sustentação da vida humana, Dom Walmor cita novamente o Documento de Aparecida: “A liberalização e banalização das práticas abortivas são crimes abomináveis, como também a eutanásia, a manipulação genética e embrionária, ensaios médicos contrários à ética, a pena de morte e tantas outras maneiras de atentar contra a dignidade e a vida do ser humano”. Para o prelado, é urgente a superação da indiferença diante do sofrimento alheio e dos ataques à vida.

“A vida depende, na sua sustentabilidade e sentido, da cultura edificada sobe valores e princípios advindos da ética e da moral”, conclui.