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Artigo: Doces e intrépidas

 

Entre a imensa quantidade de insetos que figuram na natureza, uma espécie desperta muito atenção por sua persistente ação na flora: as abelhas.

Pequenas, mas ágeis e laboriosas, elas, abelhas, são de grande utilidade. Ao analisá-las podemos observar alguns benefícios espirituais por elas proporcionados, em analogia com o homem.

As abelhas, voando de flor em flor, as fecundam e despertam nelas o desabrochar. Uma vez carregadas de pólen e néctar vão depositá-los em suas colmeias para alimento das larvas e produção do mel. O mesmo se dá com o apostolado cristão, a Igreja – na pessoa de seus ministros – vai ao encontro dos homens pela pregação, germinando em seus corações as verdades eternas, nutrindo-os com o desejo do sobrenatural. Os conselhos evangélicos voando de alma em alma, as cultivam tornando-as propícias para o reino dos céus.

Avaliando as colmeias, se observa como são ordenadas, constituídas por alvéolos hexagonais que formam os favos utilizados para armazenamento de mel e ninho das larvas recém-nascidas. Analogamente se dá com a alma humana quando se torna morada da Santíssima Trindade pelo batismo, armazém das virtudes cristãs que se devem cultivar. Semelhante à larva alimentada e protegida, que vai desenvolver-se em uma operosa abelha, o cristão bem formado há de constituir-se em um intrépido propagador da fé.

Outro admirável aspecto que pode ser notado nestes insetos é a sua capacidade de resistência diante das dificuldades. Quando algum predador procura atacar suas colmeias se convertem em aguerridos: voando ao encontro do oponente fincam nele seus ferrões, dando assim suas próprias vidas pelas demais, inoculando no inimigo uma parte de seu próprio ser.

Esta atitude bem pode ser comparada à dos mártires católicos, que tendo de escolher entre a fidelidade à fé, com sofrimentos e morte, ou à apostasia, muitas vezes acompanhada de presentes e honrarias, creram firmemente, sem ceder diante dos prazeres ou ameaças. Da mesma maneira como as abelhas deixam seus ferrões na superfície picada, os mártires deixaram os seus “ferrões” na consciência de seus perseguidores, que não foram capazes de compreender como homens e mulheres, muitas vezes jovens, seguiram para a morte com coragem e determinação.

Mas o benefício material mais apreciado pelo homem que estes pequenos seres proporcionam é sem dúvida o mel. Sua doçura foi admirada desde a antiguidade bíblica. Vemos, por exemplo, como Judá – a pedidos de Jacó, seu pai – utilizou este precioso alimento para tentar aplacar a ira do administrador do Egito: “fazei o seguinte: escolhei para bagagem alguns dos melhores produtos desta terra e levai-os como presente a esse homem: um pouco de bálsamo, um pouco de mel, especiarias, resina, terebinto e amêndoas” (Gn 43, 11).

Tal era a atração que esta especiaria exercia nestes remotos tempos, que os escritores sagrados, ao descreverem a terra que Deus prometia a seu povo, narravam-na como uma terra onde corriam o leite e o mel: “O Senhor lhe disse: Eu vi a opressão de meu povo no Egito, ouvi o grito de aflição diante dos opressores e tomei conhecimento de seus sofrimentos. Desci para libertá-los das mãos dos egípcios e fazê-los sair desse país para uma terra boa e espaçosa, terra onde corre leite e mel…” (Êx 3, 7-8).

A Santa Igreja, ao considerar este alimento por sua doçura e riqueza, valeu-se dele para nomear um de seus doutores: São Bernardo, conhecido pela suavidade com que cantou as glórias da Santíssima Virgem é designado como “Doutor Melífluo”.

Ao considerarmos essas analogias, bem podemos concluir como a Igreja Católica sedenta de incutir em seus filhos a vida sobrenatural utiliza para este fim de todos os seres criados, desde os mais simples até os mais complexos, pois toda a obra criada reflete o Criador.

 

Marcelo Rezende Costa

 

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