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Artigo: O terceiro concílio ecumênico em Éfeso e o título ‘Mãe de Deus’ (2ª Parte)

 

De fato, a próspera capital da Ásia menor, situada ao sudoeste da atual Turquia era um evocativo lugar. Já na época de São Paulo Apóstolo, Éfeso destacou-se entre outras cidades por uma excelente receptividade aos apóstolos e uma fervorosa adesão ao Evangelho. Naquela suntuosa cidade, São Paulo exercera o apostolado durante quase três anos com os santos Áquila e Priscila. Lá deixou primeiro São Timóteo e depois o escravo Santo Onésimo como sucessores no bispado efésio. Ali São Paulo escreveu sua primeira epístola aos Coríntios e São João escreveu seu Evangelho e sua primeira carta. Por lá Santo Inácio de Antioquia foi aclamado a caminho das feras que o levariam à glória do Martírio. Em Éfeso, São Justino lecionou a Doutrina Cristã e escreveu as glórias do Redentor em harmonia com o Antigo Testamento no Diálogo com Trifão.

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Fato ainda mais sublime, ainda hoje, venera-se ali a Casa de Nossa Senhora, onde viveu com São João cerca de quinze anos até sua Assunção aos Céus. Assim, a cidade escolhida não poderia ser mais esplêndida, admirável e simbólica.
A gloriosa História de Éfeso não havia terminado. Além deste passado glorioso, seu nome ainda marcaria a História da Igreja com um acontecimento pervadido de piedade, esplendor e grandeza. Lá se daria o terceiro Concílio Ecumênico: O Concílio de Éfeso. Chegada a festa de Pentecostes, os 66 bispos favoráveis a Nestório tardavam em chegar ao Concílio, talvez por pressentirem a derrota. Passados quinze dias de espera, por aclamação do povo impaciente e ainda com plenos poderes do Papa sobre a questão, São Cirilo de Alexandria, entrou em combinação com o legado Papal, o Bispo Arcádio. Assim, iniciava-se em um faustoso cerimonial com 200 bispos de todo orbe católico a primeira sessão do Terceiro Concílio Ecumênico na Igreja de Santa Maria.

Os cronistas da Época descrevem com entusiasmo o esplendoroso cortejo que emoldurou as decisões do concílio. O povo acorreu com tochas para iluminar a magnífica procissão. O discurso da primeira sessão revela a devoção entranhada e fervorosa do Santo Bispo Cirilo Àquela que os Padres da Igreja proclamaram Mãe de Deus.
Logo na primeira sessão, o concílio condenou a doutrina de Nestório, depondo-o da Sé de Constantinopla, além de excomungar e exilá-lo,  porque, infelizmente, permanecia obstinado. Proclamado o titulo de Mãe de Deus a assembléia irrompeu em um aplauso de seis horas [?]. Os Padres conciliares de Éfeso lançaram os fundamentos da Doutrina Católica definindo que a natureza humana concebida por Maria Virgem não subsistia por obra de uma pessoa humana, mas sim, por obra da segunda Pessoa da Santíssima Trindade. A união da segunda Pessoa Divina com a natureza humana se deu no seio virginal de Maria, desde o primeiro instante da encarnação do Verbo. Ora, como toda mãe é mãe de uma pessoa e a pessoa que Maria gerou é a segunda pessoa da Trindade unida à natureza humana, Maria pode e deve ser chamada Theotókos, Mãe de Deus. Não porque tenha gerado a Deus na eternidade, mas porque no tempo gerou o Homem-Deus. As naturezas divina e humana ficaram incólumes, unidas hipostaticamente em uma só pessoa divina. Jesus era inteiramente Deus e Homem.

Desta maneira, um só sujeito, a Pessoa divina do Verbo, era o agente de tudo o que Jesus fazia; Ele ressuscitava os mortos, curava os enfermos, governava a natureza mediante a sua natureza divina e sofria fome, sede, fadiga, os efeitos das intempéries, assim como a ignominiosa morte, mediante a sua natureza humana. Ao mesmo sujeito se podia e devia atribuir tudo o que de humano e divino fazia Jesus, pois a pessoa que tudo sustentava, era uma só: a do Verbo de Deus, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade.

Para celebrar a vitória da ortodoxia em honra da Santíssima Virgem proclamada Mãe de Deus no Concílio de Éfeso, o Papa Sisto III dedicou em 431, a Basílica Liberiana de Santa Maria Maior construída sobre o monte Esquilino pelo Papa Libério, após eminentes milagres. A Doutrina do Concílio foi ratificada pelos sucessores de Pedro e por diversos concílios ecumênicos posteriores. Em 433, João de Antioquia e os bispos da Síria assinaram uma profissão de fé onde reconheciam a maternidade divina de Maria.

Depois do Concílio de Éfeso, invocar Nossa Senhora como Mãe de Deus era mais que um louvor. Neste título da Santíssima Virgem está concernido o autêntico significado da Encarnação do Verbo. São Cirilo afirma que para confessar plenamente a Fé católica é preciso reconhecer Maria como Mãe de Deus. A pedra chamada theotokos rejeitada por Nestório tornava-se em Éfeso a pedra angular da Doutrina Católica. Rezar a Santa Maria, Mãe de Deus, implica em reconhecer em três palavras toda a Fé Cristã.

Do título de Mãe de Deus procedem todas as glórias da Santíssima Virgem; é o fundamento da Mariologia. A maternidade de Maria concedida ao discípulo amado aos pés da Cruz e vivida ocultamente [Sugiro: discretamente] na Casa Maria em Éfeso é o esteio da Doutrina Católica, a glória da Igreja e o conforto do cristão que nas agruras da vida, certo do socorro infalível clama àquela que é Mãe de Deus e Nossa.

 

Marcos Eduardo Melo dos Santos

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BIBLIOGRAFIA
AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. São Paulo: Loyola, 2008.
ARAUTOS DO EVANGELHO. A “Casa de Maria”, em Éfeso, poupada pelas chamas. maio 2009. São Paulo: Assoc. Arautos do Evangelho do Brasil, p. 45.
BETTENCOURT, Estevão. Curso de Patrologia. Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae, 2003.
DENZINGER, H. Compêndio dos Símbolos definições e declarações de Fé e Moral. São Paulo: Loyola; Paulinas, 2007.
LLORCA, Bernardino. História de la Iglesia Católica. t. 1. Madrid: BAC, 2005.
ROPS, Daniel. Igreja dos Tempos Bárbaros. São Paulo: Quadrante. 1991.

 

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