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“Sempre encontro uma saída para atender o que as pessoas necessitam”, diz Frei Jaime João Bettega

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Frei Jaime Bettega entrou para o seminário aos 17 anos e nunca pensou em abandonar este estilo de vida

Caxias do Sul (Quarta-Feira, 08-09-2010, Gaudium Press) Nascido há 50 anos no interior de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul, Frei Jaime Bettega vem destacando-se como um dos líderes religiosos mais carismáticos e mais solicitados da Serra gaúcha. Aprendeu desde cedo o valor do trabalho e do esforço. E foi através dele que despertou para a vocação sacerdotal. O religioso busca despertar o que existe de mais humano nas pessoas e não poupa esforços para fazê-lo. Nesta manhã, atendendo solicitamente à Gaudium Press, forneceu uma entrevista exclusiva e franca sobre sua rotina, seus projetos e como vem conquistando o povo da região.

Gaudium Press – Como foi o seu chamado à vocação sacerdotal?
Desde pequeno sempre gostei de ajudar as pessoas. Cresci com esse sentimento de sempre fazer o bem ao próximo. Quando tinha 14 anos, comecei minha vida como profissional. Aos 16 anos comecei a trabalhar no Jornal Correio Riograndense, de propriedade dos Freis Capuchinhos. Depois passei a atuar na Editora São Miguel, também dos Capuchinhos. Vendo o modo de vida dos Freis, comecei a entender que era isso que eu buscava. Conhecendo mais a fundo a vida de São Francisco de Assis, descobri que minha vocação era franciscana. Entrei para o seminário aos 17 anos e nunca mais pensei em abandonar esse estilo de vida. Amo ser Capuchinho. O ideal de São Francisco é sempre atual.

GP – Como é o seu dia a dia na diocese de Caxias do Sul?
Sou pároco da paróquia Imaculada Conceição de Caxias do sul, que atende 60 mil habitantes, em 32 comunidades. Faz quase 20 anos que estou nesta mesma paróquia, onde fui ordenado sacerdote. Levanto às 5h e dificilmente volto para cama antes das 22h. Faço um programa diário de rádio, escrevo crônicas, atendo às solicitações de bênçãos e conselhos, preparo as aulas que ministro na universidade, e ainda, duas vezes por semana, frequento a academia, pois acredito que a aparência comunica a interioridade e cuidar dela é uma extensão do amor próprio.

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Frei Jaime tenta fazer o caminho inverso e vai ao encontro dos jovens

GP – Quais são os projetos e trabalhos pastorais que o senhor está desenvolvendo?
O atendimento pastoral é amplo. Além das Pastorais, que são muitas, temos a Pastoral do Pão que recolhe alimentos e distribui aos pobres. Por meio dela são distribuídas 500 cestas básicas por mês. Isso acontece há 15 anos e são arrecadadas cinco toneladas de alimentos por mês. É um verdadeiro milagre da multiplicação dos pães. Somente nesta pastoral, há uns 300 líderes atuando. Outro trabalho é com crianças pobres, de zero a seis anos, que não conseguem vaga nas escolinhas gratuitas do município. Fundamos o Projeto Mão Amiga, que auxilia as crianças com 50% da mensalidade. Acompanhamos os pais com um programa ‘Crescendo com os filhos’. Atualmente, são 150 crianças atendidas neste projeto. Nosso sonho é atender as 3.500 crianças sem escolinha de Caxias. Temos ainda uma máquina de fazer fraldas geriátricas, que são distribuídas aos enfermos carentes e um serviço de assessoria jurídica para pessoas que necessitam de orientação jurídica. Outro trabalho é com o recebimento de currículos, que são encaminhados às empresas para recolocar as pessoas no mercado de trabalho. Tudo gratuito.

GP – Por que o senhor é apontado como um dos religiosos mais carismáticos da região?
Além de pároco e de coordenador das obras sociais, sou professor de ética no curso de administração de empresas da Universidade de Caxias do Sul. O contato com os alunos, a participação em eventos, as missas de formatura, tudo isso ajuda para que a pessoa seja reconhecida e procurada. O pessoal diz que eu não sei dizer “não” para ninguém. Dou um jeito de atender aos pedidos. Faço com alegria esse trabalho, que por vezes é intenso demais, mas que vale a pena.

GP – A que o senhor atribuiu o sucesso e a aceitação dos fiéis em relação a sua pessoa e ao seu trabalho pastoral?
Deus capacita as pessoas. e espera da nossa parte um contínuo aprimoramento. Além de filosofia e teologia, fiz administração de empresas, especialização em Gestão de Pessoas e Mestrado em Administração, com enfoque em espiritualidade nas organizações. Aproximei-me do mundo das organizações. Comecei a dar palestra sobre esse tema. Tenho um ritmo muito grande de trabalho. E isso vai aproximando as pessoas da gente. Não sou legalista. Sempre encontro uma saída para atender o que as pessoas necessitam.

GP – Qual o foco de interesse do seu trabalho de evangelização? E o que o senhor faz para alcançá-lo?
O foco é atender o povo espiritualmente. Outra direção é olhar para quem está sofrendo. Não posso falar de Deus se a pessoa está com fome. Me preocupo com a formação e a animação das lideranças, pois temos que multiplicar o número de líderes. Desta forma, o Evangelho chegará às pessoas.

GP – Nos dias de hoje, qual a importância do sacerdote buscar se aproximar mais de seus fiéis, de estar mais acessível a eles?
Muitos lamentam que o povo não está onde o sacerdote está. Eu tento fazer o caminho inverso: vou onde estão os jovens, por exemplo. Estar numa universidade é uma questão de estratégia. Depois, com o tempo, eles começam a frequentar os espaços onde eu estou. Outro trabalho que aproxima as mais diversas pessoas é a prática da caridade. Não é difícil reunir e unir pessoas ao redor de uma causa de promoção humana. A caridade é uma alavanca da fé. Muitas pessoas começam fazendo o bem e depois se encontram com a comunidade de fé.

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“Sou uma pessoa que tem facilidade de acolher e ficar ao lado das pessoas”, diz o frei capuchinho

GP – O que representa para o senhor, atualmente, ser uma pessoa multimídia?
Continuo vivendo a normalidade da vida capuchinha. Sou feliz como sacerdote. Uso os diversos meios para dialogar com públicos diversos. Mas, minha motivação maior é poder encurtar o caminho entre a criatura e Criador.

GP – O senhor tem algum projeto já elaborado que deseja colocar em prática nos próximos anos?
Quero resolver, com a ajuda da equipe que formamos, o problema das 3.500 crianças pobres sem escolinha da cidade de Caxias do Sul. Outro sonho é criar uma pós-graduação em Espiritualidade nas Organizações, para preparar líderes com o objetivo de que levem a espiritualidade (diferente de religiosidade) para dentro das organizações. Pois, a maior parte das horas do dia passamos no ambiente de trabalho.

GP – Como o senhor descreveria a sua relação com o povo da diocese de Caxias do Sul? Como se sente com a acolhida e a preferência dos fiéis?
Sou uma pessoa que tem facilidade de acolher e de ficar lado a lado das pessoas. Sou igual e jamais superior a alguém. Amo esse povo. Estou aqui há quase 20 anos. Conheço a vida. Nasci aqui, também. Quando a gente ama o que faz, o povo passa a ficar mais próximo. Mas, tem muitos sacerdotes que também são próximos do povo. Sempre digo que sou um padre feliz, realizado. Gosto do meu trabalho. Tenho pique de trabalho. Encontro dificuldades, mas nunca desisto

Fernanda Baldini

 

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