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“Uma vida sóbria nos abre a mente e o coração para sermos verdadeiramente humanos”

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Segundo Padre Vitor, a sobriedade é uma virtude de quem é comedido e modesto no uso das coisas

Florianópolis (Terça-feira, 06-07-2010, Gaudium Press) O coordenador arquidiocesano de Pastoral da arquidiocese de Florianópolis (SC), padre Vitor Galdino Feller, faz uma bela reflexão com o tema “As três virtudes anticonsumistas”, artigo no qual aborda como a sobriedade, a solidariedade e a subsidiariedade nos ajudam a sermos verdadeiramente humanos. Essas três virtudes são especialmente consideradas pela fé cristã, na prática dos santos e das pequenas comunidades e no ensinamento da Doutrina Social da Igreja.

Segundo o sacerdote, esses três valores são próprios da civilização ocidental, construída nas bases do pensamento grego e da fé cristã, e perdem hoje espaço para o niilismo trágico que arruína a todos. Ele cita uma frase do monge italiano Enzo Biachi, que escreveu meses atrás: “Prosseguir no caminho do excesso e do desperdício, em dano do próximo e das capacidades vitais do planeta, não é só inconsciente ou vergonhoso, mas é, sobretudo, suicida, porque coloca em risco a sobrevivência da criação, da terra que compartilhamos”.

As religiões e filosofias sempre propuseram a sobriedade, a solidariedade e a subsidiariedade como virtudes e caminhos práticos para a organização da vida pessoal e coletiva. Sem elas, não há futuro para o ser humano e o planeta, reforça o religioso.

A sobriedade, de acordo com Padre Vitor, é a virtude de quem é comedido e modesto no uso das coisas. Ele destaca que a bem-aventurança evangélica da pobreza nos revela que é bom ser pobre, mas que o Evangelho não quer que sejamos miseráveis, não quer que haja famintos e miseráveis; ao contrário, nos propõe vida plena, vida em abundância para todos; portanto, não só para alguns.

“Uma vida sóbria e simples, marcada pela austeridade, disciplina e controle das paixões desordenadas pelo ter e poder mais, nos possibilita ter mais tempo e estar mais abertos às novidades que as relações humanas e os acontecimentos históricos nos trazem”, afirma.

Já a solidariedade, conforme o sacerdote, é o novo nome do amor, é a virtude de quem tem um coração aberto para perceber as necessidades do próximo e para sair-lhe em ajuda. Ressaltando a bem-aventurança da pureza de coração, ele salienta que através dela somos capazes de ver todo o ser humano com os olhos e o coração de Deus, como alguém diante de quem se debruçar no sentido de oferecer um apoio, uma companhia, um consolo.

“Uma vida solidária, experimentada na saída de si em função da ajuda aos mais carentes e na busca de soluções para os graves problemas humanos, expande os desejos e sonhos do coração e promove a humanização das relações”, observa.

A terceira virtude, a subsidiariedade, é a virtude social e política de quem faz acontecer a vida nos meios mais baixos das estruturas e instituições humanas, de quem não espera que as soluções venham de cima. Padre Vitor diz que a bem-aventurança da fome e da sede de justiça nos ensina que ser humano é sonhar, querer e lutar por uma vida em que todos tenham os meios necessários para uma vida digna.

“Uma vida subsidiária faz com que nos vejamos como indivíduos secundários, que têm os outros em maior consideração que a nós mesmos, pessoas que se põem a servir a causas de grande porte. Bem diz o antigo ditado: ‘quem não vive para servir, não serve para viver'”.

Por fim, o sacerdote sublinha que uma vida sóbria, solidária e subsidiária abre-nos a mente e o coração para que floresça em nós o que realmente somos: humanos. E nos lembra ainda que essas três virtudes se relacionam com os três conselhos evangélicos que a tradição da Igreja pede que sejam vividos pelas pessoas consagradas nas ordens, congregações e institutos religiosos: a pobreza, a castidade e a obediência.

“Todos nós podemos viver esses conselhos evangélicos, pois ser pobre é ser livre diante das coisas e bens do mundo; ser casto é ser livre diante das pessoas, até mesmo daquelas a quem nos consagramos no casamento na família e na vida em comunidade; e ser obediente é ser livre diante das próprias idéias e razões, para poder amar e servir a todos”, conclui.

 

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