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“Teologia da Libertação é traidora dos pobres e de sua real dignidade”, diz arcebispo emérito do Rio de Janeiro

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Cardeal emérito Dom Eugenio Salles

Rio de Janeiro (Sexta-feira, 12-02-2010, Gaudium Press) O arcebispo emérito da arquidiocese do Rio de Janeiro, Cardeal Eugenio de Araujo Sales, em artigo publicado esta semana no site da arquidiocese, assinala o “apelo urgente” que o Papa Bento XVI endereçou ao episcopado brasileiro que esteve em visita ad limina ao pontífice no ano passado.

Embora esse apelo feito pelo Papa tenha sido dirigido aos bispos dos Regionais 3 e 4 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) durante a visita, o arcebispo emérito avalia que o apelo “não se limitou aos bispos que estavam presentes”, mas, como sempre nessas visitas, o recado do Papa se dirige ao “episcopado inteiro e a toda a Igreja no Brasil”.

De acordo o texto do cardeal, na visita dos bispos brasileiros, o pontífice recordou as circunstâncias prementes que 25 anos atrás exigiam uma clara orientação da Santa Sé no documento “Libertatis Nuntius” que, em sua primeira linha, afirma que o “Evangelho é a mensagem da liberdade e a força da libertação”.

Para Dom Eugenio Salles, daquele documento a Igreja recebia “grande luz”, mas não faltava “a animosidade dos que queriam receber e obscurecer e difamar essa doutrina”.

Bento XVI afirmou, continua Dom Eugenio Sales, com “palavras claras e sempre muito mais convidativas para uma reflexão serena do que repreensivas”, a gravidade da crise provocada por uma teologia que tinha, inicialmente, “motivos ideais, mas que se entregou a princípios enganadores”, a doutrina chamada de Teologia da Libertação.

“O Papa lembrou a gravidade da crise, provocada, também e essencialmente na Igreja no Brasil, por uma teologia que tinha, em seu início, motivos ideais, mas que se entregou a princípios enganadores. Tais rumos doutrinários da Teologia chamavam-se Teologia da Libertação”, observa Dom Eugenio.

Dessa forma, é tarefa de todos os pastores do episcopado brasileiro de acolher a palavra do Papa e se lembrarem da crise provocada na época que tornou quase “impossível o diálogo e a discussão serena”. Por causa disso, recorda Dom Eugenio Sales, a Igreja no Brasil, em alguns lugares, “sofre consequências dolorosas daqueles desvios”.

Dom Eugenio Sales reforça ainda mais as palavras de Bento XVI [que, por sua vez, citou as palavras de João Paulo II] quando recorda sua observação sobre a Teologia da Libertação. Para Bento XVI, a Teologia da Libertação “negligenciava a regra da Fé da Igreja que provém da unidade que o Espírito Santo estabeleceu entre a tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério vivo”.

“Os três não podem subsistir independentes entre si. Por isso, hoje ainda, as sequelas da Teologia da Libertação se mostram essencialmente ao nível da Eclesiologia, ao nível da vida e da união da Igreja. A Igreja continua enfraquecida, em algumas partes, pela rebelião, divisão, dissenso, ofensa e anarquia. Cria-se assim nas vossas comunidades diocesanas grande sofrimento e grave perda de forças vivas”, diz a mensagem de Bento XVI destacada pelo cardeal em seu artigo.

Infelizmente, ressalta o cardeal, certas Teologias da Libertação caíram em um grave unilateralismo. “Para o Evangelho da libertação, é fundamental a libertação do pecado”, assinala. Muitas Teologias da Libertação se distanciaram do “verdadeiro Evangelho libertador”, diz. “Foram identificadas coisas muito boas com as graves questões sociais, culturais, econômicas e políticas, mas já não mostravam seu real enraizamento no Evangelho, embora vagamente citado, e chegaram até a apelar explicitamente à ‘análise marxista'”.

“Devem-se exigir não só palavras retóricas, mas ações que na prática se comprometem com cada pessoa, com cada comunidade e com a história”, afirmou o cardeal.

Tal compromisso não se enraíza na dignidade que Deus dá ao homem e se apresenta Libertadora e, dessa forma, a tal Teologia é, na realidade, “traidora dos pobres e de sua real dignidade”.

Bento XVI sabe, pondera o prelado, que muitos pontos da Teologia da Libertação estão ultrapassados e sabe também que a Igreja no Brasil sobre ainda “devastadoras sequelas nesse desvio doutrinário”.

Ao final, Dom Eugenio de Araujo Sales afirma ser “quase” um juramento a observação feita por Bento XVI ao conclamar os bispos e agentes de Pastoral de todo o Brasil que, “no âmbito dos entes e comunidades eclesiais, o perdão oferecido e acolhido em nome e por amor da Santíssima Trindade, que adoramos em nossos corações, ponha fim à tribulação da querida Igreja que peregrina nas Terras da Santa Cruz”.

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