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Para diretor dos Muses Vaticanos, Paulo VI deu início à “reaproximação” entre Igreja e artistas

Roma (Segunda, 23-11-2009, Gaudium Press) Na última quarta-feira – antes do encontro do Papa com os artistas, portanto – o professor Antonio Paolucci, diretor dos Muses Vaticanos, conversou com exclusividade a correspondente da Gaudium Press em Roma. Entre outros assuntos, falou do evento na Capela Sistina e comentou a relação da Igreja com a arte e os artistas.

Nascido em Rimini, o professor Antonio Paolucci é – e sempre o fora – um historiador da arte. Começou sua carreira no Departamento de Bens Culturais do Estado Italiano. Depois, passou à superintendência em Veneza, e em Verona foi diretor do “Opificio delle Pietre dure”. Em seguida, Paolucci foi superintendente dos Museus florentinos e diretor-geral dos Bens Culturais da região de Toscana.

De janeiro de 1995 a maio de 1996, esteve à frente no governo italiano da importante pasta dos Bens Culturais. Após o terremoto de 1997, dirigiu, como comissário governamental, as obras de restauração da Basílica de São Francisco em Assis.

Atualmente é presidente do Comitê Científico para as Mostras nas “Scuderie del Quirinale”, vice-presidente do Conselho Superior dos Bens Culturais e consulente do prefeito para os Museus de Florença, além, claro, de diretor dos Museus Vaticanos.

 

Veja a seguir a entrevista com o historiador.

1. Amanhã o Santo Padre encontrará os representantes dos artistas do mundo todo em um lugar muito particular, a Capela Sistina. Qual é o significado disto para o senhor como diretor dos Museus Vaticanos?

É uma experiência emocionante de altíssimo significado simbólico, porque os artistas da Itália e do mundo serão recebidos pelo Santo Padre no lugar, em absoluto, mais significativo do mundo no que diz respeito à História da Arte. Porque aqui estão presentes o ciclo de Michelangelo, os afrescos de Perugino, Botticelli. Portanto, a flor do Renascimento, que acolhe com um abraço os artistas de hoje, que se sentirão, presumo, orgulhosos deste convite, de terem sido chamados. E também emocionados, porque o confronto com Michelangelo obviamente é embaraçoso, estimulante para todos, faz refletir sobre as razões e sobre as raízes da própria arte. E todos estamos muito ansiosos, muito curiosos de ouvir o que tem a dizer este Papa intelectual, este Papa filósofo e teólogo, sobre a arte. Como verá ele o destino da arte contemporânea? O que perguntará aos artistas? O que dirá a eles? Qual será sua opinião sobre qual deve ser o dever dos artistas? Todos estamos muito interessados no que pensa o Papa sobre estes argumentos.

2. Paulo VI, há 45 anos, quando celebrou a missa para os artistas, falou sobre a distância entre a Igreja e a arte. Qual é a relação moderna entre a Igreja e a arte?

É preciso entender uma coisa fundamental. O discurso do Papa Bento XVI aos artistas vem do coração do século XX, é um percurso muito longo o que a Igreja Moderna e os pontificados modernos enfrentaram do século anterior. Grande mérito é do Papa Montini. Foi ele o primeiro a dar início ao diálogo com os artistas, oferecendo-lhes um estatuto de nova amizade, pois ele percebeu, como grande intelectual que era, que a arte moderna havia trilhado um caminho distante da Igreja. A Igreja e a Arte estavam profundamente distantes. Os artistas que estarão na Capela Sistina olharão em torno e entenderão que estarão dentro de uma época em que Botticelli,Perugino,Michelangelo tornavam-se os megafones da Igreja, expressavam os valores e a mensagem da Igreja com uma força extraordinária e com uma qualidade expressiva. E, depois, isso foi lentamente diminuindo até quase desaparecer. Praticamente, desde o início do século XIX, verificou-se o que eu chamo de divórcio entre o mundo da fé, o mundo da Igreja, os valores e a mensagem da Igreja com o mundo da Arte. Paulo VI, que era consciente de tudo isto, tentou desfazer esse divórcio. O fez em uma maneira diversa, nos discursos, assim como também em um gesto simbólico muito importante. Quis, aqui nos Museus Vaticanos, uma seção dedicada à arte religiosa e uma outra à arte moderna. Por exemplo, Van Gogh,Matisse, etc. Ele quis que esses artistas estivessem no mesmo museu onde estavam Michelangelo, Raffaello, etc.

Naturalmente, uma coisa é iniciar a resolução de um problema, outra coisa é resolvê-lo. Paulo VI iniciou um percurso ainda longe de ser terminado. Bento XVI representa um passo a mais deste caminho iniciado por Paulo VI, confirmado por João Paulo II, e agora continuado por este Papa teólogo e filósofo.

3. O que espera das palavras do Santo Padre?

Não tenho ideia do que ele irá dizer. Creio, posso estar certo, de que confirmará. Isto sim. Ele dá muita atenção aos seus predecessores Paulo VI e João Paulo II e à relação que tiveram sua com a arte contemporânea. Paulo VI porque era um intelectual, viveu em Paris, conheceu Cocteau, Picasso, as vanguardas do século XX. Ele pessoalmente conheceu João Paulo II, porque também foi ele mesmo artista, poeta, dramaturgo. Para João Paulo II, os artistas eram seus irmãos. Creio que Bento XVI olhará do ponto de vista do filósofo, do historiador das ideias, do teólogo. Várias facetas diferentes para gerar pensamentos comuns.

 

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