Discurso ao Clero de Roma: Papa ensina como combater a amargura
Cidade do Vaticano (Sexta-feira, 28-02-2020, Gaudium Press) O Papa Francisco cancelou, por motivo de saúde, sua ida até a Basílica de São João de Latrão onde, na quinta-feira, foi realizada uma celebração penitencial com a presença do clero de Roma.
Papa não pôde ir ao encontro com o clero de Roma reunido na Arquibasílica de São João de Latrão. Foto Arquivo Gaudium Press |
Francisco não pode comparecer a este evento religioso, porém, o discurso que ele preparado por ele para a ocasião foi lido pelo Vigário da Diocese de Roma, Cardeal Angelo De Donatis.
No discurso Francisco pede aos sacerdotes de sua Diocese, -a Diocese de Roma-, que procurem um bom pai espiritual que possa acompanha-los em sua caminhada, pois o demônio não quer que partilhem e é daí que se origina o isolamento:
“O demônio não quer que você fale, que diga, que compartilhe. Então, procure um bom pai espiritual, um idoso ‘esperto’ que possa acompanhá-lo. Nunca se isole, nunca!”
Amarguras na vida do sacerdote
No discurso ao clero de sua Diocese, o Bispo de Roma relatou as três causas das “amarguras na vida do sacerdote”, que são: os problemas com a fé, os problemas com o bispo e os problemas entre os sacerdotes.
Francisco explicou que as reflexões que fazia eram fruto da “escuta de alguns seminaristas e sacerdotes de diferentes dioceses italianas”.
Francisco afirmou que “a maior parte dos sacerdotes que conhece estão contentes com sua vida e consideram essas amarguras como parte da vida normal, sem drama”.
Causas da amargura
Sobre a primeira causa de amargura, o Papa falou dos problemas com a fé e recordou que a esperança “não é convencer-se de que as coisas vão melhorar, mas, sobretudo, que tudo o que acontece tem um sentido à luz da Páscoa”.
Mas o Papa advertiu que “para esperar cristãmente é necessário viver uma vida de oração substancial”, porque na oração é onde “se aprende a distinguir entre expectativas e esperanças”.
Expectativa e esperança
O Papa perguntou em seu discurso: “Qual é a diferença entre expectativa e esperança?”.
Para dar uma resposta, ele explicou que “a expectativa nasce quando passamos a vida em salvar-nos a vida: ocupamo-nos com a busca de seguranças, recompensas, progresso… “
“Quando recebemos o que queremos, quase sentimos que nunca morreremos, que sempre será assim! Porque nós somos o ponto de referência.”
“A esperança é algo que nasce no coração quando se decide não se defender mais.
Quando reconheço minhas limitações, e que nem tudo começa e termina comigo, reconheço a importância de confiar. “
Outra causa de amargura: problemas com o Bispo
Sobre a segunda causa de amargura, o Papa falou sobre os problemas com o bispo.
Ele afirmou que “não se pode pretender que a comunhão seja exclusivamente unidirecional: os sacerdotes devem estar em comunhão com o bispo e os bispos em comunhão com os sacerdotes”: “não é um problema de democracia, mas de paternidade”.
Problemas entre sacerdotes
Sobre a terceira causa da amargura, Francisco disse que “nos últimos anos, o presbítero sofreu os golpes de escândalos, financeiros e sexuais” que fizeram com que as relações sejam “mais frias e mais formais”.
Para o Papa, “os compromissos comuns se multiplicam -formação permanente e outros-, mas se participa com um coração menos disposto. Há mais ‘comunidade’, mas menos comunhão.
A pergunta que fazemos a nós mesmos quando encontramos um novo irmão surge silenciosamente:
Quem tenho realmente diante de mim? Posso confiar? “.
Não se isolar
Por causa destes três problemas que causam a amargura, o Pontífice recomendou a nunca se isolar.
Ele recomenda não se isolar da graça, não se isolar com relação à história e não se isolar dos outros, pois, é este isolamento que causa “a incapacidade de estabelecer relações significativas de confiança e de partilha evangélica”.
E afirmou ainda o Papa:
“Se estou isolado, meus problemas parecem únicos e insuperáveis: ninguém pode me entender. E este é um dos pensamentos favoritos do pai da mentira”.
Conselho do Papa
Francisco aconselhou os sacerdotes a “procurar um bom pai espiritual, um idoso ‘esperto’ que possa acompanhá-lo”; porque, caso contrário, “os outros problemas surgem em cascata: do isolamento, de uma comunidade sem comunhão, com certeza surge a competição e não a cooperação; surge o desejo de reconhecimento e não a alegria da santidade compartilhada; então se começa um relacionamento ou para se comparar ou para se apoiar mutuamente”
Oração final para concluir
Para concluir suas palavras, o Papa fez uma oração que resume os ensinamentos que acabava de expor:
“Peçamos ao Senhor para que nos dê a capacidade de reconhecer o que está nos amargurando e assim deixar-nos transformar e ser pessoas reconciliadas que reconciliam, pacíficas que pacificam, cheias de esperança que infundem esperança.
O povo de Deus espera de nós, mestres de espírito, capazes de indicar os poços de água fresca no meio do deserto”.
(JSG)
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