Gaudium news > “Apascenta as minhas ovelhas!”

“Apascenta as minhas ovelhas!”

Redação (Terça-feira, 14-01-2020, Gaudium PressNosso Senhor havia aparecido duas vezes aos Apóstolos, reunidos no Cenáculo: a primeira no dia da Ressurreição, e a segunda no domingo seguinte. Logo depois, os Apóstolos, obedecendo à ordem de Jesus, dirigiram-se à Galileia, onde permaneceram até as vésperas da Ascensão.

Apascenta as minhas ovelhas-FotoRedesSociais.jpg
‘Apascenta meus cordeiros,
apascenta minhas ovelhas’ (Jo 21, 15ss)
Foto Arqquivo Gaudium Press

Sobre brasas havia peixe e pão

Certo dia, São Pedro, acompanhado por seis Apóstolos, foi até às margens do Lago de Genesaré, também chamado Mar de Tiberíades, e disse que ia pescar. Todos o acompanharam e entraram numa barca quando o Sol já desaparecia no horizonte.

Narra São João:

“Naquela noite nada apanharam. Chegada a manhã, Jesus apresentou-Se na praia, mas os discípulos não conheceram que era Ele. Jesus disse-lhes: ‘Rapazes, tendes alguma coisa para comer?’ Responderam-Lhe: ‘Nada.’

“Disse-lhes: ‘Lançai a rede para o lado direito da barca e encontrareis.’ Lançaram a rede e já não a podiam arrastar, por causa da grande quantidade de peixes.

“Então, aquele discípulo a quem Jesus amava disse a Pedro: ‘É o Senhor!’ Simão Pedro, ao ouvir dizer que era o Senhor, cingiu-se com a túnica, porque estava nu, e lançou-se à água. Os outros discípulos, que estavam distantes da terra a uns cem metros, vieram no barco puxando a rede cheia de peixes.

“Logo que saltaram para terra, viram umas brasas acesas, peixe em cima delas, e pão. Jesus disse-lhes: ‘Trazei dois peixes que apanhastes agora!’ Simão Pedro subiu à barca e arrastou a rede para terra, cheia de cento e cinquenta e três grandes peixes. E, sendo tantos, não se rompeu a rede.

“Jesus disse-lhes: ‘Vinde comer!’ Nenhum dos discípulos ousava perguntar-Lhe: ‘Quem és Tu?’, sabendo que era o Senhor. Jesus aproximou-Se, tomou o pão e deu-lhos, fazendo o mesmo com o peixe.

“Foi esta a terceira vez que Jesus Se manifestou aos discípulos depois de ter ressuscitado dos mortos” (Jo 21, 3-14).

São João foi o primeiro a reconhecer Nosso Senhor

É interessante observar que São João, o Apóstolo mais amado, foi o primeiro a reconhecer Nosso Senhor. Pelo convívio sacral com a Santíssima Virgem, ele adquirira o dom de discernimento dos espíritos e progredira enormemente em união de alma com o Redentor.

Quanto à atitude de São Pedro, comenta Monsenhor João Clá:

“Entretanto, o que mais amava, devido ao seu temperamento impetuoso e arrojado, foi o único a lançar-se nas águas. A dor pela falta cometida, o entusiasmo por Jesus, a rede pesadíssima, etc., fizeram-no optar por vias mais rápidas e decididas.

“Porém, por estar usando uma roupa comum dos pescadores daqueles tempos, devido a serem quentes os ares do Lago de Genesaré naquela época do ano, viu-se Pedro na contingência de cingir-se com a túnica, para nadar os cem metros que o separavam de Jesus.

O ‘porque estava nu’ não significa que estivesse de todo despido, mas sim com o sumário traje de pescador.
“Curioso é de se notar que na época de Jesus nadava-se cingido de túnica.”

Alegrias do corpo afins com os júbilos da alma

Assim que desembarcaram, os Apóstolos viram umas brasas sobre as quais havia peixe e pão (Cf. Jo 21, 9).

“Segundo São João Crisóstomo e muitos outros autores, foi intenção do Evangelista fazer notar a evidência do milagre operado por Jesus. Comentam eles a nova maneira de agir sobre a natureza, após a Ressurreição. Antes, o Senhor se aproveitava de matéria existente, agora já não, a realização é ainda mais maravilhosa, ou seja, certamente do nada tirou Jesus as brasas, o
peixe e o pão.”

Como havia sucedido no Cenáculo (cf. Lc 24, 42-43), Jesus comeu com os Apóstolos às margens do Mar de Tiberíades. Qual a explicação para esse fato, uma vez que o corpo ressuscitado não tem necessidade de alimento?

Há uma profunda união entre a alma e o corpo, de tal modo que São Tomás afirma ser a alma a forma do corpo.

Após a ressurreição dos mortos e o Juízo Final, os condenados serão precipitados no Inferno, onde padecerão terrivelmente também em seus corpos: verão cenas espantosas, ouvirão barulhos assustadores, engolirão matérias sólidas asquerosas, beberão líquidos nojentos, sentirão calores e frios terríveis.

E os bem-aventurados irão para o Céu, no qual desfrutarão gáudios estupendos, inclusive em seus sentidos externos.

Afirma Dr. Plinio Corrêa de Oliveira: Alguns estudiosos sustentam que os corpos dos bem-aventurados “terão suas funções fisiológicas comuns, sem contudo – e de uma forma misteriosa – produzir qualquer espécie de podridão.

“Mas, uma vez que o estômago tem prazer em comer, o homem se alimentará de manjares inigualáveis; uma vez que os pulmões têm gáudio em respirar, eles respirarão os ares mais límpidos que jamais sorveram. E assim por diante, nosso corpo terá alegrias imensas, afins com os júbilos da alma imersa na visão beatífica.”

Reparação de São Pedro por suas três negações durante a Paixão

Continua o Evangelista São João:

“Depois de comerem, disse Jesus a Simão Pedro: ‘Simão, filho de João, amas-Me mais do que estes?’ Ele respondeu: ‘Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo.’ Jesus disse-lhe: ‘Apascenta os meus cordeiros.’

“Voltou a perguntar pela segunda vez: ‘Simão, filho de João, amas-Me?’ Ele respondeu: ‘Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo.’ Jesus disse-lhe: ‘Apascenta as minhas ovelhas.’

“Pela terceira vez disse-lhe: ‘Simão, filho de João, amas-Me?’ Pedro ficou triste porque, pela terceira vez, lhe disse: ‘Amas-Me?’, e respondeu-Lhe: ‘Senhor, Tu sabes tudo; Tu sabes que Te amo.’ Jesus disse-lhe: ‘Apascenta as minhas ovelhas'” (Jo 21, 15-17).

Esses versículos “nos mostram a reparação de Pedro junto ao Salvador, por suas três negações durante a Paixão, e mais especialmente o recebimento do poder direto e universal sobre todo o rebanho, das mãos de quem o perdoa, conforme o define o Concílio Vaticano I:

“Só a Simão Pedro conferiu Jesus, depois de sua Ressurreição, a jurisdição de sumo pastor e reitor de todo o seu rebanho, ao dizer:

‘Apascenta meus cordeiros, apascenta minhas ovelhas’ (Jo 21, 15ss).”

Peçamos a São João Evangelista que nos obtenha, por intercessão da Santíssima Virgem, a graça de atingirmos a plenitude da união de alma com Nosso Senhor.

Por Paulo Francisco Martos
(in “Noções de História Sagrada -222)

……………………………………………………………………………………..

1- CLÁ DIAS, João Scognamiglio. EP. O inédito sobre os Evangelhos. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana; São Paulo: Instituto Lumen Sapientiae, 2013, v. V, p. 302-303.

2- Cf. Suma contra os gentios. Livro IV, cap. 79.

3- CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. E seremos repletos de grandeza…In revista Dr. Plinio, São Paulo. Ano V, n. 49 (abril 2002), p. 16.

4- DENZINGER, n. 1822.

5- CLÁ DIAS, op. cit., v. V, p. 307.

 

 

Deixe seu comentário

Notícias Relacionadas