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A honra de carregar a Cruz do Cordeiro de Deus

Redação (Terça-feira, 19-11-2019, Gaudium Press) Subindo o caminho rumo ao Calvário, carregando a Cruz sobre os ombros, o Redentor sentia tais dores e cansaço que caiu por três vezes. Então, os algozes “pegaram um certo Simão, de Cirene, que voltava do campo, e mandaram-no carregar a Cruz atrás de Jesus” (Lc 23, 26).

A honra de carregar a Cruz do Cordeiro de Deus-Foto Arquivo Gaudium Press.jpg

Um olhar pleno de afeto

Sintetizamos a seguir os comentários feitos por Dr. Plinio Corrêa de Oliveira.

Devemos imaginar o Cireneu como um homem miúdo, pobretão, que andava despreocupadamente, pensando nas pequenas coisas da vidinha dele.

De repente deparou-se com uma turbamulta gritando: “Mata! Crucifica!” E, ao ouvir uns gemidos, pensou: “Que voz harmoniosa, parece uma música! Que contraste com as vozes horrorosas desses indivíduos que gritam contra ele; que gente má! Estou com vontade de tomar partido e de ajudar esse homem, o qual geme de um modo tão celeste! Quem será esse homem? “

Em certo momento ele vê um Homem de trinta e três anos com os longos cabelos desalinhados, gotejando sangue, o rosto coberto de contusões que o tornavam azul num ponto e noutro, com o nariz naturalmente arqueado, quebrado por uma pancada brutal, com a cabeça coroada de espinhos, com uma Cruz pesadíssima às costas e que Ele arrastava penosamente.

Simão ficou horrorizado e perguntou-se: “Mas na vida, há tanta dor assim? Nunca pensei que isso pudesse acontecer a alguém, e de repente não pode suceder a mim?”

O demônio sussurra: “Fuja! Fuja!” Mas um Anjo diz: “Fique aqui, tem alguma coisa para você! ” Um dos soldados romanos viu-o nessa indecisão e lhe ordenou brutalmente:

– Pegue a ponta da cruz!

Os romanos dominavam a Terra Santa e era preciso obedecê-los. Para evitar maiores complicações, Simão Cireneu decide carregar a Cruz.

Jesus, então, olha para ele. E Simão percebe que aquele olhar o penetrou completamente. O Cireneu era um homem casado, possuía filhos, alguns deles pequeninos, teve bons pais e relações de família comuns, como havia naquele tempo.

Mas ele se sente objeto de um olhar como nunca ninguém o olhou assim.

Ele sentia que esse olhar lhe penetrava no fundo da alma, e era de Alguém que o conhecia antes mesmo de ele nascer, sabia quem era e quem havia de ser.

Um olhar extraordinário, que o envolvia de um afeto como nunca ninguém tinha tido. Ele se sentiu compreendido nas suas peculiaridades e percebeu que aquele olhar conhecia a sua vida inteira, todas as suas dores, e que tinha pena dele.

Uma bondade envolvente dedilha a sua alma

O Cireneu, tendo tomado a Cruz, o Sangue quente que escorria lhe tocou nas mãos, e ele sentia-se meio envolvido naquela tragédia, cada vez mais atraído por ela.

Mas o medo procede por solavancos e, em determinado momento, ele
disse para o romano:
– Eu não quero continuar!
– Se não carregar, apanha!

Ele, então, mal-humorado toma a Cruz e prossegue. E um diálogo mudo se estabelece entre o Homem-Deus e o Cireneu. O Redentor dizia a ele:

– Meu filho, é por você que Eu sofro. Você Me vê no auge do abandono, da desgraça, no último ponto do desprezo dos homens, mas olhe para Mim, note que misteriosa grandeza há em Mim. Que bondade envolvente, a qual dedilha a sua alma como um bom médico toma uma chaga para nela pôr um unguento.

Você não percebe que está sofrendo fisicamente com o peso da minha Cruz, mas que a sua alma está sentindo uma leveza como nunca sentiu?

Não está percebendo que um horizonte novo se põe para você?

Isso deu forças ao Cireneu para que ajudasse Nosso Senhor a carregar a Cruz até o cume do Calvário.

Os carrascos disseram a Jesus:
– Põe a cruz no solo!

Ele, humilde e bondosamente, colocou a Cruz no chão e ao Cireneu que O ajudava fitou com um olhar de reconhecimento. Foi o último olhar que Ele deu para Simão. O Cireneu percebeu que os romanos já não estavam pensando nele e afastou-se.

Nossa Senhora lhe disse: “Meu filho!”

Vendo ali um grupo de mulheres, das quais uma exercia sobre ele uma atração parecida com a produzida por aquele Homem, o Cireneu perguntou:

– Quem é aquela?

– É a Mãe d’Ele – responderam.

– A mãe dele? Mas isso para mim vale mais que uma rainha, uma imperatriz, mais do que todo o mundo. Que honra ser mãe desse homem inocente, pleno de sabedoria!

Logo após a morte de Jesus, o céu escureceu, a terra tremeu, sepulturas se abriram e delas saíram justos do Antigo Testamento que causaram pânico nos maus.

O Cireneu quis falar com aquela Senhora, mas não ousou, tal a pureza que via naquela Dama. Tiraram da Cruz o Corpo sagrado de Jesus, ungiram-No sobre o colo d’Ela e organizou-se um cortejo para levá-Lo à sepultura. Junto a Ela estavam São João Evangelista, as santas mulheres, Nicodemos, José de Arimateia.

Simão não teve coragem de acompanhá-los, mas quando o cortejo se aproximou aquela Senhora pousou sobre ele um olhar de bondade e lhe disse apenas duas palavras: “Meu filho!”

“Ganhei o dia – pensou ele -, ganhei a vida, estou perdoado, vou para casa. “

Em sua residência, o primeiro cuidado que ele teve foi de trocar de túnica, pegar a usada e osculá-la com reverência; era o seu primeiro ato de adoração. Ele terá pensado:

“Esse Homem é Deus.”

Foi o seu primeiro ato de Fé, de adoração.

Dobrou a túnica considerando-a o maior tesouro do mundo, osculou as manchas de Sangue como se fossem a coisa mais preciosa que há na Terra – e era mesmo -, guardou-a num lugar onde ninguém podia mexer; pôs outra túnica e sentou-se do lado de fora do jardim.

De repente, percebeu que aquele cortejo estava se dispersando.

O Cireneu foi atrás deles e viu a casa para onde se dirigiam.

Abriram a porta e, pouco antes de entrar, aquela Senhora olhou para trás e, do fundo de sua dor, deu-lhe um sorriso machucado, mas florido. Ele entendeu, era um convite.

O Cireneu começou a frequentar os locais onde os Apóstolos se reuniam e tudo leva a crer que se santificou, talvez tenha morrido mártir.

Ele teve a honra, a vocação única de, sozinho, carregar a Cruz do Cordeiro de Deus.

Que Nossa Senhora nos conceda a graça de levarmos nossa cruz com ânimo e alegria, querendo ardentemente a glorificação da Santa Igreja, tão golpeada pelas infâmias que contra ela se cometem.

Por Paulo Francisco Martos

(in “Noções de História Sagrada” – 216)

 

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1- Cf. CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Provações e glórias do Cireneu. In revista Dr. Plinio, São Paulo. Ano XX, n. 229 (abril 2017), p. 24-30.

 

 

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