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O Emmanuel, Deus conosco

Redação (Terça-feira, 30-04-2019, Gaudium Press) Ao receber a Eucaristia na Sagrada Comunhão, pode-se dizer que Nosso Senhor passa a estar “em nós”. E ao considerar a Eucaristia reservada no sacrário ou exposta no ostensório, com propriedade se conclui que Ele está “conosco”.

Em ambos os casos, se constata Sua presença e Sua proximidade; Que amável, que grandiosa, que divina companhia!

Deus é eminentemente comunicativo e sociável; o atesta toda a obra da criação e a relação privilegiada que quis ter com o homem, a quem criou a Sua imagem e semelhança colocando nele um instinto muito arraigado que é o da sociabilidade; instinto mais dinâmico que o próprio instinto de conservação que tão naturalmente reage de imediato ante qualquer perigo.

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Ao ver ao homem recém-criado, feito do barro da terra, Deus sentenciou: “Não é bom que o homem esteja sozinho” (Gn. 2, 18) e tirou de sua costela a mulher, para lhe fazer companhia.

São Tomás de Aquino ensina que há três situações precisas na qual o instinto social é coibido: o caso dos dementes, que sem culpa não raciocinam; dos religiosos de clausura que se isolam voluntariamente por um ideal superior, e dos prisioneiros, os privados de liberdade. São exceções. O normal é relacionar-se com os demais!

O instinto de sociabilidade se sacia em plenitude, não por saciedade mas por ânsias de mais e mais, junto ao Santíssimo Sacramento. Porque se trata do comércio que os homens têm com seu Criador, seu Salvador, seu modelo perfeito e seu amigo fiel por excelência.

Por isso, a proximidade ao Santíssimo é altamente ordenativa. Com quanta propriedade a Igreja manda santificar o Dia do Senhor participando da Eucaristia. Começando a semana relacionando-se com Deus na Missa e, eventualmente, com a recepção da comunhão, o fiel se dispõem da melhor maneira possível para as batalhas do resto da semana. Como privar-se do Dies Domini e deixar de celebrar ao Cristo Ressuscitado presente no Santíssimo Sacramento do Altar?

Entretanto, que desolação à vista desse dever não cumprido em tantos casos! E quantos dos que não se beneficiam desse estímulo fortificante, aos poucos se queixam dos dissabores de cada dia e até se indispõem contra um Deus providente. Dão as costas ao criador subestimando as criaturas, à sua própria pessoa, à sua “pessoinha”… É que o que começa mal, forçosamente termina mal.

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O Magistério eclesiástico é riquíssimo em ensinamentos sobre a Eucaristia, e de quão necessário é seu culto e benéfica sua companhia. Desde os tempos apostólicos até nossos dias, Nosso Senhor Jesus Cristo oferece, por meio da Igreja que é seu Corpo Místico, esse potente viático para o caminho que nos conduz ao céu: Seu Corpo e Seu Sangue.

Uma encíclica relativamente recente -e caída um tanto no esquecimento- é a “Mysterium Fidei” de Paulo VI, publicada em 1965, justo depois do Concílio Vaticano II. Sua leitura é muito instrutiva e recomendável. Não diz propriamente coisas novas, mas apenas recorda a doutrina tradicional, para enfrentar a mentalidade contemporânea que coloca em questão as verdades da Fé.

No numeral 8 intitulado “Exortação para promover o culto eucarístico” se lê: “(…) Todos sabem que a divina Eucaristia confere ao povo cristão uma dignidade incomparável. E que não somente enquanto se oferece o Sacrifício e se realiza o Sacramento, mas também depois, enquanto a Eucaristia é conservada nas igrejas e oratórios, Cristo é verdadeiramente o Emmanuel, quer dizer, Deus conosco. Porque dia e noite está no meio de nós, habita conosco cheio de graça e verdade; ordena os costumes, alimenta as virtudes, consola os aflitos, fortalece os débeis, incita a sua imitação a todos os que a Ele se aproximam, de modo que com seu exemplo aprendam a ser mansos e humildes de coração e a buscar não as coisas próprias, mas as de Deus (…)”.

Que verdade consoladora: a proximidade da Eucaristia confere uma “dignidade incomparável”. Quantos sonham, e até deliram, em ser importantes, ter prestígio, mando e influência…! Esses “nadas”, comparados ao que se esvaziou por trás das aparências de um humilde pão encerrado em um sacrário, são, pois simplesmente, “nadas”, não mais que isso. Desperdício ou lixo, diria São Paulo.

À luz do ensinamento da Encíclica, com a Eucaristia “ordenemos nossos costumes, alimentemos as virtudes, sejamos consolados e fortalecidos”.

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Isto que nos ensina a Igreja é o que, desde o Sacramento, Nosso Senhor implora em um constante grito silencioso e dolorido porque se deixa tão sozinho.

“Havendo amado aos seus, o Senhor os amou até o extremo” (Jo 13, 1)… Antes da última ceia daquela Quinta-feira Santa, Nosso Senhor declarou aos seus apóstolos “com quantas ânsias quis celebrar esta Páscoa com vocês” (Lc 22, 15). E nos deixou seu Corpo e seu Sangue, quer dizer, sua própria Pessoa.

Já se pensou no tamanho da ferida aberta em seu sagrado Coração por tanta falta de correspondência de nossa parte?

A indiferença dos fiéis em relação ao ministério eucarístico tenta transformar ao amável Emmanuel em um distante “deus sem nós”… Em vão.

Por Padre Rafael Ibarguren EP – Assistente Eclesiástico das Obras Eucarísticas da Igreja

Traduzido por Emílio Portugal Coutinho

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