Semana Santa: A melhor porta é sempre a mais estreita
A alma que diante da cruz não foge, senão que se aproxima para beijá-la, esta sim possui a característica das almas eleitas.
Redação (31/03/2021 11:16, Gaudium Press) O mundo de hoje está cada vez menos afeito ao sofrimento, como também o compreende sempre menos. Foge-se dele o quanto se pode e, quando irrompe em nossa vida, é muitas vezes considerado uma injustiça.
Esquecemos, com efeito, que a existência nesta terra – chamada por São Bernardo de “vale de lágrimas” – está cheia de lutas e, embora comporte alegrias, nos traz muitas aflições.
É preciso reconhecer que a vida do ímpio sempre é mais fácil e agradável. Julgando não ter de responder a um Juiz que lhe cobrará o cumprimento da Lei Moral, ele goza sem freios dos prazeres que este mundo oferece, raramente legítimos e quantas vezes perversos e criminosos.
Em contrapartida, o ímpio não conhece paz: vive febricitado, à procura ilimitada de mais deleites, sempre maiores, melhores e mais intensos. Ele está constantemente agitado, na aflição de vir a perder o que ganhou, e preocupado em resguardar-se da mentira e da traição, que compõem seu ambiente próprio. Em algum canto obscuro de sua má consciência é atormentado pelo fantasma da lei, da polícia e da prisão.
O justo, por sua vez, vive no mesmo mundo, nas mesmas condições e dificuldades, e sob a mesma lei. Além de ter de suportar aquela parte de sofrimento que todo homem enfrenta, bem como as privações e restrições que sua retidão lhe impõe, ele é frequentemente perseguido, combatido e incompreendido pelos ímpios e até pelos seus.
Ocasionalmente, poderá receber, nesta terra, algum módico prêmio pelo bem praticado, mas esta não é a regra. Entretanto, ele vive em paz, pois tem a consciência tranquila, e no entardecer de sua vida entrega sua alma com serenidade. Com efeito, o juízo de Deus não constitui para ele uma perspectiva aterradora.
No fim, morrem igualmente o justo e o injusto, o santo e o ímpio… Jovens e idosos, pobres e ricos, fracos e poderosos, todos nos encontramos do outro lado. Nossa vida é um enigma que só se resolve depois da morte; a grande diferença é o destino que se lhe segue.
Jesus comprou por um preço muito alto nossa salvação, e dela nos beneficiamos desde que sigamos Seu exemplo. Contudo, uma vez resgatados pelo nosso Salvador, não pertencemos mais a nós mesmos, mas a Ele. Tendo havido a Redenção, é em função dela que seremos julgados.
A Cruz é, para Cristo, o trono do qual Ele reina sobre o mundo, e do qual julgará a humanidade quando voltar. Dali, Ele contempla a conversão do Bom Ladrão e constata a impenitência do Mau Ladrão.
Assim, diante do Crucificado, só se abrem dois caminhos, pois seremos colocados à direita ou à esquerda: entre a justiça e a misericórdia não há terceira posição, apesar das racionalizações oferecidas pelo relativismo vigente. Misericórdia para quem aceita as vias de Deus ou, tendo-as abandonado, para elas retorna, e Justiça para quem as rejeita. Por isso disse Jesus que a porta do Céu é estreita…
(in “Revista Arautos do Evangelho”, abril, 2019)
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