A Memória é uma dimensão da nossa fé, recorda pregador do retiro do Papa
Cidade do Vaticano (Quarta-feira, 13-03-2019, Gaudium Press) “O mundo está assolado por uma ideologia do presente”. O presente não é mais “o lento êxito da progressão do passado, não deixa mais entrever um esboço do futuro”.
Foi a partir desta perspectiva traçada por um filósofo francês contemporâneo que o monge beneditino Bernardo Francesco Maria Gianni propôs sua meditação da tarde de ontem no Retiro da Quaresma que está sendo realizado para o Papa Francisco e seus auxiliares da Cúria Romana em Ariccia, uma localidade próxima de Roma.
Criar uma memória é cansativo
O monge beneditino pregador do retiro do Papa acata um diagnóstico “relativo a uma verdadeira ditadura do incerto presente” que é a confirmação de uma “verdadeira patologia do homem contemporâneo”, “desmantelado por um pragmatismo tecnológico e dominante”.
Para o abade de São Miniato, nesta hegemonia do presente, é “cansativo criar uma memória”: “É difícil recordar, ou seja, reconduzir ao coração, um coração finalmente atento e agradecido, os eventos do passado”.
O cansaço da memória, sublinha, é o “cansaço de uma perseverança, é o cansaço da perseverança em permanecer no tempo, na História”.
O abade indica o caminho da memória como o caminha que leva para o futuro.
Memória é uma dimensão da Fé
O abade recorda em particular o que o Papa Francisco escreve na Exortação Evangelium Gaudium:
“A memória é uma dimensão da nossa fé, que, por analogia com a memória de Israel, poderíamos chamar ‘deuteronómica’.
Jesus deixa-nos a Eucaristia como memória quotidiana da Igreja, que nos introduz cada vez mais na Páscoa (cf. Lc 22, 19). A alegria evangelizadora refulge sempre sobre o horizonte da memória agradecida: é uma graça que precisamos de pedir”.
No nosso testemunho eclesial, existe uma memória confiável ?
A memória, explica o monge beneditino, nos apresenta uma verdadeira “multidão de testemunhas”. Entre elas, há “algumas pessoas que marcaram de modo especial o germinar da nossa alegria de crentes”:
E então a Igreja e, no meu pequeno caso, o mosteiro ao qual pertenço, são lugares para a cidade nos quais percebe-se a possibilidade, principalmente para as novas gerações, de restabelecer o passado, presente e futuro em novos horizontes de esperança; em outras palavras, as nossas igrejas sabem ser espaços nos quais quem entra percebe a vivacidade, a vitalidade da vivência de uma vida arraigada na memória da Páscoa do Senhor Jesus.
Jovens e beleza da memória confiável
O abade propôs uma pergunta crucial:
será que os jovens percebem “no nosso testemunho eclesial, uma memória confiável, que inspire um futuro do mesmo modo confiável?”
Para o abade beneditino o caminho a ser tomado é o que mostra a beleza da memória:
Vencendo o pessimismo, encaminhados para a esperança procuramos sempre novos caminhos de fidelidade ao Senhor, enriquecidos pela linfa que nos chega da tradição, mas sem medo.
Devemos mostrar – dizia São João Paulo II – aos homens a beleza da memória, a força que nos vem do Espírito e que nos faz testemunhas porque somos filhos de testemunhas, nos faz provar maravilhas que o Espírito espalhou na História.
Quanto é importante, acrescenta o abade beneditino, que nas comunidades eclesiais os jovens “sintam uma tradição que os encaminha à vida, com essas belíssimas perspectivas nas quais não estamos mais sozinhos”.
Páscoa do Senhor: o único e verdadeiro evento
Hoje, recorda o abade, “qualquer fato que aconteça ou qualquer manifestação é um evento”. Mas nesta perspectiva, adverte, perde-se de vista o que seja um verdadeiro Evento:
Voltar à grande experiência da traditio, vivificada por uma memória viva e criativa e principalmente importantíssima experiência para nós, diria irrenunciável, fonte e ápice da nossa vida que é a liturgia e de modo particular a Eucaristia, deveria nos deixar desconfiados do uso excessivo da palavra evento, porque para nós, de fato, o único evento é realmente a Páscoa do Senhor Jesus.
Conselho, pedido, Oração
O abade Bernardo conclui sua meditação com um pensamento que é um conselho e um pedido:
Que este nosso exercício cotidiano de memória através da escuta da Palavra de Deus, a celebração litúrgica, a liturgia das horas, torne a nossa existência officium laudis, para que o nosso testemunho realmente volte a unir o homem e a mulher do nosso tempo em uma nova aliança com o presente que Deus nos doa e assim conduzir toda a humanidade sem medo, sem nostalgias e sem hesitações para aquele futuro que o Senhor prepara para nós. (JSG)
(Da Redação Gaudium Press, com informações Vatican News)
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