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Não se deve dar tempo ao tempo, mas sim à eternidade

O chamado à conversão e o anúncio do Reino nos colocam na perspectiva de um “tempo abreviado” que deve ser vivido em função da eternidade.

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 Redação (21/01/2024 14:53, Gaudium Press) Tempo Comum significa tempo de luta, de esforço no cumprimento do dever, de abnegação, de arrancar as nossas vaidades; medidas fundamentais para a formação do caráter. Não é por acaso que neste 3º Domingo ouvimos o Divino Mestre declarar: “O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo”.

Que tempo é este? Qual é o tempo que estamos vivendo? Avançam sem interrupção os ponteiros do relógio, sucedem-se os segundos, os minutos vão se escoando. A nossa vida se pauta pela expectativa dos instantes posteriores e do dia de amanhã… Que mensagem nos traz esta Liturgia ao falar da criatura tempo, enquanto nos convida a entrar no Reino de Deus?

O solene anúncio do Reino: “Convertei-vos!”

“Depois que João Batista foi preso, Jesus foi para a Galileia, pregando o Evangelho de Deus e dizendo: O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho!” (Mc 1,14-15)

Vinha o Divino Mestre exercendo seu ministério de modo discreto, em concomitância com os derradeiros meses da pregação do Precursor. De acordo com o relato do Evangelista São João ― objeto da consideração da Liturgia do domingo anterior (cf. Jo 1,35-42) ―, nesse período Cristo encontrou aqueles que posteriormente passariam a integrar o número dos Doze, ao ser por Ele chamados de maneira definitiva, como refere São Marcos nos próximos versículos.

A notícia da prisão de São João Batista constituiu o sinal esperado por Jesus de que chegara a hora determinada pelo Pai para dar início à sua vida pública, abrir as comportas da graça e acentuar o tom de sua voz, predispondo as almas para seu apostolado. “Uma vez entregue João” ― comenta São Jerônimo ― “logo Ele mesmo começa a pregar. Com a Lei em declínio nasce, em consequência, o Evangelho”.[1] Daí em diante nenhuma outra preocupação O detém, a não ser a de cumprir a missão redentora que Lhe fora confiada e mostrar o caminho da salvação. Qual é este caminho?

Em virtude da união hipostática, Nosso Senhor Jesus Cristo é Deus e Homem verdadeiro; há n’Ele uma junção misteriosa entre as duas naturezas, na Pessoa do Verbo, que nossa inteligência jamais compreenderia sem um dom divino: a fé, na Terra, e a visão beatífica, na eternidade. Enquanto Homem, Ele dirá de Si mesmo: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6). Assim, o pedido de Davi, repetido no Salmo Responsorial ― “Mostrai-me, ó Senhor, vossos caminhos, vossa verdade me oriente e me conduza!” ―, torna-se n’Ele plenamente realizado. Ao formular este anseio faltava ao rei-profeta a ideia exata, como temos hoje, de qual era este Caminho. A nós que O conhecemos, é, pois, indispensável uma conversão.

O chamado à conversão e a perspectiva da eternidade

Converter-se significa mudar de vida, tomar um rumo diferente do que vinha sendo seguido, tal como fizeram os ninivitas ante a pregação de Jonas. Converter-se significa sair de uma situação materialista, naturalista e humana, para assumir uma postura angélica, sobrenatural e divina; esquecer os problemas banais para fixar-se numa perspectiva nova, não mais a do tempo, mas a da eternidade, isto é, a do Reino de Deus. A quem de nós foi revelado o momento da morte? Nem sequer alguém muito jovem sabe se durará longos anos…

Quando recebemos o Batismo, passamos da condição de puras criaturas humanas à de filhos de Deus. No instante em que as águas batismais caíram sobre nossas cabeças, todos os pecados que pudéssemos haver cometido, se fomos batizados de- pois de adultos, foram perdoados ― inclusive os piores crimes ― e a nossa alma foi revestida de uma branca túnica. É neste estado que devemos mantê-la durante a vida inteira; e se vier a acontecer que um pedaço desta veste da inocência fique preso numa cerca ou seja ela manchada pela lama, basta um exame de consciência coroado por um pedido de perdão e a absolvição sacramental para que seja restaurada. O importante é conservá-la sempre alva, porque a qualquer hora ― até mesmo no dia de hoje! ― podemos ser chamados a prestar contas e, sem esta prerrogativa, não seremos aceitos no Reino de Deus.

Eis o que a Liturgia recorda com as palavras: “O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo!”

Extraído, com adaptações, de: CLÁ DIAS, João Scognamiglio. O inédito sobre os Evangelhos: comentários aos Evangelhos dominicais. Città del Vaticano-São Paulo: LEV-Instituto Lumen Sapientiæ, 2014, v. 4, p. 44-57.


[1] JERÔNIMO. Comentario a Mateo. L. I (1,1-10,42), c. 4, n. 3. In: Obras Completas. Comentario a Mateo y otros escritos. Madrid: BAC, 2002, v. II, p. 43.

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