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Rocha da verdade e pedra de tropeço

Pedro e seus sucessores não podem arrogar-se o direito de fazer com a Igreja o que bem entendem, como se fosse “deles”. Devem ser a rocha da verdade em meio a tantas pedras de tropeço que procuram abalá-la.

Foto: Elia Campana/ Unsplash

Foto: Elia Campana/ Unsplash

Redação (12/08/2023 14:09, Gaudium Press) O Divino Mestre empregou um método excelso de ensinar. Atraía multidões por meio de gestos e palavras, desmascarava os erros dos fariseus com sabedoria, e evangelizava através de parábolas, sempre permeadas de exemplos tirados do cotidiano.

Simbolismo recorrente nos Evangelhos é o da pedra ou da rocha, evocativas da solidez com que se deve, por exemplo, fundamentar uma casa, sob pena de arruinar toda a construção (cf. Mt 7, 24-27). Cristo também utiliza essa metáfora para ilustrar a missão do primeiro Pontífice: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha Igreja, e as portas do inferno nunca prevalecerão contra ela” (Mt 16, 18). Conforme esclarece o Papa São Gregório Magno numa carta ao Bispo Eulógio, essa passagem indica que a Igreja foi estabelecida sobre o alicerce do Príncipe dos Apóstolos, cujo nome “Pedro” faz referência à “pedra”, em analogia à firmeza pela qual deveria primar sua alma.

Ressalte-se ainda que, ao instaurar o ministério petrino, Jesus utiliza a expressão “minha” Igreja, justamente para assinalar que ela está consolidada sobre a “pedra angular” (At 4, 11; Ef 2, 20), ou seja, o próprio Cristo. Pedro e seus sucessores não poderiam, pois, arrogar-se o direito de fazer com a Igreja o que bem entenderem, como se fosse “deles”. Por essa razão, seriam instados a calcar sua conduta na vida e nos ensinamentos do Redentor; caso contrário, receberiam a increpação do Senhor: “Afasta-te de Mim, Satanás! Tu Me serves de pedra de tropeço, porque não pensas as coisas de Deus, mas as dos homens!” (Mt 16, 23).

Está claro, ademais, que toda a força da Igreja emana de seu nexo com o Altíssimo, em contraposição ao profano e infiel. Assim, as primeiras palavras de Pedro e dos Apóstolos dirigidas ao judaísmo foram um brado de rompimento com a mentalidade secularista e caduca do Sinédrio: “É preciso obedecer antes a Deus do que aos homens” (At 5, 29). Pedro ainda prognosticou em sua segunda carta que haveriam de aparecer falsos doutores, com heresias perniciosas, doutrinas dissolutas e discursos fingidos, para minar a ortodoxia (cf. II Pd 2, 1-3).

Em oposição a isso, configura-se a missão petrina: ser a rocha da verdade em meio a tantas pedras de tropeço que procuram abalar a Igreja. De fato, o martelo dos regimes autocráticos, os vagalhões da vã filosofia e a purpurina de falsas doutrinas buscaram ao longo dos séculos dilapidar e desfigurar essa rocha inabalável. Sabe-se, porém, que o método mais eficaz empregado pelos filhos das trevas contra o edifício da Igreja é o ataque a seus fundamentos, sobretudo quando atinge os primeiros princípios da inteligência e da moral, impedindo o homem de discernir retamente a verdade e o erro, o bem e o mal.

Por essa razão, os Príncipes da Igreja, como cumes dessa sagrada rocha, hão de ser especiais depositários da “sã doutrina” (I Tim 1, 10), “modelos do rebanho” (I Pd 5, 3), antes de tudo edificando a própria casa (cf. I Tim 3, 4-5); caso contrário, como pedras de tropeço, trarão grande ruína (cf. Mt 7, 27) para si e para incontáveis almas.

Texto extraído da Revista Arautos do Evangelho n. 236, agosto 2021. Editorial.

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