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Fundadores da Ordem de Cister

Três monges santos abandonaram o mosteiro beneditino onde viviam porque seus religiosos levavam uma vida relaxada e não queriam se corrigir. Fundaram, então, a Abadia de Cister que proporcionou grande glória à Igreja.

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Redação (20/03/2023 16:45, Gaudium Press) Na Costa de Ouro – Borgonha, Nordeste da França –, em fins do século XI, havia o Mosteiro Nossa Senhora de Molesme cujo abade era São Roberto, o qual, auxiliado pelos monges Santo Alberico e Santo Estêvão Harding, fez enormes esforços para que os religiosos cumprissem seriamente a regra. Mas a maioria preferiu viver no relaxamento.

Em 1098, os três Santos, acompanhados de vinte monges valorosos, deixaram Molesme e se estabeleceram numa área inóspita e pantanosa cheia de juncos, chamada Cister, doada pelo Duque da Borgonha, e ali edificaram uma abadia.

São Roberto, que procedia de uma família nobre e rica, havia sido Abade de Molesme por designação do Papa São Gregório VII. Tendo exercido o abaciado de Cister durante um ano, por ordem superior ele regressou à Molesme, onde permaneceu como abade e ali faleceu em 1111, aos 82 anos de idade.

Seus discípulos pediram a Deus um sinal de que ele se salvara. Naquele mesmo dia, no início do ocaso, dois arco-íris surgiram no firmamento, cruzando o hemisfério e se apoiando nos quatro pontos cardeais. E acima do mosteiro apareceu um disco brilhante como o Sol, que projetou raios sobre o local onde estava o corpo de São Roberto.

Hábito branco trazido por Nossa Senhora

Santo Alberico se tornou abade de Cister logo após a mudança de São Roberto para Molesme. E em substituição ao hábito negro, usado por todos os beneditinos, introduziu o de cor branca, após um extraordinário fenômeno místico.

“Numa noite, estando Santo Alberico e os demais monges rezando o ofício de Matinas, Nossa Senhora, rodeada por uma falange de Anjos, apareceu-lhe envolta numa auréola de luz. Ela portava em suas mãos um manto branco, resplandecente de brilho e pureza, e o colocou sobre o Santo. Quando a visão desapareceu, não somente Santo Alberico, mas todos os monges estavam revestidos de hábitos brancos.”[1]

Seguindo o exemplo de São Roberto, o Abade Santo Alberico fez com que em Cister a regra beneditina fosse praticada na perfeição. Após ter exercido o abaciado por dez anos, faleceu em 1109 e foi sucedido por Santo Estêvão Harding.

Mesmo na penúria, os monges progrediam na virtude

O novo abade nasceu na Inglaterra de pais nobres e afortunados. Após ter sido educado num mosteiro dessa nação, dirigiu-se à França e ingressou na Universidade de Paris, onde estudou Filosofia e Teologia.

Tendo concluído brilhantemente seu curso, peregrinou até Roma. Em sua viagem de volta, ao entrar na França soube da existência do Mosteiro Nossa Senhora de Molesme, quis conhecê-lo e ali se tornou monge.

Como Abade de Cister, Santo Estêvão incentivou os monges na prática exímia do lema beneditino “Ora et labora” – Reze e trabalhe.  Além da intensa vida de orações, eles trabalhavam na agricultura e faziam cópias de livros, especialmente da Bíblia, bem como de composições musicais.

Regularizou a questão das visitas à abadia, permitindo que apenas o Duque da Borgonha, o grande benfeitor, nela pernoitasse quando ali comparecia para rezar, mas seus cortesãos deveriam se retirar. Ressentido por essa proibição, o Duque cancelou a ajuda que concedia à abadia; os monges passaram a viver na penúria. O próprio Santo Estêvão foi mendigar de porta em porta, mas recusou um grande donativo que um padre simoníaco lhe ofereceu.

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Bate à porta um jovem nobre chamado Bernardo

Os beneditinos relaxados e muitos membros da Congregação de Cluny – cujo abade, nessa época, era o péssimo Pons de Melgueil que foi posteriormente excomungado – censuravam os monges de Cister, dizendo que haviam cometido um pecado semelhante ao de apostasia. A essa onda de maledicências se somaram os clérigos casados e simoníacos que eram, então, numerosos.

Dirigidos por Santo Estêvão, os cistercienses permaneceram firmes, mas seu número diminuía devido aos falecimentos de alguns deles, e não entrava nenhum novo.

A um monge agonizante, mas inteiramente lúcido, o Santo ordenou, pelo voto de obediência, que após seu juízo particular viesse lhe dizer se Deus estava contente com o modo de viver na Abadia de Cister; logo depois ele entregou sua alma ao Criador. Transcorridos alguns dias, apareceu a Santo Estêvão e lhe comunicou que Nosso Senhor, cheio de alegria e bondade, havia afirmado que em breve enviaria legiões de discípulos ao Santo, tornando-se necessário construir outros mosteiros.

Pouco tempo depois, em 1112, bateu à porta da abadia um jovem nobre chamado Bernardo, acompanhado de um tio, quatro irmãos e 25 amigos pertencentes à nobreza. A partir de então, a Ordem de Cister teve um florescimento prodigioso. E aquele jovem se tornou o grande São Bernardo de Claraval.

Vitrais com cores opalinas lindíssimas

Santo Estêvão incentivou na Ordem de Cister todas as virtudes, entre as quais a pobreza. A respeito desta, sintetizamos a seguir alguns comentários feitos por Dr. Plinio Corrêa de Oliveira.

Nas abadias beneditinas, havia um cerimonial faustoso, uma Liturgia riquíssima com os objetos mais preciosos e nas igrejas vitrais magníficos. Para a vida privada dos seus monges, as abadias eram muito austeras: longos corredores com bancos de pedra, celas pobres.

Mas no que diz respeito ao culto divino e à pompa com que se cercava o abade havia o maior esplendor.

Entretanto isso degenerou em abusos. E sempre que um abuso se acentua num sentido, a graça realça a nota no sentido oposto. Então apareceu a Ordem de Cister praticando a pobreza muito mais carregadamente noutro sentido. O abade cisterciense desfrutava honras análogas ao abade beneditino, mas cercado de muito menos pompa. Toda a vida cisterciense era muito mais pobre.

A reação contra a riqueza tomou tal porte que os cistercienses não usaram mais os vitrais coloridos que os beneditinos utilizavam, achando que aqueles vitrais eram um fator de riqueza contra o qual era preciso reagir.

Então, passaram a usar apenas uns vitrais de tons esbranquiçados para proteger contra a luz. Mas a Igreja Católica, ainda involuntariamente, sempre produz a beleza. Usando esse tipo de vitrais, os monges cistercienses arranjaram um jeito de fazer vitrais com cores opalinas lindíssimas. É uma forma de beleza discreta tal que esses vitrais brancos, com tons opalinos, disputam em formosura, junto aos colecionadores e especialistas, com os vitrais policrômicos dos beneditinos da antiga observância.

O que resultou daí? Aos poucos, um reerguimento das várias congregações beneditinas. Quase todas receberam uma respiração nova, exceto Cluny que foi decaindo continuamente até a Revolução Francesa.[2]

Por Paulo Francisco Martos

Noções de História da Igreja


[1] DARRAS, Joseph Epiphane. Histoire Génerale de l’Église. Paris: Louis Vivès. 1876, v. 24, p. 672.

[2] Cf. CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Fundador da Ordem de Cister, in Dr. Plinio. São Paulo. Ano 23, n. 264 (março 2020), p. 24-25.

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