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O imaculado Coração de Maria e o desfile da vitória: de quem?

No dia 20 de junho a Igreja celebra a memória do Imaculado Coração de Maria. Diante de um desfile internacional, ou ainda de uma presidência que tenta lograr a longevidade, a Rússia estaria disposta a comemorar não a vitória de uma guerra, mas vitória da Paz?

Imaculado coracao de maria

Redação (19/06/2020 19:00, Gaudium Press) A Revolução Francesa de 1789 foi realmente um fato paradigmático. Uns a criticam, outros a defendem; o certo é que ela marcou os rumos da História – do Ocidente ao menos.

Naquela época, os fatos se sucederam subitamente: ao desgosto popular seguiram-se revoltas e motins, a estes o Terror; em menos de quatro anos, o pescoço do monarca conhecia a gélida, mas inebriada, lâmina do sangue que – inocente ou não – correu em abundância sobre os cadafalsos da Nação Francesa.

Que razões levaram a cabo acontecimento tão terrível? Os livros de História as enumeram, sempre as mesmas: sócio-políticas, econômicas, etc. Mas um fato não passa despercebido às pessoas com certo senso religioso: há exatamente um século antes do início da Revolução Francesa (em 1689, portanto), chegava aos ouvidos do Rei Luís XIV, através de Santa Margarida Maria Alacoque, uma mensagem do próprio Sagrado Coração de Jesus:

Coração Imaculado de Maria

“O Padre Eterno, querendo reparar (…) [as ofensas] que o adorável Coração de Seu Divino Filho tem recebido (…) deseja estabelecer seu império no coração de nosso grande monarca, de quem Ele se quer servir para a execução de seu desígnio que é o de fazer construir um edifício onde será colocado o quadro deste Divino Coração, para aí receber a consagração e as homenagens do Rei e de toda a corte”.[1]

O Sagrado Coração de Jesus prometia ainda bênçãos e proteções abundantes a todos os empreendimentos de Luís XIV, caso fosse estendida sobre a corte e toda a Nação Francesa tal devoção. A História, entretanto, não registra senão o silêncio deste rei terreno diante do desejo do Rei dos céus. Não será que, obedecendo aos pedidos de Jesus, o Rei Sol poderia ter poupado tantas vidas inocentes que seriam, mais tarde, arrebatadas à força da inclemente guilhotina, em seu próprio reino?

“Luís XIV poderia ter sorrido – assinala um autor francês – se lhe tivessem alertado naqueles dias de esplendor, sobre o perigo que corria a França e sobre a necessidade de elevar-se até ao alto, até o Coração adorável de Jesus, para encontrar um remédio e um abrigo. Entretanto, era verdade. De Luís XIV, a França desceu a Luís XV, de Luís XV a Voltaire, de Voltaire a Robespierre e a Marat…”[2]

A consagração ao Imaculado Coração, um veemente desejo da Santíssima Virgem

Estamos há pouco mais de um século das aparições de Fátima, e a história parece se repetir. “Deus quer estabelecer no Mundo a devoção ao meu Imaculado Coração”, disse então a Virgem, determinando que era de seu desejo a consagração da Rússia ao seu Coração. Mas da Rússia, a Mãe de Deus não recebeu outra resposta senão aquela dada pela França a Jesus Cristo em idos tempos…

É bem verdade que, com a epidemia da Covid-19, diversos países realizaram, ao menos oficiosamente, essa consagração – “Há males que vêm para bem”, assegura o velho ditado. E, na maioria das vezes, somente diante da necessidade real de “encontrar um remédio e um abrigo” é que o homem procura a Deus e a sua Mãe.

Mas nem mesmo isso levou a Rússia, país bem afetado pelo vírus, a se refugiar no Imaculado Coração de Maria. Juízo temerário? Não, constatação dos fatos.

Imaculado Coração de Maria 2

Rússia: 75 anos de vitória sobre a Alemanha, 103 sem vencer a si mesma

No próximo dia 24 de junho a Rússia se mobilizará para o maior desfile militar de sua história, comemorativo da sua vitória sobre a Alemanha em 9 de maio de 1945, no fim da II Guerra Mundial. Uma digna lembrança, sem dúvida. Mas por que não mobilizar o país para atender a um pedido maternal, tão simples, que já tarda 103 anos em ser respondido, oficialmente, pelas autoridades?

A ida do novo Núncio Apostólico para a Rússia, D. Giovanni d’Aniello, poderá reavivar a esperança na realização deste desejo do Imaculado Coração de Maria, cuja memória a Igreja celebrará neste sábado, 20 de junho?

Que consequências este silêncio acarretará, se continuar? Só o tempo poderá dizer. Uma coisa, porém, é certa: do século XVIII para os dias de hoje o mundo cresceu, e muito.

Qualquer que seja o resultado desta omissão, este certamente não se limitará a uma nova revolução civil, como foi a Francesa, ou como a comunista. Deus nos livre de uma III Guerra Mundial. E, se assim for, será que a Rússia terá o seu papel?

São hipóteses, sem dúvida; mas hipóteses bem mais fáceis de se conjecturar do que seria, a um francês do Ancien Régime, a probabilidade de algum dia ver o rei degolado ou a Religião Católica oficialmente abolida da nação.

Com efeito, de 1917 a 2020 transcorre o mesmo número de anos que entre a ignorada mensagem do Coração de Jesus, em 1689, e os massacres de setembro, a execução de Luís XVI e Maria Antonieta. Coincidência?

A Consagração ocorrerá no dia 25 de março, depois do ngelus no final da novena, e será presidida pelo Arcebispo Primaz da Irlanda, Dom Eamon Martin.

Desfile de quem?

Esta nação continental se mobiliza para comemorar uma vitória terrena, a qual acarretou tantas mortes, e tantas tristezas portanto. Quão feliz, e superiormente feliz, seria o dia em que se reuniriam os russos para comemorar uma vitória que não traz consigo nem sequer lembrança de tristeza: a vitória do Imaculado Coração de Maria neste país sobre cujos corações ela tanto deseja reinar.

Utinam hodie vocem ejus audiatis: ‘Nolite obdurare corda vestra’” (Sl 94, 8) – Parafraseando: Se ouvirdes hoje a voz do Imaculado Coração de Maria, não endureçais os vossos corações: é o que Jesus parece repetir constantemente àqueles que, muito preocupados em acertar o passo de um desfile internacional, acabam por errar o passo individual: preferem se recordar dos estampidos das metralhas e dos canhões a ouvir a doce e comovedora voz de Nossa Senhora.

De fato, para essa Senhora a Rússia nunca quis desfilar; a essa voz a Rússia nunca quis ouvir.

Por Alexandre Coutinho Neto

[1] BOUGAUD, Émile. Histoire de la Bienheureuse Margarite-Marie, pp. 373 – 379.
[2] Idem.

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