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Como será o culto eucarístico do século XXI?

Redação (Quinta-feira, 26-06+2014, Gaudium Press) – O Padre Rafael Ibarguren Schindler, EP, que é Assistente Eclesiástico da Federação Mundial das Obras Eucarísticas da Igreja, responde a esta pergunta em artigo que hoje transcrevemos:pe_rafael_ibarguren_schindler.jpg

Recuperar o primitivo espírito da Igreja? De acordo. Mas conservando aquilo que a vem enriquecendo ao longo dos séculos, tanto em seus ensinamentos quanto em seus ritos.

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A Igreja, Corpo Místico de Cristo formado pelo povo de Deus, é uma realidade viva, “sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro defeito semelhante, mas santa e imaculada” (Ef 5, 27), apesar dos defeitos que tenham os seus membros.

Um organismo vivo em constante crescimento

Vivificada pelo Espírito Santo, ela atravessa os séculos em perene regeneração. Nada é mais contrário à verdade do que imaginá-la como uma espécie de paraíso ideal, composto por seres impecáveis, alheios à cotidianidade do mundo; ou então, como um museu repleto de veneráveis – ou desprezíveis… – peças de coleção que seriam seus dogmas e ritos. Estas são duas ideias correntes e erradas que costumam ter a respeito da Igreja seus inimigos e seus filhos tíbios.

Outro erro ou mal-entendido consiste em pensar que o seu modelo definitivo e acabado é o dos Atos dos Apóstolos, e que, portanto, dever-se-ia “refazer” a Igreja tal como existia nessas primeiras comunidades. Esta é uma simplificação irrealizável.

Recuperar o primitivo espírito da Igreja? De acordo. Mas conservando aquilo que a vem enriquecendo ao longo dos séculos, tanto em seus ensinamentos quanto em seus ritos. Pois, por ser um organismo vivo, ela produz vida e está em constante crescimento, como seu Divino Esposo, do qual afirma o Evangelista: “Jesus crescia em estatura, em sabedoria e graça, diante de Deus e dos homens” (Lc 2, 52).

Da fração do Pão à Adoração Eucarística

Esse crescimento, podemos percebê-lo claramente no concernente ao culto eucarístico. Façamos aqui um breve resumo de seu desenvolvimento ao longo do tempo.

Nos dez primeiros séculos os fiéis sempre se reuniam para a fração do pão eucarístico, a Missa, e quase só nessa ocasião adoravam publicamente o Senhor Sacramentado. Finda a celebração, restava a reserva do Santíssimo a ser levada aos ausentes e aos enfermos.

Mas no segundo milênio começaram a desenvolver-se, na Igreja do Ocidente, de rito latino, as homenagens prestadas à Eucaristia.

No século XI foi progressivamente se transferindo da sacristia para o templo a reserva do Santíssimo Sacramento. No século seguinte nasceu a elevação, na Missa: mostra-se a Hóstia para os fiéis poderem adorá-La, saciando, assim, seu desejo de ver e de participar melhor do culto. No século XIII fizeram-se as primeiras procissões públicas com o Santíssimo Sacramento e se estabeleceu no calendário litúrgico a Festa de Corpus Christi.

No século XIV, em certos lugares da Europa, a Sagrada Hóstia começou a ser exposta num ostensório, para ser vista e adorada pelos fiéis, fora da Missa. E no século posterior teve início a celebração das Quarenta Horas, recordando o tempo passado pelo Senhor no sepulcro; eram realizadas por ocasiões de necessidade ou de ação de graças.

Durante o Renascimento (séculos XV e XVI), o Tabernáculo passou a ser colocado sobre o altar-mor, onde ficava no centro das atenções.

Toda essa exaltação da Eucaristia foi seguida por uma sólida explicitação doutrinária, dentro da qual desempenham papel saliente a teologia de São Tomás de Aquino e os documentos do Concílio de Trento.

Na Espanha, o culto público à Sagrada Eucaristia tomou novo vigor com as iniciativas de Teresa Enríquez (1450-1529) – a Louca do Sacramento -, que tiveram por fruto a multiplicação das confrarias de Adoração.

Já nas eras moderna e contemporânea se difundiu a prática das visitas regulares a Jesus Sacramentado, graças ao impulso dado por Santo Afonso de Ligório.

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Santo Antônio Maria Zaccaria promovendo as
Quarenta Horas, por Virgilio Monti – Igreja
de San Carlo ai Catinari, Roma

A graça da comunhão frequente

No século XIX ergueu-se na França a figura profética de São Pedro Julião Eymard, o qual está na origem da Adoração Eucarística com exposição e bênção solene, uma prática que acabou sendo adotada por todas as paróquias, congregações e movimentos eclesiais. Tiveram início também os congressos eucarísticos internacionais, que tomaram grande relevância na vida da Igreja, ao longo do século seguinte.

Nos primeiros anos do século XX, o Papa São Pio X publicou importantes documentos que abriram as portas para a Comunhão frequente e diária, bem como para a Comunhão precoce das crianças; essas duas novidades muito contribuíram para a comunidade cristã em particular e a sociedade em geral. Durante o longo pontificado do São João Paulo II veio à luz, em 2003, a Encíclica Ecclesia de Eucharistia, que põe nitidamente o Sacramento do Altar na origem, coração e meta da vida da Igreja.

Duas décadas antes, já o Código de Direito Canônico, promulgado em 1983, franqueara a todo fiel leigo a possibilidade de comungar duas vezes ao dia, desde que a segunda Comunhão seja durante uma Missa da qual ele participe (Cân. 917). E pensar que há não muito tempo podia-se comungar apenas de vez em quando, só com autorização do confessor, e que algumas categorias de fiéis, como os comerciantes e as pessoas casadas, raramente tinham essa graça! Impossível seria relacionar aqui todas as manifestações do aumento da presença da Eucaristia na vida da Igreja. Sirva-nos este sucinto elenco para ver como ela é: uma Mãe generosa que cresce em dadivosidade para com seus filhos e os alimenta com o Divino Manjar.

Que nos reserva o século XXI como nova riqueza em relação à Eucaristia?

(Publicado originalmente como Mensagem do Assistente Eclesiástico, em www.opera-eucharistica.org)

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