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Débora e Jael: heroínas que marcaram a História

Redação – (Quarta-feira, 05/08/2015, Gaudium Press) – Após a morte de Josué, os israelitas não cumpriram a promessa que fizeram a Deus, de exterminarem os povos pagãos que habitavam a terra de Canaã.

Realizaram alianças com esses pagãos, e chegaram mesmo a adorar seus deuses; “abandonaram o Senhor e serviram aos ídolos de Baal e Astarte” (Jz 2, 13). A Baal prestavam um culto cruel e sanguinário, e a Astarte um culto vergonhoso e sensual. E, em diversas ocasiões, os hebreus se tornaram escravos dos pagãos.

Aod derrota os moabitas

O Altíssimo, então, suscitou Juízes, ou seja, “valentes heróis aos quais [Deus] confiou, entre a morte de Josué e a de Sansão, a alta missão de salvar Israel em tempos de calamidade […]; seu papel era, antes de tudo, militar”.

Depois de obtida a vitória contra os opressores, esses heróis “eram reconhecidos como governantes, e exerciam seu poder principalmente julgando o povo, de onde lhes veio o nome de Juízes”.

Observa São João Bosco que os israelitas, “quando desprezavam a lei divina, eram abandonados nas mãos dos seus inimigos e escravizados. Quando voltavam para Deus, reconquistavam a liberdade perdida”. Trata-se de uma transposição do que ocorre com um indivíduo. Disse Nosso Senhor: “Todo aquele que comete o pecado é escravo do pecado” (Jo 8, 34); se ele abandona o pecado e pratica a virtude, readquire a verdadeira liberdade.

Entre os diversos Juízes que houve, focalizaremos aqueles que mais se destacaram na luta contra os inimigos de Israel.

Eglon, rei dos moabitas, estava escravizando durante 18 anos os hebreus, os quais recorreram a Deus. O Altíssimo suscitou, então, Aod que, sozinho, eliminou Eglon por meio de uma corajosa investida.

Depois, tocou a trombeta e reuniu os israelitas, convocando-os para o combate. Dirigidos por Aod, eles “derrotaram cerca de 10.000 moabitas, todos homens robustos e valentes; não escapou ninguém. […] Moab foi submetido por Israel e o país esteve tranquilo durante 80 anos” (Jz 3, 29-30).

Diálogo entre Débora e Barac

Os israelitas voltaram a praticar o mal, e por causa disso se tornaram escravos do rei cananeu Jabin, cujo exército era comandado pelo general Sísara. Essa triste situação já durava 20 anos, quando Deus suscitou Débora para libertar os hebreus.

Ela mandou chamar Barac e houve entre eles o seguinte diálogo (cf. Jz 4, 6-9):

– Por ordem do Senhor, disse-lhe Débora, toma, contigo 10.000 combatentes e conduza-os ao Monte Tabor; eu levarei a ti Sísara, com seus carros e suas tropas, e o entregarei às tuas mãos.

– Se vieres comigo, irei; se não vieres, não irei.

– Eu irei contigo, mas não será tua a glória da vitória, pois o Senhor vai entregar Sísara às mãos de uma mulher.

Barac, então, levou 10.000 guerreiros ao Tabor, e Débora acompanhou a expedição. Sabendo disso, Sísara convocou seu exército e todos seus soldados se dirigiram para aquele monte.
O general israelita desceu o monte com suas tropas e “o Senhor derrotou Sísara, com todos os seus carros e todas as suas tropas, a golpe de espada, diante de Barac” (Jz 4, 15).

Sísara conseguiu fugir a pé e, exausto, chegou à tenda de uma mulher chamada Jael, a qual o acolheu, cobriu-o com um manto e deu-lhe água e leite para beber, e ele caiu num sono profundo.

Jael, então, “pegou um dos cravos da tenda, empunhou um martelo e, aproximando-se dele devagarinho, cravou-lho nas têmporas, pregando-o no chão” (Jz 4, 21).

Comenta São João Bosco: “Assim o soberbo Sísara, que queria oprimir o povo de Deus, morreu pelas mãos de uma mulher.”

Cântico de Débora

Depois dessa prodigiosa vitória, Débora e Barac entoaram um cântico, “cuja forma é perfeita, cujo tom é ardente como a guerra, alegre como a vitória”; dele destacamos estes trechos:

“Seja bendita entre as mulheres, Jael […] Assim pereçam todos os teus inimigos, Senhor. Mas os que Te amam sejam como o Sol que se levanta com fulgor” (Jz 5, 24.31).

As palavras “bendita entre as mulheres” também se aplicam a Nossa Senhora, mas “de uma maneira muito mais verdadeira e perfeita”.

Jael foi uma prefigura da grandeza da Santíssima Virgem. Assim como Jael derrotou o inimigo do povo eleito, Maria vence, de modo muito mais glorioso, todos os que querem destruir a santa Igreja de Deus.

Terminadas as comemorações da vitória, todos voltaram a sua faina diária “e o país esteve tranquilo por 40 anos” (Jz 5, 31).

Que Nossa Senhora nos obtenha a graça de praticarmos a virtude e jamais cedermos ao pecado, pois aquela propicia a verdadeira liberdade, enquanto que o pecado conduz à escravidão.

Por Paulo Francisco Martos
(in Noções de História Sagrada (39))

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1 – Cf. FILLION, Louis-Claude. La Sainte Bible commentée. 3. ed. Paris: Letouzey et ané. 1923, v.2 , p.110.
2 – Idem, ibidem, p. 99 e 110.
3 – FUSTER, Eloíno Nácar e COLUNGA, Alberto OP. Sagrada Biblia – versión directa de las lenguas originales. 11.ed. Madrid: BAC. 1961, p. 263.
4- SÃO JOÃO BOSCO. História Sagrada. 10 ed. São Paulo: Salesiana, 1949, p.92.
5 – História Sagrada. 10 ed. São Paulo: Salesiana, 1949, p.93.
6 – FILLION, Louis-Claude. La Sainte Bible commentée. 3. ed. Paris: Letouzey et ané. 1923, v.2 , p. 120.
7 – CORNÉLIO A LÁPIDE. Apud BARBIER, SJ, Jean-André. Tesoros de Cornelio a Lapide. Madri: Librerias de Miguel Olamendi e outros. 1866, v. 3, p. 297.
8 – Cf. Idem, ibidem, p. 314.

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