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O homem: síntese das maravilhas da Criação

Redação – (Sexta-feira, 08-08-2014, Gaudium Press) – Abaixo dos Anjos, mas muito acima dos outros seres, se encontra o homem, rei da Criação visível. Tal é sua grandeza que a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade quis encarnar-Se numa criatura humana: a Virgem Maria.

Microcosmo

Quando uma pessoa civilizada quer construir uma bela casa para nela residir, depois de edificadas as partes essenciais ela organiza as pinturas, a colocação dos móveis e, por fim, a decoração. De modo análogo Deus fez que existissem os minerais, os vegetais e os animais a fim de preparar o ambiente no qual o homem viveria.

O Criador fez Adão utilizando “lodo da terra” (Gn 2, 7), ao qual deu forma humana e nele infundiu uma alma imortal. “Há diferença entre criar e fazer: criar é tirar alguma coisa do nada; fazer é produzir uma coisa de outra coisa”; o corpo do homem é feito, mas sua alma é criada.

O homem é um composto de corpo e alma, de matéria e espírito que se unem intimamente nele, para formarem uma única natureza e pessoa. Na ordem natural, o homem é, portanto, uma síntese das maravilhas da Criação.

Afirma São Gregório Magno que “o homem é, em seu ser natural, uma espécie de microcosmo, um pequeno mundo, um resumo e compêndio de toda a Criação: existe, como os minerais; vive, como os vegetais; sente, como os animais; e entende, como os anjos”.

Dons naturais e preternaturais

Adão foi favorecido por Deus com os seguintes dons:

a – Naturais. Além de inteligência luminosa, vontade firme e sensibilidade ordenada, sua estatura — diferentemente dos outros animais – era erguida porque, “se o homem tivesse a estatura inclinada e se servisse de suas mãos como de pés dianteiros, ser-lhe-ia preciso apanhar o alimento com a boca; teria então uma boca oblonga, lábios duros e espessos, língua igualmente dura […], como vemos nos outros animais. Tais disposições impediriam inteiramente a linguagem, obra própria da razão”.

b – Preternaturais, que transcendiam as exigências e forças de sua natureza, mas não o elevavam à ordem sobrenatural. Os dons preternaturais compreendiam três grandes privilégios que, sem mudarem a natureza humana substancialmente, lhe conferiam uma perfeição, à qual Adão não tinha o mínimo direito. Esses privilégios eram a ciência infusa, o dom de integridade, ou seja, o “perfeito equilíbrio entre as paixões, a razão e a vontade”, e a imortalidade corporal.

O que se entende por ciência infusa?

“Para facilitar ao primeiro homem o seu múnus de cabeça e educador do gênero humano, outorgou-lhe Deus gratuitamente o conhecimento infuso de todas as verdades que lhe importava conhecer, e uma certa facilidade para adquirir a ciência experimental: assim se aproximava ele dos anjos.”

O fato de Adão ter dado nome a todas as aves e outros animais, que desfilaram diante dele por ordem de Deus (cf. Gn 2, 19-20), é indicativo de sua extraordinária ciência.

Dons sobrenaturais

O Criador concedeu também ao homem dons sobrenaturais: a graça, virtudes infusas e dons do Espírito Santo.

A graça é uma participação criada da vida incriada de Deus. Ela “supera a criação do Céu e da Terra; não se pode compará-la senão com a eterna geração do próprio Filho de Deus”.

O conjunto dos dons preternaturais e sobrenaturais que Adão recebeu do Criador chama-se “justiça original”.

“Todos esses privilégios, exceto a ciência infusa, tinham sido dados a Adão, não como bem pessoal, senão como patrimônio de família, que devia ser transmitido a toda a sua descendência, contanto que ele permanecesse fiel a Deus.”

Depois o Criador conduziu Adão ao Paraíso terrestre. E, estando ele dormindo, Deus tirou-lhe uma das costelas e com esta formou Eva (cf. Gn 2, 21), à qual o Altíssimo proporcionou também o dom de integridade e a imortalidade corporal.

Plano de Deus para os homens

Ordenou Deus a Adão e Eva: “Sede fecundos e multiplicai-vos” (Gn 1, 28).

“Os homens no Paraíso deveriam, pelo seu talento, fazer cultura, civilização, sistemas artísticos, literatura; tudo, enfim, que realizam nesta Terra. Contudo, deveriam fazê-lo de um modo muito mais magnífico do que aqui, uma vez que possuíam uma grande ciência, em virtude dos dons sobrenaturais de que Deus os dotou”.

Entretanto, seduzidos pelo demônio, nossos primeiros pais pecaram por orgulho e perderam os dons preternaturais e o estado de graça; assim, começou a decadência da humanidade.

Peçamos à Santíssima Virgem, a escrava do Senhor, que torne nosso coração humilde como o d’Ela para jamais cedermos ao maligno.

Por Paulo Francisco Martos

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1) – AQUINO, São Tomás. Exposição sobre o Credo. 4. ed. São Paulo: Loyola. 1997, p. 29.
2) – Cf. TANQUEREY, Adolphe. Compêndio de Teologia Ascética e Mística. 6. ed. Porto: Livraria Apostolado da Imprensa, 1961, p. 28.
3) – Hom. 29 super Evang. ML 76, 1214. Apud MARÍN, Antonio Royo. Somos hijos de Dios – misterio de la divina gracia. Madri: BAC. 1977, p. 6.
4) – AQUINO, São Tomás de. Suma Teológica I, q. 91, a. 3, ad 3.
5) – Cf. TANQUEREY, op. cit. p. 32.
6) – CLÁ DIAS, João Scognamiglio. O inédito sobre os Evangelhos. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana. 2013, vol. VII, p. 283.
7) – TANQUEREY, Adolphe, op. cit. p. 32.
8) – SCHEEBEN, Mathias Joseph. As maravilhas da graça divina. Petrópolis: Vozes, 1952. p. 22.
9) – TANQUEREY, Adolphe. Op. Cit. p. 32.
10) – TANQUEREY, Adolphe. Op. Cit. p. 34.
11) – CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. O estudo da História não pode ignorar o plano de Deus para a humanidade. In: Dr. Plinio. São Paulo: Retornarei. Abril de 1998, p. 17-18.

 

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