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Quando a matéria toca o divino: Os vasos sagrados e sua dignidade sublime

Redação (Quarta-feira, 13-08-2014, Gaudium Press) As santas relíquias da Paixão de Cristo foram durante séculos objeto de grande veneração para os fiéis católicos. A tradição de numerosos países deixa rastros da peregrinação dos objetos através da história e indica alguns deles em importantes Santuários e Catedrais. É assim como se venera a Santissimo Sacramento.jpgcada ano a Santa Coroa de Espinhos, na Catedral de Notre Dame em Paris (França), e diversos fragmentos do Santo Lenho (a verdadeira Cruz na qual foi cravado Jesus Cristo) em templos de vários países ou o Santo Sudário de Turim que se considera ter envolvido o corpo de Cristo após sua morte e cuja imagem está misteriosamente plasmada sobre a tela. A extraordinária devoção que despertam estas relíquias tem um mesmo fundamento. Tratam-se de objetos que tiveram contato com o corpo de Jesus Cristo no momento mesmo em que se obrou o sacrifício que redimiu a humanidade.

Esta introdução é necessária para falar dos vasos sagrados, os objetos empregados durante a celebração da Eucaristia e que tem contato direto com o Corpo e Sangue de Cristo, como o ensina a doutrina da Igreja. Neste sacramento “está inscrito de forma indelével o acontecimento da paixão e morte do Senhor. Não só o evoca mas o faz sacramentalmente presente”, explicou São João Paulo II em sua Carta Encíclica ‘Ecclesia de Eucharistia’. “Quando a Igreja celebra a Eucaristia, memorial da morte e ressurreição de seu Senhor, se faz realmente presente este acontecimento central de salvação e ‘se realiza a obra de nossa redenção'”. Por este motivo, o respeito que merecem os vasos sagrados que contêm o Corpo e Sangue de Cristo é similar ao que inspiram as relíquias da Paixão e Morte do Senhor.

O que são os vasos sagrados?

Os elementos que a Igreja designa sob o título de vasos sagrados são o cálice, a patena, o cibório e a custódia, os quais tem um contato direto com as espécies eucarísticas e são cuidadosamente purificados para evitar qualquer irreverência. A Igreja manifestou desde a antiguidade sua preocupação pela dignidade destes elementos e alguns deles constituem autênticas obras mestras de arte sacra, capazes de causar a admiração em crentes e não crentes ao invocar os mistérios contidos no sacramento. A perfeição da elaboração dos vasos sagrados e os materiais selecionados para sua fabricação constituem também uma catequese sobre a sacralidade e a presença real de Jesus Cristo na Eucaristia.

“Entre o que se requer para a celebração da Missa, merecem especial honra os vasos sagrados e, entre estes, o cálice e a patena, nos quais o vinho e o pão são oferecidos, consagrados e consumidos”, dispõem a Instrução Geral do Missal Romano. O cálice, como o recorda a Enciclopédia Católica, é o vaso em forma de copa no qual se depositam o vinho e a água empregados para o sacrifício eucarístico. A patena é um recipiente côncavo no qual se oferece o pão que se converterá no Corpo de Cristo e que deve ser muito plano para facilitar sua purificação de forma que não fiquem fragmentos da Eucaristia. O cibório é um vaso com tampa destinado a reserva das formas consagradas e a custódia é uma urna especial -usualmente ricamente adornada- que permite a exposição pública do Santíssimo Sacramento.

A devida dignidade dos vasos sagrados

Sobre todos estes elementos, a norma litúrgica contida na Instrução Geral do Missal Romano dispõem que devem fabricar-se “de um metal nobre” e que “se são fabricados de metal que é oxidável ou é menos nobre que o ouro, devem dourar-se habitualmente por dentro”. A Igreja admite outros materiais que sejam considerados dignos, com a devida precaução sobre a qualidade do material. A este respeito ordenou São João Paulo II que “se requer estritamente que este material, segundo a comum estimativa de cada região, seja verdadeiramente nobre, de maneira que com seu uso se tribute honra ao Senhor e se evite absolutamente o perigo de debilitar, aos olhos dos fiéis, a doutrina da presença real de Cristo nas espécies eucarísticas”.

Os vasos sagrados devem ser também abençoados de uma forma especial, seguindo as fórmulas contidas no Ritual de Dedicação de uma igreja e de um altar, contido no Pontifical Romano ou no Ritual de Benção de objetos que se usam nas celebrações litúrgicas Bendicionais. Por seu caráter sagrado e a extraordinária dignidade de seu conteúdo, os vasos sagrados são manipulados pelo sacerdote e o diácono, que estão encarregados de sua purificação de maneira exclusiva, com a assistência dos acólitos. 

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Uma mostra da eficácia evangelizadora dos vasos sagrados é o uso das custódias solares na evangelização da América. Os dourados raios das custódias que emanam do centro, onde se contêm a Eucaristia, permitiram aos indígenas identificar a cristo Sacramentado com a divindade, sendo uma expressão particular da arte barroca posta a serviço da adoração e da catequese. Anteriormente nessa época, as custódias empregavam formas tomadas da arquitetura gótica que já havia expressado de forma efetiva o sentido da sacralidade aos povos europeus.

Da mesma maneira, a dignidade e beleza dos cálices, paletas e cibórios fala com propriedade sobre a sacralidade da Eucaristia, dando um testemunho coerente entre a Fé professada e a prática da Fé. São estes elementos os que contêm o milagre da Eucaristia e, criados dos mais finos componentes, são expressão da missão do homem de elevar até Deus a criação inteira. Neles a matéria transformada pela mão do homem, toca o divino.

Gaudium Press / Miguel Farías.

Traduzido por Emílio Portugal Coutinho

 

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