Pecado de Davi e seu arrependimento
Redação – (Quarta-feira, 13/01/2016, Gaudium Press) – Transmitindo ao Rei Davi a mensagem que recebera de Deus, o Profeta Natã disse-lhe também: “Tua casa e teu reino serão estáveis para sempre diante de Mim; teu trono será firme para sempre” (II Sm 7, 16).
Uma das mais importantes profecias do Antigo Testamento
Esta é “uma das mais importantes profecias do Antigo Testamento. Ela marca um notável progresso na história da revelação messiânica; um novo círculo concêntrico se acrescenta aos anteriores: O Redentor não pertencerá somente à raça da mulher (Gn 3, 15), à raça de Sem (Gn 9, 26), à posteridade de Abraão (Gn 12, 3), à tribo de Judá (Gn 49, 10); sua própria família é determinada, a de Davi e, mais ainda, Ele será Rei como Davi.”1
Após instalar-se em Jerusalém, para onde levou a Arca da Aliança, o Rei Davi venceu diversos povos pagãos; todo ouro e prata, bem como vasos de bronze conquistados, ele os consagrava ao Senhor (cf. II Sm 8, 10-11), tendo em vista a construção de um rico e majestoso Templo para nele colocar a Arca.
Davi era um varão justo, mas também misericordioso. Justiça e misericórdia são virtudes não contraditórias, mas harmônicas. Eis um fato que comprova a bondade de Davi.
Sabendo que Meribaal, filho de Jônatas, o qual era “aleijado de ambos os pés” (II Sm 9, 13), ainda vivia, Davi mandou trazê-lo até seu palácio, restituiu-lhe todos os campos e casas de Saul e fez com que sempre participasse de sua mesa.
Entretanto, para manter a vida virtuosa é absolutamente necessária a vigilância. Disse Nosso Senhor Jesus Cristo: “Vigiai e orai, para não cairdes em tentação” (Mt 26, 41). E a virtude da vigilância, infelizmente, faltou a Davi, fazendo com que ele se precipitasse num gravíssimo pecado.
Numa guerra contra os amonitas, Davi não foi para a frente de combate -como era costume dos reis naqueles tempos-, mas enviou Joab, chefe de seu exército, para dirigir a guerra. E Davi permaneceu em Jerusalém.
Consequências da ociosidade
Certo dia, após sua sesta, Davi começou a passear pelo terraço de seu palácio…
Viu, então, no jardim de uma casa próxima, uma mulher que se banhava e acabou pecando com ela; chamava-se Betsabeia e era casada com Urias, um dos trinta valentes de Davi, que se encontrava lutando contra os amonitas.
A ociosidade de Davi ocasionou seu grave pecado. Amolecido pelo ócio, ele consentiu em maus olhares e a morte entrou em sua alma. Escreve o admirável teólogo Cornélio a Lápide:
“Assim como as torres e muralhas muito fortes e elevadíssimas de nada servem se as portas da cidade estão abertas para deixar entrar o inimigo, todas as muralhas e todos os meios de defesa que nos dá a graça ficam perdidos se estão abertas as portas dos sentidos para receber os pensamentos e desejos carnais da alma. Desse modo, a guarda dos sentidos, e principalmente dos olhos, deve ser muito exata e severa, porque por eles entra a vida ou a morte na alma.”2
Tentando dissimular seu pecado de adultério, Davi ordenou que Urias viesse para Jerusalém.
Esse fiel servidor obedeceu, mas não voltou para sua casa; ficou de guarda junto às portas do palácio do rei, e inclusive ali passava as noites. Apesar dessa prova de dedicação, o rei escreveu uma carta a Joab mandando que Urias fosse colocado no local mais perioso, a fim de ser morto. E . 2, p. 490.
Depois, Davi tomou Betsabeia como esposa.
Increpação do profeta Natã contra Davi
Aproximadamente um ano depois do primeiro pecado de Davi, o profeta Natã, por ordem de Deus, foi à sua presença e contou-lhe a seguinte parábola:
Numa cidade havia um homem rico e outro pobre. O primeiro possuía ovelhas e gado em grande número; o pobre tinha apenas uma ovelhinha.
Certo dia chegou um hóspede à casa do rico, e este não quis tomar um de seus ovinos ou bovinos a fim de preparar o banquete para o hóspede, mas pegou a pequena ovelha do pobre para aquela finalidade.
Davi ficou indignado contra esse mau rico e disse a Natã: “Pela vida do Senhor, o homem que fez isso merece a morte!” (II Sm 12,5).
E Natã increpou o Rei: “Esse homem és tu!” (II Sm 12, ).
Davi reconheceu seu pecado, e o profeta declarou que Deus não o puniria com a morte; de fato, ele tinha merecido duas vezes a morte, quer por seu adultério, quer por seu homicídio (cf. Lv 20, 10 e 24, 17). Mas o filho nascido daquela união morreria em breve.
Pouco tempo depois, o recém-nascido adoeceu gravemente;
Davi implorou a Deus por ele, chorou, deitou-se no chão e permaneceu em completo jejum, mas passados sete dias o menino morreu.
O Rei levantou-se do solo, lavou-se, ungiu-se, mudou de traje e entrou na casa do Senhor, onde estava a Arca da Aliança, prosternou-se e rezou.
Foi nessa ocasião que Davi cantou o belíssimo salmo Miserere, do qual destacamos estes versículos:
“Ó Deus […] lava-me de toda a minha culpa, e purifica-me de meu pecado. Reconheço a minha iniquidade e meu pecado está sempre diante de mim” (Sl 50, 3-5).
Seu arrependimento foi sincero e eficaz. Porém, sua grave queda “atrairá sobre ele tristezas e humilhações de todo gênero até o fim de sua vida”3.
Peçamos a Maria Santíssima que jamais estejamos ociosos, mas sempre ocupados no serviço de Deus e do próximo por amor de Deus.
Por Paulo Francisco Martos
(in “Noções de História Sagrada” – (57))
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1 – FILLION, Louis-Claude. La Sainte Bible commentée. 3. ed. Paris: Letouzey et aîné. 1923, v.II,
2 – CORNÉLIO A LÁPIDE. In BARBIER, SJ, Jean-André. Tesoros de Cornelio a Lapide. Madri: Librerias de Miguel Olamendi e outros. 1866, v. 2, p. 490.
3 – FILLION, Louis-Claude. La Sainte Bible commentée. 3. ed. Paris: Letouzey et aîné. 1923, v.II,
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