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Os Doze Apóstolos: Apóstolos de todos os tempos

Redação – (Sexta-feira, 07-08-2015, Gaudium Press) – No mês vocacional, é sempre oportuno relembrar atitudes de Nosso Senhor a propósito dos chamados de Deus. A mais alta vocação que os séculos conheceram foi a concedida por Nosso Senhor aos Doze Apóstolos: levar as primeiras sementes do Evangelho até os confins da Terra.

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A Santa Igreja continua esta nobre missão e uma parte dela cabe a todos os batizados.

Debaixo deste ângulo, vejamos o que Monsenhor João Clá Dias,EP, tem a comentar sobre o trecho do Evangelho que transcrevemos a seguir:

“Naquele tempo, 7 Jesus chamou os Doze, e começou a enviá-los dois a dois, dando-lhes poder sobre os espíritos impuros. 8 Recomendou-lhes que não levassem nada para o caminho, a não ser um cajado; nem pão, nem sacola, nem dinheiro na cintura. 9 Mandou que andassem de sandálias e que não levassem duas túnicas. 10 E Jesus disse ainda: “Quando entrardes numa casa, ficai ali até vossa partida. 11 Se em algum lugar não vos receberem, nem quiserem vos escutar, quando sairdes, sacudi a poeira dos pés, como testemunho contra eles!” 12 Então os Doze partiram e pregaram que todos se convertessem. 13 Expulsavam muitos demônios e curavam numerosos doentes, ungindo-os com óleo. ” (Mc 6, 7-13)

I – Os Apóstolos e a difusão da bondade cristã

Um critério infalível de análise teológica é este: se Deus fez algo, é o melhor que poderia ser feito. Perguntar-se, por exemplo, qual teria sido a ocasião ideal para Nosso Senhor Jesus Cristo operar a Redenção, significaria mero diletantismo de espírito. Na realidade, sabemos, a priori, que havendo Deus promovido a Encarnação do Verbo em determinada época histórica, Ele assim o fez porque era o momento auge e não havia outro melhor.1 A partir daí, o estudioso procurará as altíssimas razões para o proceder divino, como meio de aprofundar no conhecimento e no amor ao Criador. Meditemos sobre alguns destes motivos.

Antes da Redenção a humanidade vivia nas trevas

É patente, pelas narrativas históricas, que antes de Nosso Senhor Jesus Cristo Se ­encarnar, na “plenitude dos tempos” (Gal 4, 4), a humanidade não tinha ainda noção da verdadeira bondade e se encontrava num ápice de degradação. Os homens se tratavam com uma ferocidade superior à das próprias feras, e o relacionamento era constituído por uma catarata de desprezos, de ultrajes e de violências, que causa espanto. Os servos, considerados “coisa”, eram submetidos a tanta brutalidade por seus donos, que estes chegavam a mandá-los experimentar certos venenos para comprovarem seus efeitos mortais. E não só os escravos, mas até os filhos eram objeto de um trato desumano. No Império Romano, se uma criança nascesse defeituosa, o pai possuía o direito de abandoná-la no meio da floresta para que os animais selvagens a devorassem. Mesmo a mulher, em todas as civilizações antigas, era cruelmente relegada.

Em contraste com tal horror, nasce Jesus – a Bondade em essência – e maravilhas começam a se produzir, a ponto de surgir, a partir d’Ele, uma nova humanidade. Realiza-se, por fim, o que pede o Salmo deste 15º Domingo do Tempo Comum: “Mostrai-nos, ó Senhor, vossa bondade, e a vossa salvação nos concedei!” (Sl 84, 8).

A Liturgia de hoje recorda a bondade trazida por Cristo, pois é em função dela que os Apóstolos são enviados em missão. Haveriam eles de dar início à transformação daquela barbárie do mundo antigo, imerso nas trevas, numa civilização fundada nos princípios evangélicos. E, ao sair para fazer o bem sem exigir retribuição – algo então completamente inédito -, eles levariam os povos a compreender o que é a verdadeira bondade.

As recomendações do Divino Mestre aos Apóstolos são válidas para seus discípulos de todos os tempos, e nelas encontraremos importantes ensinamentos para nossa tarefa de evangelizar no século XXI.

Uma escolha gratuita

Naquele tempo, (7ª) Jesus chamou os ­Doze…

Os Apóstolos iriam constituir a posteridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, e dariam continuidade à sua obra na Terra, quando Ele subisse ao Céu. Ora, para uma missão de tal envergadura, Nosso Senhor podia ter convocado quinhentos ou mil homens, pois Ele tinha ­capacidade de recrutar quantos quisesse! Entretanto, fez questão de escolher apenas doze. E dentre eles, quem era doutor da Lei? Quem era importante rabino ou estudioso da Escritura, conhecedor da história dos grandes heróis do Antigo Testamento? Ninguém! Jesus preferiu pescadores e cobradores de impostos. Por certo aspecto, o que havia de mais humilde naquela sociedade. Quão diversos são os critérios de Deus e os dos homens!

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Antes de Nosso Senhor Jesus Cristo Se encarnar, os homens se tratavam
com uma ferocidade superior à das próprias feras

Apolo e Artemisa dão morte aos 14 filhos de Níobe (Detalhe de um
Sarcófago do séc. II) Gliptoteca de Munique (Alemanha)

Ao longo da História da salvação, o Senhor elege seus profetas de qualquer classe social e ambiente, para transmitirem uma mensagem que não é de interpretação pessoal (cf. II Pd 1, 20), senão d’Ele mesmo, Deus, como se passa na primeira leitura (Am 7, 12-15) deste domingo, com o profeta Amós. Oriundo de Técua, localidade de Judá, o reino do Sul, Amós foi chamado por Deus quando estava no campo, cuidando do pastoreio, e enviado a profetizar as catástrofes que se avolumavam sobre o reino de Israel, no norte, por causa dos numerosos pecados nele cometidos. Ora, Amasias, sacerdote de Betel, principal santuário idolátrico daquele reino, incomodado com as palavras de Amós e receoso de que sua presença viesse a comprometer a abundante renda que ele lucrava com seu ofício de falso sacerdote, intimou-o a voltar para Judá, onde poderia pregar os vaticínios dos terríveis acontecimentos futuros, e ganhar sua vida enganando os crédulos.

Tratado como fingido vidente, Amós respondeu com coragem: “Não sou profeta nem sou filho de profeta; sou pastor de gado e cultivo sicômoros. O Senhor chamou-me, quando eu tangia o rebanho, e o Senhor me disse: ‘Vai profetizar para Israel, meu povo'” (Am 7, 14-15). Ou seja, ele não era um profeta de profissão, a serviço das veleidades reais, nem fazia parte de nenhuma escola profética, mas fora verdadeiramente suscitado por Deus para determinada missão.

Com efeito, o nascimento das associações dos chamados “filhos dos profetas” ­remontava à época de Elias e Eliseu (cf. II Rs 2, 3). Inicialmente o objetivo destas era viver segundo o ensinamento destes varões de Deus, mas, com o tempo, desviaram-se do caminho e muitos ambiciosos se alistaram nelas com a mera finalidade de garantir um ganha-pão. De outro lado, assim como Jeroboão, o primeiro a governar o reino do Norte, contratou homens não pertencentes à tribo de Levi para exercerem o sacerdócio junto aos deuses por ele mesmo fabricados (cf. I Rs 12, 31-32; II Cr 11, 15; 13, 9), não faltaram reis prestando ouvidos a falsos profetas, cujos agouros satisfizessem seus caprichos, como indicam numerosas passagens das Sagradas Escrituras.2

Nosso Senhor, no entanto, sem atender a critérios humanos, escolheu seus profetas – com o título de Apóstolos -, e chamou-os a pregar o Evangelho.

Ora, precisamos nos compenetrar de que também nós somos apóstolos. Sim, pois esta obrigação de evangelizar não se aplica apenas aos sacerdotes e religiosos, mas a todos os batizados, até aos que constituem família, cada um no seu ambiente. Devemos levar às últimas consequências este Sacramento pelo qual fomos indelevelmente marcados e incluídos na Igreja. Pertencemos a Nosso Senhor Jesus Cristo e necessitamos nos empenhar em fazer daqueles que se relacionam conosco discípulos d’Ele. Nossa vida cristã, nosso comportamento baseado na prática da virtude e na piedade, sirvam de modelo e estímulo aos outros, de forma a não perdermos uma só oportunidade para, no dia a dia, transmitir a Boa-nova.
A grande importância do apoio colateral

(7b) …e começou a enviá-los dois a dois…

É muito curioso ver como a Igreja, já no começo de sua atividade evangelizadora, sempre enviou “dois a dois”, nunca um sozinho. ­Este princípio repete-se várias vezes na Escritura. Ao criar Adão, Deus disse: “Não é bom que o homem esteja só; vou dar-lhe uma ajuda que lhe seja adequada” (Gn 2, 18), pois era conveniente que Adão tivesse outra criatura que o completasse.

Quando Nossa Senhora e Santa Isabel foram designadas pela Providência para serem protagonistas de um acontecimento extraordinário – uma seria Mãe do Messias e a outra, mãe do Precursor -, a comunicação entre elas poderia ter-se dado de vários modos. Nossa Senhora poderia mandar uma mensagem à prima ou buscar alguém que a ajudasse. Não, Ela própria quis ir até Isabel e a serviu durante o período mais crítico da gestação, porque as duas precisavam se encontrar para se apoiarem mutuamente (cf. Lc 1, 39-56). Também o Espírito Santo nos lembra, pela voz do Eclesiastes: “Vae soli! – Ai do homem solitário!” (4, 10); e ainda Nosso Senhor diz em outra passagem do Evangelho: “onde dois ou três estão reunidos em meu nome, aí estou Eu no meio deles” (Mt 18, 20).

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O profeta Amós, por Aleijadinho
Santuário Bom Jesus de
Matosinhos, Congonhas
do Campo (MG)

Tal norma, cuja origem remonta ao início da Igreja, guiou o apostolado ao longo dos tempos e ainda hoje é válida. Por quê? A criatura humana tem, dentro de si, o instinto de sociabilidade, o mais perfeito de todos os instintos. Ela necessita relacionar-se e o sair em duplas proporciona um apoio psicológico e uma proteção recíproca indispensável, pois nem sempre os dois terão igual disposição diante das dificuldades ou das tentações. Quando um estiver na consolação sustentará o outro e vice-versa, porque é difícil os dois se encontrarem na aridez, e ainda que isto ocorra, ambos se auxiliarão.

Santo Agostinho,3 no século V – quando os homens e as mulheres se vestiam com túnicas até os pés! -, estabeleceu nas regras de sua ordem que nunca um sacerdote deveria sair ­sozinho, mas tinha de andar sempre acompanhado. Na volta, o superior da casa ouvia individualmente a ambos, para saber como foi o comportamento de cada um no caminho, inclusive em matéria de moralidade. Depois, se fosse preciso, seriam admoestados. Esta era a rigidez do santo Bispo de Hipona, porque ele tivera suas debilidades antes da conversão e sabia bem o cuidado a ser tomado.

Na atualidade, num mundo cada vez mais afastado dos ditames da moral ­cristã, é de primeira importância os apóstolos agirem ao menos em dupla. Por isso os Arautos do Evangelho temos por regra em nosso Ordo de Costumes – chancelado pela Santa Sé -, que nenhum de nós pode sair sozinho. Trata-se de uma norma evangélica.

Poder da Igreja sobre os demônios

(7c) …dando-lhes poder sobre os espíritos impuros.

Um dos mais terríveis ataques experimentados por aqueles que vão exercer o apostolado é exatamente a ação do demônio, pela qual, sem o poder de Nosso Senhor, seriam deglutidos. Poder este que Ele confere aos Apóstolos, em primeiro lugar, dado ser a expulsão dos espíritos impuros de capital importância para o Evangelho poder ser assimilado com mais facilidade.

O domínio sobre os espíritos impuros não é exercido em nome pessoal, pois à força do homem eles respondem com gargalhadas. A única coisa que tira estes entes imundos do abrigo que encontraram numa pessoa é um nome mais forte: Jesus Cristo. Ele é quem dá aos Doze o poder sobre os demônios, infligindo-lhes tremenda humilhação ao serem expulsos por uma criatura inferior a eles em natureza. Como legítimos sucessores dos Apóstolos, os Bispos, bem como os exorcistas oficiais por eles nomeados – é obrigação do Bispo designar ao menos um exorcista para sua diocese -, gozam desse mesmo poder exorcístico.

Tudo isto também aponta para uma das características dos apóstolos de nossos dias: evangelizar e ter alguma autoridade contra as forças do mal, provêm, no fundo, da nossa união com Nosso Senhor Jesus Cristo, em cujo nome agimos. É o que diz São Beda, comentando esta passagem: “O Senhor opera com seu poder em tudo o que faz, enquanto seus discípulos, se fazem algo, é confessando sua fraqueza e o poder do Senhor”.4 Tal capacidade só se obtém vigiando e orando, na constante prática dos Mandamentos, ou seja, procurando trilhar as vias da santidade.

O perigo de confundir os meios com o fim

(8) Recomendou-lhes que não levassem nada para o caminho, a não ser um cajado; nem pão, nem sacola, nem dinheiro na cintura. (9) Mandou que andassem de sandálias e que não levassem duas túnicas.

Nosso Senhor mandou os Apóstolos saírem para pregar sem levar nada, a não ser um cajado, porque era preciso andar por caminhos difíceis, tendo por vezes a necessidade de lutar contra algum animal, como fez Davi enquanto pastoreava e teve de enfrentar um leão e um urso (cf. I Sm 17, 34-36). Quanto ao mais, só o que estava no corpo, nem uma segunda túnica ou qualquer coisa para sua provisão… nem sequer um pão! Por quê?

Se carregassem mais algo consigo poderia nascer neles um apego por esse objeto e ­transformar-se, em pouco tempo, no desejo de entesourar bens terrenos. O não levar nada consigo significava colocar-se inteiramente nas mãos da Providência Divina, em quem deveriam confiar sem reservas. Ao cumprir a ordem do Mestre nada haveriam de temer: pela graça, incentivaria Ele as pessoas a bem recebê-los e ajudá-los. Até aí chegava o cuidado de Jesus pelos Doze!

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Visitação de Nossa Senhora a Santa
Isabel, por Domenico Ghirlandaio
Museu do Louvre, Paris

Assim quis Deus começar sua Igreja, sem usar nenhum meio fabuloso, a fim de evitar que os Apóstolos se apegassem ao dinheiro, poder ou influência, baseando neles sua força. Pois, como já dissemos, a essência do apostolado não está em possuir meios materiais, e sim em ter o múnus para exercê-lo. O “poder sobre os espíritos impuros” seria sua grande riqueza, e este só é possível com o desprendimento de tudo quanto há de concreto e palpável.

Deve este ensinamento de Nosso Senhor ser aplicado também nos dias atuais? Que significado tem para nós? Em primeiro lugar, é uma exigência que Ele faz a respeito da condução do apostolado: ter uma confiança plena em relação à graça e à assistência do Espírito Santo. Se Deus cuida dos passarinhos e dos lírios do campo (cf. Mt 6, 25-30), como não há de amparar quem está pregando em seu nome? O apóstolo não será abandonado jamais.

Paralelamente, Jesus nos diz que em nossos labores evangelizadores é indispensável precaver-nos para não confundir os meios materiais com os sobrenaturais. Sem desprezar aqueles, devemos cuidar de não transformá-los em fim. A saúde, por exemplo, é um grande meio para podermos evangelizar; porém, é fácil fazermos dela o centro dos nossos interesses.

Precisamos estar livres de todo e qualquer apego, freio ou preocupação que nos impeça de fazer o apostolado com eficácia e de dar à palavra que vai ser pregada a merecida atenção. Lembremo-nos deste preceito quando sentirmos pesada a vida espiritual, porque a causa pode residir em estarmos afeiçoados a alguma coisa do mundo.

Todo apóstolo é um representante de Nosso Senhor

(10) E Jesus disse ainda: “Quando entrardes numa casa, ficai ali até vossa partida. (11) Se em algum lugar não vos receberem, nem quiserem vos escutar, quando sairdes, sacudi a poeira dos pés, como testemunho contra eles!”

Qual o motivo de Nosso Senhor ordenar aos Apóstolos não mudar de casa durante suas missões? No decorrer destas, haveriam eles de ­passar por situações as mais variadas. Quiçá estando hospedados numa casa pobre, tivessem eles um sucesso tal que um vizinho, muito mais rico, os convidasse para ir pousar em sua confortável residência.

Se aceitassem, eles estariam se guiando por critérios humanos e, como diz São João Crisóstomo, poderia recair sobre eles a suspeita de serem “glutões e amigos de passar bem”.5 Não! Por expresso desejo do Divino Mestre, o Apóstolo haveria de ficar onde fora recebido até findar sua missão na cidade, por tratar-se da casa que a Providência tinha dado. Desta forma, ficava patente para quem os hospedasse “que só pela salvação deles tinham vindo. […] É que o Senhor não queria que seus Apóstolos brilhassem apenas pelos seus milagres; antes, deveriam brilhar pela sua virtude”.6

De igual modo, quando eles precisassem se hospedar em algum lugar e não os acolhessem nem os quisessem escutar, Jesus não lhes recomenda insistir, mas fazer um ato de confiança na Providência e sacudir a poeira dos pés. Era a atitude tomada nos antigos tempos pelos viajantes, em sinal de reprovação, quando os maltratavam numa cidade. Para os Apóstolos seria um ato simbólico com um sentido de maldição, em resposta a quem rejeitara a Boa-nova.

Não sem razão nas narrações de São Mateus e São Lucas, relativas a este mesmo episódio, Jesus promete que, no dia do Juízo, os que recusaram a pregação apostólica serão julgados com mais rigor do que as cidades pecadoras de Sodoma e Gomorra (cf. Mt 10, 15; Lc 10, 12). Isto nos mostra com clareza a seriedade do ofício de evangelizar em qualquer época histórica, pois o apóstolo é um arauto de Cristo e age em seu nome, como Ele mesmo afirma taxativamente no Evangelho de São Lucas: “Quem vos ouve, a Mim ouve; e quem vos rejeita, a Mim rejeita; e quem Me rejeita, rejeita Aquele que Me enviou” (10, 16). Que grande responsabilidade!

A terrível doença do pecado

(12) Então os Doze partiram e pregaram que todos se convertessem. (13) Expulsavam muitos demônios e curavam numerosos doentes, ungindo-os com óleo.

Tendo os Apóstolos partido em missão, o Evangelho refere em poucas palavras as principais ações por eles realizadas ao convidarem à conversão, e que constituem para cada um de nós uma obrigação.

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Nosso Senhor expulsa o demônio do mudo – Biblioteca do Mosteiro de Yuso,
San de San Millán de la Cogolla (Espanha) São Bento exorciza um dos
seus monges, Basílica de San Miniato al Monte, Florença (Itália)

Eles “expulsavam muitos demônios”. Nós, ainda quando não sejamos exorcistas, somos impelidos a expulsar demônios por nossa simples presença, desde que tenhamos vida de oração e santidade, proveniente do cumprimento dos Mandamentos e da frequência aos Sacramentos.

Por fim, os Apóstolos “curavam numerosos doentes, ungindo-os com óleo”. É uma primeira referência ao Sacramento da Unção dos Enfermos.7 Ora, podemos nós também curar doentes? Por este mundo afora existe uma doença terrível, verdadeira epidemia, muito pior que o câncer ou a lepra, chamada pecado. Quando exortamos com êxito as pessoas a se emendarem, mudarem de vida e abraçarem a Religião, acontece um milagre mais extraordinário do que curar uma doença física. Sim, quando alguém pelo Batismo ou pela Confissão sai do estado de ódio a Deus e de rejeição d’Ele no qual se encontrava, e é introduzido na maravilhosa vida sobrenatural, opera-se uma mudança superior à ocorrida na cura de qualquer enfermidade, pois muito acima da nossa miserável natureza humana está a altíssima vida divina.

II – A força do apóstolo vem só de Nosso Senhor

Fundada a Igreja Católica Apostólica Romana, Esposa mística de Cristo, coube a ela incutir e difundir a verdadeira bondade no meio da humanidade pagã, fazendo surgir de seu seio incontáveis almas santas que reluziram nos primeiros tempos do Cristianismo e até hoje iluminam nosso caminho na missão de evangelizadores.

Entre elas sobressai a figura ímpar de São Paulo, Apóstolo de Nosso Senhor Jesus Cristo por excelência, que na segunda leitura (Ef 1, 3-14) deste domingo, como em todos os seus escritos, nos transmite com fogo uma extraordinária visão a respeito do Divino Mestre: “[Deus] nos predestinou para sermos seus filhos adotivos por intermédio de Jesus Cristo, conforme a decisão da sua vontade, para o louvor da sua glória e da graça com que Ele nos cumulou no seu Bem-Amado. Pelo seu Sangue, nós somos libertados. N’Ele, as nossas faltas são perdoadas, segundo a riqueza da sua graça, que Deus derramou profusamente sobre nós, abrindo-nos a toda a sabedoria e prudência” (Ef 1, 5-8).

Em sua infinita sabedoria, quis Deus nos dar a graça através de Nosso Senhor Jesus Cristo. Nós nos tornamos filhos de Deus, e “o somos de fato” (I Jo 3, 1), porque a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade Se encarnou por amor a nós e “pelo seu Sangue” fomos libertados da escravidão do pecado. Enquanto cristãos, fomos escolhidos pelo Pai em função do Divino Redentor.

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Fundada a Igreja Católica Apostólica Romana, coube a Ela incutir e difundir
a verdadeira bondade no meio da humanidade pagã

Jesus com os Doze Apóstolos – Igreja de Santo Agostinho, Paris

Tudo em nós depende de Jesus, pois sem Ele estaríamos não só com as portas do Céu fechadas, mas sem possibilidade alguma de adquirirmos qualquer mérito aos olhos de Deus. Não somos capazes de fazer sequer um sinal da Cruz com mérito sobrenatural sem estarmos unidos a Ele e é n’Ele que vamos encontrar toda a fortaleza.

Portanto, devemos ser-Lhe muito gratos, colocando-O constantemente no centro das nossas atenções, quando somos chamados ao apostolado nas mil circunstâncias da vida, convictos de que todo poder e capacidade de fazer o bem provêm de Cristo.
Vivamos desta fé e nada nos faltará para continuar a obra dos Doze Apóstolos!

Por Monsenhor João Clá Dias
(in “Revista Arautos do Evangelho”, Julho/2015, n. 163, p. 8 à 15)

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