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Ardendo de zelo pelo Deus dos exércitos

Redação (Sexta-feira, 08/04/2016, Gaudium Press) – No Monte Carmelo, o Profeta Elias fez com que descesse fogo do céu e, logo depois, eliminou os 450 profetas de Baal. Esse foi “um dos fatos mais grandiosos do Antigo Testamento”.1

Elias foge de Jezabel

O Rei Acab contou a sua esposa, Jezabel, que Elias “tinha passado ao fio da espada todos os profetas de Baal” (I Rs 19, 1). Ela, adoradora desse e de outros ídolos, ficou devorada de ódio e mandou um mensageiro ao Profeta para lhe informar que no dia seguinte ele seria morto. Aliás, Jezabel já havia mandado matar um grande número dos verdadeiros profetas de Deus, formados nas escolas proféticas instituídas por Samuel (cf. I Sm 19, 20).2

Elias ficou com medo dessa mulher e, junto com seu criado, andou até Bersabeia, onde deixou o seu servo; essa cidade se encontrava fora do território de Judá, cujo rei, Josafá, era aliado de Acab (cf. I Rs 22, 2-4). Depois, adentrou o deserto e caminhou sozinho o dia inteiro. À noite, sentou-se debaixo de um junípero, pediu a Deus a morte e adormeceu.

O Profeta estava passando por grande provação. “A fadiga, a fome, a solidão do deserto, a inutilidade aparente de seus trabalhos, pesavam fortemente sobre o espírito de Elias. E Deus permitia essa nova prova para instruir seu servidor. Os santos não viveram num estado de transfiguração e de paz perpétuas; suas tentações e suas lutas são para nós um possante encorajamento.”3

Alimentado por um Anjo

Então, Deus operou um milagre que mostra sua bondade verdadeiramente materna. De repente, um Anjo tocou-o e lhe mandou servir-se dos alimentos que ele trouxera: um pão e água colocada numa jarra. O Profeta comeu e bebeu, mas voltou a dormir. Pela segunda vez o Anjo acordou-o e ordenou: “‘Levanta-te e come! Ainda tens um caminho longo a percorrer’. Elias levantou-se, comeu bebeu, e, com a força desse alimento, andou 40 dias e 40 noites, até chegar ao Horeb, o monte de Deus” (I Rs 19, 7-8).

Explica Fillion que o Horeb representa o maciço de montanhas do qual o Sinai – onde Moisés recebeu a revelação dos Dez Mandamentos – é um dos principais picos. Dez dias de caminhada seriam suficientes para chegar ao Horeb. Mas Elias andou por um tempo quatro vezes maior, durante o qual o Profeta errou pelo deserto.4

Esse fato simboliza os 40 dias e 40 noites que Nosso Senhor ficou no deserto, antes de iniciar sua vida pública (cf. Mt 4, 1-2).

A respeito do pão que Elias comeu, afirma São João Bosco: “Este alimento de Elias é figura da Santíssima Eucaristia, que o Senhor nos deixou ara alentar-nos e ajudar-nos a percorrer o caminho do Céu. Não basta, porém, recorrer a esse alimento uma só vez, mas devemos fazer frequentemente.”5

Uma brisa suave

Chegando ao Horeb, o Profeta entrou numa gruta, onde passou a noite.

Pela manhã, Deus lhe perguntou: “Que fazes aqui, Elias? Ele respondeu:

“Estou ardendo de zelo pelo Senhor, Deus dos exércitos, porque os israelitas abandonaram tua aliança, demoliram teus altares, mataram à espada teus profetas. Só eu escapei; mas agora querem matar-me também” (I Rs 19, 9-10).

O Profeta Elias vivia estas palavras do salmista: “O zelo por tua casa me devorou, os insultos dos que Te insultam caíram sobre mim” (Sl 69, 10).

Grande era seu zelo porque muito amava a Deus. Ensina São Tomás de Aquino:

“O zelo, de qualquer modo que se considere, provém da intensidade do amor. Porque é evidente que, quanto mais intensamente tende uma potência para algo, mais fortemente repele também o que lhe é contrário e incompatível. Assim, pois, sendo o amor um movimento para o amado, como diz Santo Agostinho, o amor intenso trata de excluir tudo o que lhe é contrário.”6

Então, o Altíssimo comunicou a Elias que Ele iria passar pelo monte.

Inicialmente, veio um vento impetuoso que desfazia as montanhas e quebrava os rochedos, mas Deus não estava no vento; depois houve um terremoto, porém o Senhor não se encontrava no terremoto; em seguida, veio um fogo, mas Deus não estava no fogo.

Por fim, ouvindo o murmúrio de uma leve brisa, o Profeta cobriu o rosto com seu manto e pôs-se à entrada da gruta, porque percebeu que Deus ali se encontrava. Novamente o Altíssimo lhe perguntou o que ele fazia ali, e Elias deu a mesma resposta.

Essa suave brisa faz lembrar a presença de Deus no Paraíso Terrestre, onde o Altíssimo “passeava pelo jardim à brisa da tarde” (Gn 3, 8), para conversar com Adão.

Um resto de verdadeiros fiéis

Então, Deus ordenou a Elias que se dirigisse a Damasco e ali ungisse Hazael como rei de Aram ou seja, da Síria -, Jeú como rei de Israel e Eliseu como profeta no lugar dele, Elias. E acrescentou: “Quem escapar da espada de Hazael, será morto por Jeú, e quem escapar da espada de Jeú, será morto por Eliseu. Guardarei em Israel um resto de 7.000 homens, todos aqueles que não dobraram os joelhos diante de Baal” (I Rs 19, 17-18).

Na epístola aos romanos, São Paulo recorda essa última frase e afirma:

“Assim também agora, em nossos dias, subsiste um ‘resto’, por livre escolha da graça” (Rm 11, 5).

E no século XXI existem pessoas verdadeiramente fiéis à Santa Igreja, que não dobram os dois joelhos – e nem sequer um só – diante de Baal, ou seja, face às abominações que se praticam em todo o mundo.

Que Nossa Senhora nos obtenha a graça de sermos desse número.

Por Paulo Francisco Martos
(in Noções de História Sagrada (66))

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1 – FILLION, Louis-Claude. La Sainte Bible commentée. 3. ed. Paris: Letouzey et aîné. 1923, v.II, p. 532.
2 – Cf. Idem, ibidem, v. II, p. 529.
3 – Idem, ibidem, v. II, p. 536.
4 – Cf. Idem, ibidem, p. 538.
5 – SÃO JOÃO BOSCO. História Sagrada. 10 ed. São Paulo: Salesiana, 1949, p.125.
6 – Suma Teológica I-II, q.28, a. 4, resp.

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