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Santa Orosia, Padroeira dos endemoniados

Redação (Quarta-feira, 13-04-2016, Gaudium Press) Santa Orosia é a padroeira de Jaca e sua Diocese. Se celebra sua festividade no dia 25 de junho. O corpo da Santa mártir se venera em Jaca, e sua cabeça em Yebra de Basa.Santa Orosia, Padroeira dos endemoniados.jpg

Os atributos de Santa Orosia são a coroa e o cetro real, por ser filha de príncipes e esposa de rei, além da palma do martírio.

O âmbito de influência e intercessão de Santa Orosia se centra nas catástrofes naturais tais como secas, pragas e pestes, além da libertação dos demônios e maus espíritos. Não faltam nos milagres atribuídos à Santa casos pessoais como curas, devoluções dos sentidos, ressurreições, etc, todos na linha taumatúrgica de Cristo nos Evangelhos.

Ao Reino de Aragão, cristianizado por Santo Metódio em 880, Santa Orosia chegou a nossas montanhas, após desposar-se com Dom Fortuño Ximénez, sétimo e último conde de Aragão, em companhia de seu tio São Acisclo Bispo, seu irmão São Cornélio e grande comitiva real. Ouvindo que os muçulmanos haviam invadido o reino, se retiraram todos para uma cova de Yebra, mas descobertos pelos sarracenos, seu líder Aben Lupo, atormentou e deu morte a São Acisclo primeiro e depois a São Cornélio e a toda a comitiva. Tudo isto ocorreu diante da presença da Santa para infundir-lhe temor com o fim de que cedesse sua beleza, formosura e rara discrição, à lasciva infernal daquele lobo carniceiro. O chefe destas tropas lhe propôs matrimônio à jovem princesa que, para não abandonar sua Fé em Cristo se negou, após o qual foi martirizada, cheio de furor aquele lobo sarraceno mandou cortar os braços e serrar depois as pernas e cortar sua sagrada cabeça e mandou que aquelas santas relíquias virginais fossem jogadas pelo monte de Yebra, para se tornarem pasto das bestas. Enquanto a Santa era martirizada, sentiu sede e por meio de sua intercessão emanou uma fonte cristalina que ainda perdura. Ocorreu tudo isto pelo ano de 920. Os anjos cuidaram de dar honorífico sepulcro a Santa Orosia e recolheram suas relíquias e as colocaram naquele monte. Ali estiveram escondidas, havendo-se perdido a notícia do soberano tesouro.

Uns 150 anos depois, na madrugada do dia 25 de junho de 1072, um anjo apareceu ao pastor Guillén de Guasillo que guardava seu rebanho nas proximidades de Yebra de Basa, para revelar-lhe a história do martírio e a localização das relíquias para defender-se dos mouros, mandando-lhe que deixasse a cabeça em Yebra e levasse o corpo à Santa Igreja de Jaca, onde permanece incorrupto desprendendo singular fragrância.

O primeiro milagre de Santa Orosia se produziu quando o pastor, cumprindo o mandato da Virgem, se aproximava a Jaca portando as relíquias em sua bolsa de pele. Todos os sinos da cidade tocaram, sozinhos, a glorificar. Esta história pode ser contemplada nas pinturas dos afrescos que adornam a Capela de Santa Orosia, recentemente descobertos, na Catedral de Jaca.

Nesse ano as montanhas obtiveram sua melhor colheita. No cume daquele ditoso monte de Yebra, e onde está a fonte referida, há uma ermida de Santa Orosia, e antes de chegar ao dito sítio, se vê debaixo de uma pedra, outra igreja onde se conservam as relíquias de São Acisclo, São Cornélio e a real comitiva.

As relíquias estão em uma urna de prata que ocupa o centro do altar maior, a ambos lados repousam os restos de Santo Indalecio, discípulo do Apóstolo Santiago e de São Félix e São Voto fundadores do Mosteiro de São João de la Peña.

Não se sabe como Santa Orosia se converte em padroeira dos endemoniados, mas o certo é que até 1947, ano em que o Bispo de Jaca proibiu sua assistência, a procissão reunia aos endemoniados de toda a redondeza e até da vizinha região francesa do Bearn, onde Santa Orosia gozava também de grande devoção.

Os pobres enfermos, em sua maioria mulheres, iam atrás da urna, com os dedos atados com cordéis. Durante a procissão aumentava a tensão, chegando ao paroxismo quando a pessoa enferma se situava sob os andores que sustentavam a urna. Em meio de terríveis ataques nervosos, se conseguia romper as ataduras de seus dedos, se interpretava que a Santa a havia livrado milagrosamente dos demônios que invadiam seu corpo.

Existe uma reportagem fotográfica realizada F. de las Heras nos anos 1920 onde se podem apreciar imagens destes fatos que constituem um documento etnológico de grande valor.

Agora a procissão, que se segue celebrando o dia 25 de junho, conserva muitos de seus antigos elementos. A formação da procissão À saída da Catedral, no grande pórtico românico é impressionante: Uma bandeira abre a passagem, atrás os funcionários da Prefeitura luzem antigos trajes com cores de Aragão, marchando ao monótono ritmos de cornetas.

A urna de prata com as relíquias da Santa vão nos ombros dos confrades. Lhes precedem os dançarinos de castanholas, vestidos com trajes de calção brancos adornados em azul, tocados com sombreros de cintas multicolores. Enquanto interpretam as antigas danças às ordens do maioral, levam um cravo na boca durante toda a procissão.

Também os gastadores do Batalhão de Alta Montanha de Jaca, escoltam a Santa. Seguem os dançarinos que interpretam antigas danças guerreiras ao som do chifre e o chicoten, curioso tambor de cordas. Os dançarinos vestem os tradicionais trajes de calção e jaleco de cor negra, adornados com mantas cruzadas na cintura e bandas de seda sobre o peito.

O Bispo de Jaca, com os símbolos de sua autoridade e rodeado do Capítulo, participa na procissão assim como as autoridades civis e militares da cidade. Tudo isso discorre pelo corredor formado pelos romeiros, por volta de 60, vestidos com grandes capas pardas e que portam as cruzes paroquiais dos povos aos quais representam, todos eles dos arredores de Jaca.

Por trás, os jacetanos, muitos com trajes tradicionais, alguns com melhor intenção que resultado, e a comunidade gitana da cidade, cujas mulheres vão descalças em sinal de devoção e respeito. Fecha a procissão a Banda Municipal. A procissão finaliza na Praça de Biscós onde, em um coreto que levantado ao efeito, o Bispo mostra aos fiéis os mantos e relíquias de Santa Orosia para sua veneração.

Esta procissão que segue sendo um acontecimento sócio-religioso na cidade, tem uma presença de espectadores forâneos testemunhal quando mereceria uma maior ressonância quiçá o motivo seja que no mesmo dia se celebra em Yebra de Basa a renomada romaria em honra de Santa Orosia muito mais conhecida.

No entanto esta procissão contem, aparte de seu significado religioso, elementos dignos de contemplar que nos retratam a tempos passados e também, uma data ideal para começar o Caminho de Santiago a partir da cidade de Jaca.

Por Santiago Peña

Traduzido do espanhol por Emílio Portugal Coutinho

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