Punição de Jezabel

Redação – (Quinta-feira, 23/06/2016, Gaudium Press) – No alto do Monte Horeb, Deus havia ordenado a Elias que ungisse Hazael como Rei da Síria, e Jeú como Rei de Israel (cf. I Rs 19, 15-16), mas o cumprimento dessas ordens só foi realizado por Eliseu.

Jeú é ungido como rei

Jeú era um oficial de Jorão, Rei de Israel. 1 Obedecendo às ordens de Eliseu, um de seus discípulos foi a Ramot de Galaad e ungiu Jeú como Rei de Israel, dizendo-lhe que deveria destruir a casa de Acab, matando todos os seus descendentes varões; e acrescentou: os cães devorarão Jezabel (cf. II Rs 9, 1-

Com seus soldados, Jeú foi ao local onde se encontravam juntos Ocozias, Rei de Judá, e Jorão. Tendo Jorão perguntado a Jeú se estava tudo em paz, este respondeu: “Que paz haveria, enquanto vigoram as prostituições de Jezabel, tua mãe, e seus inúmeros feitiços!” (II Rs 9, 22).

Ouvindo tais palavras, Jorão virou seu carro e saiu em disparada, mas o próprio Jeú, arqueiro experiente, com uma flecha atravessou o coração do Rei de Israel, e jogou o cadáver na vinha que pertencera a Nabot e fora roubada por Acab, pai de Jorão.

Ocozias tentou fugir, porém os soldados de Jeú o perseguiram, feriram-no em seu carro de guerra e logo depois Ocozias morreu, tendo sido sepultado em Jerusalém (cf. II Rs 9, 23-28).

Jezabel e a igreja de Tiatira

Continuando sua investida, Jeú chegou a Jezrael, cidade onde se encontrava a péssima Jezabel. Sabendo da chegada de Jeú, ela subiu ao andar superior de sua residência e, embora fosse já bastante velha, “pintou os olhos, adornou a cabeça e inclinou-se para olhar pela janela” (II Rs 9, 30).

Jeú mandou que a lançassem ao chão e, como profetizara Elias (cf. I Rs 21, 23), ela foi devorada pelos cães, restando apenas “o crânio, os pés e as palmas das mãos”(II Rs 9, 35).

São João Evangelista, no Apocalipse, fala a respeito das sete igrejas que, segundo “o santo e sábio padre alemão Bartolomeu Holzhauser” 2 (1613-1658), se referem às sete épocas da Igreja Católica. Ao tratar da igreja de Tiatira, que corresponde à Idade Média – quando houve grande florescimento da Igreja Católica -, o Apocalipse cita Jezabel, como símbolo daqueles que promoveram a decadência moral e religiosa que corroeu a sociedade medieval.

“Os ministros da Igreja […] se entregaram à voluptuosidade e caíram na presunção […]. Ora, foram esses os vícios de Jezabel”. 3 Holzhauser afirma que a Idade Média decaiu pelos seguintes motivos, entre outros: as autoridades não castigaram devidamente o vício, mas o favoreceram por uma covarde conivência, dissimulando-o por uma falsa filosofia; não esclareceram os outros pelo bom exemplo; deixaram-se levar pela moleza. E acrescenta: Jezabel aí significa “os vícios que se introduziram pouco a pouco nessa idade da Igreja, tais como a concupiscência da carne, a avareza, o orgulho e a presunção”. 4

O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, descrevendo como se operou a decadência da Idade Média, afirma: “Nos trajes, nas maneiras, na linguagem, na literatura e na arte o anelo crescente por uma vida cheia de deleites da fantasia e dos sentidos vai produzindo progressivas manifestações de sensualidade e moleza […]

“Tal clima moral, penetrando nas esferas intelectuais, produziu claras manifestações de orgulho, como o gosto pelas disputas aparatosas e vazias, pelas argúcias inconsistentes, pelas exibições fátuas de erudição, e lisonjeou velhas tendências filosóficas, das quais triunfara a Escolástica, e que já agora, relaxado o antigo zelo pela integridade da Fé, renasciam em aspectos novos.” 5

Tais considerações se compaginam com as explicações feitas por Holzhauser.

Templo de Baal é incendiado

Depois, Jeú eliminou todos os descendentes de Acab, e também 42 homens da família de Ocozias (cf. II Rs 10, 11-14). Posteriormente, Jeú disse que faria um ato solene de adoração a Baal, e convocou todos os idólatras para se reunirem no templo de Baal; quem não comparecesse seria morto. Estando o templo lotado, mandou que 800 de seus soldados os eliminassem ao fio da espada, ateassem fogo na estátua do ídolo e no templo; e depois de tudo queimado, “no seu lugar fizeram latrinas” (II Rs 10, 27).

Depois de ter realizado todos esses atos, Jeú foi elogiado por Deus: “Porque fizeste cuidadosamente o que era reto aos meus olhos e fizeste tudo que estava em meu coração contra a casa de Acab, teus filhos sentarão até a quarta geração sobre o trono de Israel” (II Rs 10, 30).”É a única dinastia que durou cerca de um século (841-743).” 6

Mas Jeú foi mole num ponto de suma importância: não destruiu os bezerros de ouro que estavam em Betel e em Dã, “não teve o cuidado de andar na lei do Senhor, Deus de Israel, de todo o coração” (II Rs 10, 31). Ou seja, ele não teve integridade de alma, mas tentou fazer aliança entre Deus e o demônio, representado pelos ídolos.

Por isso Jeú foi castigado: Hazael, Rei da Síria, atacou Israel e começou a derrotá-lo em todas as fronteiras. E Jeú “precisou chamar os assírios em seu socorro contra Hazael”. 7

Depois de ter reinado durante 28 anos na Samaria, capital do Reino de Israel, Jeú morreu. Seu filho Joacaz tornou-se rei em seu lugar (cf. II Rs 10, 35-

Peçamos a Maria Santíssima que Ela nos obtenha a graça de servirmos a Deus de todo o coração, e não apenas em parte.

Por Paulo Francisco Martos

(in Noções de História Sagrada – 74)

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1 – Cf. DARRAS, Joseph Epiphane. Histoire Génerale de l’Église depuis la Création jusqu’à nos jours. Paris : Louis Vivès. 1874. v. II, p. 653.

2 – FILLION, Louis-Claude. La Sainte Bible commentée – L’Apocalypse. Paris: Letouzey et aîné.1889, p. 790.

3 – HOLZHAUSER, Bartolomeu. Interprétation de l’Apocalypse,renfermant l’histoire des sept âges de l’Église Catholique. Paris : Louis Vivès. 1856. v. I, p. 137.

4 – Idem, ibidem, p. 139.

5 – CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Revolução e Contra-Revolução. 5. ed. São Paulo: Retornarei.2002, p. 26-27.

6 – MOLERO, Francisco X. Rodriguez. In LA SAGRADA ESCRITURA – Texto y comentario por profesores de la Compañía de Jesús. Madrid: BAC. 1968, v. II, p.694.

7 – FILLION, op. cit. v. II, p. 606.