Gaudium news > O maravilhoso e o impulso às vocações religiosas

O maravilhoso e o impulso às vocações religiosas

Redação (Sexta-feira, 23-05-2014, Gaudium Press) Diz Santo Agostinho que só há dois caminhos: o amor a Deus até o esquecimento de si mesmo, ou o amor de si mesmo até o esquecimento de Deus.

Mas como deve ser o amor de Deus? Onde se encontra Deus? Como buscar a Deus?

view (2).jpg

Deus se encontra na oração, Ele é descoberto nos sacramentos, nos Santos e almas virtuosas, e também em suas obras materiais, na Criação.

Diz o insígne Cornelio Fabro que “o ‘esse’ [o ser, a existência dos seres] expressa o ponto único e incomparável do real onde Deus se encontra com a criatura e a criatura alcança a Deus”.1 Forte e cheia de conteúdo é esta afirmação do sacerdote estigmatino, por sua vez é natural a consequência de considerar que tudo é criado por Deus e que Deus mantêm o ser de todo o criado, no que poderia chamar-se uma “criação continuada”.

A asseveração do Padre Fabro nos mostra também que uma percepção profunda dos seres pode dar-nos a conhecer a Deus, em uma via análoga a leitura de um bom catecismo.

Isto é muito importante em um mundo onde a cultura repotenciou a sensibilidade, muitas vezes em troca da racionalidade. O homem, e particularmente os mais jovens, tem uma sensibilidade viva e às vezes dominante: seus sentidos cobram uma importância extrema no conjunto das faculdades da alma. Isto o sabe a publicidade e também é um dado chave na hora de captar vocações para Deus.

Boa parte das mensagens publicitárias de nossas cidades que oprimem os sentidos, apelam a um pseudo-maravilhoso que se associa a um produto, a um estilo de vida. Essas mensagens ostentam um certo auge de beleza, verdadeira ou falsificada, que atrai de forma comumente quase irresistível a sensibilidade, e com ela o homem inteiro.

Sendo assim, por que não usar do verdadeiro maravilhoso para assim mesmo atrair vocações ao serviço de Deus?

O maravilhoso, o especialmente belo, é aquele no qual existe um auge de perfeição: “Chamamos a uma coisa bela em sentido pleno quando possui toda a perfeição requerida por sua natureza. Deste modo, dizemos por exemplo que uma gazela é bela na medida que tem a harmonia e perfeição próprias de sua natureza, e não simplesmente por ter ser”, reza um já clássico manual de boa Metafísica. 2

É portanto cristalino que o que é maravilhoso, por ser um cume de perfeição, se aproxima mais da Perfeição infinita: Deus. Quer dizer, o maravilhoso é “mais de Deus” que o que não é maravilhoso. Então, por que não usar aquilo que é mais de Deus para atrair vocações para Deus?

O auge da bondade -que é o que se busca especificamente na vida religiosa-, reclama um auge de verdade, e normalmente vai acompanhado por um auge de beleza. É por isto, por exemplo, que poderíamos dizer que a “Ordem da Pobreza”, os Franciscanos, na senda traçada por seu fundador povoaram o mundo com igrejas fulgurantemente belas, sem que se envergonhasse sua consciência. A pobreza que a todos nos é prescrita -e ainda mais a um religioso- é a de não apegar-nos aos bens deste mundo. Entretanto, um clérigo pode apegar-se a um mísero alfinete, violando o espírito de pobreza, assim como um rico pode viver na riqueza mas com os olhos voltados para o céu e no auxílio do próximo.

view (3).jpg

A questão é como nos confrontamos com os bens terrenos, sejam poucos ou muitos: buscamos neles a Deus? Se é assim, nem sequer um digno castelo será ocasião de perdição. Procuramos satisfazer nosso egoísmo? Até uma pedra será motivo de condenação.

Entretanto, não esqueçamos: o maravilhoso atrai, ou como dizia São Tomás é “belo aquilo cuja contemplação agrada”.3 E hoje em dia pode atrair mais, como acima foi afirmado. Temos que ver como o usamos, para os bons fins.

Por Saúl Castiblanco

Traduzido por Emílio Portugal Coutinho
____

1 – Fabro, Cornelio. Participación y Causalidad según Tomás de Aquino. EUNSA. 2009. Barañáin – España. P . 332

2 – Alvira, Tomás. Clavell, Luis. Melendo, Tomás. Metafísica. EUNSA. 1982p. 166

3 – Summa Theologiae, I, q.5, a.4, c.

Deixe seu comentário

Notícias Relacionadas