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Os hábitos de leitura dos brasileiros: à busca de uma solução

Em recente pesquisa promovida pelo Instituto Pró-Livro, coordenada pelo Observatório do Livro e da Leitura e executada pelo Ibope, concluiu-se que 55% da população brasileira leu um livro nos últimos três meses e 35% dos brasileiros afirmam gostar de ler nos tempos livres. Esse seria o honroso conjunto de brasileiros que é considerado pelos pesquisadores como “leitores”. Nessa augusta e nobre categoria , a pesquisa constatou que:

1) 79% tem formação superior

2) 55% são mulheres

3) 52% afirmam estar lendo revistas

4) 20% lêem textos na internet

5) 63% lêem por prazer, gosto ou necessidade espontânea e afirmam que o tema é o fato que mais influencia a escolha de um livro.

6) 84% dos leitores preferem fazê-lo em lugares silenciosos; 86% prefere ler em casa.

7) 17% afirma ler em outros idiomas (9% em inglês, 5%, Espanhol, 1%, francês e 1%, italiano); 40% dos que tem curso superior afirmam ler em outros idiomas (23% inglês, 13% espanhol e 4% em francês)

8) 57% dos compradores de livros completaram o ensino médio ou o ensino superior

9) 47% dos compradores de livros são da classe C (ganham entre R$1.750 e R$7.500 reais por mês)

10) 45% dos leitores assíduos lêem a Bíblia, que é segundo a pesquisa, o livro mais importante para o brasileiro.

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Metodologia da pesquisa

A Pesquisa quantitativa de opinião foi realizada com a aplicação de um questionário (com 60 itens) estruturado por meio de entrevistas presenciais (com duração média de 60 minutos), realizadas nos domicílios. A amostra definida representa todo o universo da população brasileira com cinco anos de idade ou mais. Assim, todo o território nacional foi coberto com 5.012 entrevistas domiciliares em todas as Unidades da Federação (25% delas foram fiscalizadas). Foi definido, inicialmente, um número de entrevistas proporcional ao tamanho de cada unidade federativa, tendo como parâmetro uma unidade municipal/setorial de 14 entrevistas por ponto. O período de campo da pesquisa foi entre 29/11 a 14/12/2007. A margem de erro máxima estimada é de 1,4%, com um intervalo de confiança de 95% (ou seja, se a mesma pesquisa for realizada 100 vezes, em 95 delas terá resultados semelhantes). Projeta-se que a população estudada foi de 172.731.959 de brasileiros.

À busca de uma solução…

O perfil do leitor brasileiro exige um comentário. O que dizer que não seja banal ou lugar comum entre os autores? Que se deve insistir na importância do hábito da leitura desde os primeiros anos da vida escolar? É óbvio. Que incentivos fiscais à indústria e ao comércio editorial no Brasil reduziriam os custos da impressão e facilitariam o acesso ao livro por parte da população? É opinião comum dos comentaristas. Que os pais deveriam educar seus filhos no gosto da leitura? Nada de mais inequívoco para os progenitores que desejam ver seus filhos desenvolverem-se humanamente. Então, o que dizer?

Órgãos governamentais e não governamentais vêm trabalhando com mérito e afinco para sanar o gargalo educacional no país. Religiosos do Brasil inteiro têm agido no âmbito social enquanto evangelizam as comunidades carentes dos subúrbios e dos sertões brasileiros.

Entretanto, de modo geral, parece-me que algumas características essenciais do povo brasileiro são totalmente esquecidas quando se procura elevá-lo do analfabetismo ou do semi-analfabetismo a um nível educacional condizente com sua privilegiada inteligência.

Que características são essas? É inegável sermos um dos povos mais inteligentes da terra. Tanto na ordem intelectual, pelo modo de ser intuitivo, quanto na ordem prática (que costumamos chamar de jeitinho), a agilidade brasileira já é proverbial aquém e além de nossos extensos limites territoriais. Ora, por causa dessa intuição, um assunto – e também um livro – só atrai a atenção do brasileiro, quando ele percebe que o tema tem correlações ou reversibilidades com suas curiosidades pessoais, assim como com sua vida prática. O objeto visado tem de estar relacionado com assuntos de que ele “goste” de pensar. Assim, parece-me ser evidente que não adianta aplicar moldes estrangeiros na indústria editorial brasileira. Seria mais ou menos como se tentassem vestir nossos compatriotas de esquimó ou de beduíno do deserto…

Por outro lado convém lembrar que por causa de uma sede comum a todos os povos, mas por mistérios da História e desígnios de Deus é mais acentuada em nossos patrícios, o homem não procura “conhecer pelo simples conhecimento”; ele procura admirar, e após ter-se embebido de admiração, ele procura conhecer o que ele admirou. Assim, o gargalo educacional do país só será efetivamente resolvido com a apresentação de “modelos de cultura”. Para se ter uma ideia dessa necessidade acentuada, sobretudo na infância e na juventude, um grupo de esportistas escoceses, durante o intervalo dos jogos foi televisionado lendo livros didáticos para crianças, a fim de estimular o público pueril e correlacionar o prestígio do esporte com a assiduidade na leitura. Através desse modo, os meninos e jovens escoceses passavam a ler com mais frequência. Ainda não se viu uma iniciativa desse gênero entre os esportistas brasileiros…

Por outro lado, no Brasil, louva-se, e com razão, a habilidade dos pés, a beleza passageira das faces e o desenvolvimento eletrônico, mas o pensamento, algo eminentemente superior, é relegado para o segundo plano da admiração. Os dramas de nossos filmes e novelas falam de crimes, paixões desenfreadas, ciúmes sem fim, mas não proporcionam arquétipos para estimular na juventude homens e mulheres de pensamento e virtude; portanto, não se usa o poder da mídia para estimular a leitura.

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O leitor já viu algum enredo das nossas telenovelas que estimulasse as atividades intelectuais? Ou a história cativante de alguém que, apesar de ter nascido em ambientes paupérrimos, com todas as condições adversas para progredir na vida intelectual, vencesse tais dificuldades, por causa da força de vontade e do amor à cultura? A vida real está cheia dessas biografias, mas o silêncio a respeito é patente. Até hoje não vi um enredo assim; se alguém viu, peço que me informe, porque ficaria encantado que houvesse.

Há ainda outro ponto para reflexão: alguns dos livros indicados à leitura no período do Ensino Médio parecem ser tão tediosos, que embora sendo assinados por grandes nomes, não atraem a atenção do brasileiro. Por que não indicar histórias de aventuras para atrair os meninos e não somente romances que fazem as delícias das meninas? Por que não se estimula os neo-leitores a que se deliciem com as aventuras escritas por Júlio Verne e outros autores do mesmo gênero?

Ainda sobre o despertar do desejo da leitura: se nosso povo demonstra tanto interesse pela literatura religiosa, por que não se procura através dessa aptidão genuína, sadia e invencível, estimular os leitores a progredir também em sua cultura? Por que não apelar para o interesse majoritário da população brasileira pelos temas religiosos?

Bem sei que alguém pode mencionar a laicidade de nossa sociedade como argumento contrário ao estimulo da literatura religiosa. Mas, se há um inegável benefício e uma admirável literatura em certos textos como, por exemplo, de um Santo Agostinho ou de um São Bernardo, dos Padres Anchieta, Vieira e Bernardes, ou ainda de outro autor religioso clássico, por que não utilizar tais textos para estimular os leitores brasileiros? O uso de tais clássicos – sobretudo se diagramados de modo atraente – não atrairia o olhar religioso de nossos patrícios mais do que romances cujo enredo por vezes mais parecem um plágio no qual se toma o cuidado de trocar o cenário e o nome dos personagens?

E como nosso povo é sumamente religioso, o cristianismo, e especialmente a Igreja Católica no Brasil, que ocupa ainda hoje no panorama religioso nacional uma preeminente influência, não poderia estimular a pastoral da leitura (religiosa de preferência) como já se fez meritoriamente com tantos outros assuntos? A longo prazo, os frutos dessa “pastoral da leitura religiosa” não seriam mais eficientes do que certas formas imediatistas de auxílio social?

São perguntas que surgem a um espírito em busca de soluções factíveis e eficientes. Que acha leitor?

Autor: Marcos Eduardo Melo dos Santos

Revisão: G. de Ridder/ J. Andrade

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