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A leitura rápida e o desperdício do sushi de 1 minuto

Redação (Terça-feira, 18-03-2014, Gaudium Press) Em meio à banalidade e tanto lixo escandaloso, pseudo-emocionante, veiculados cotidianamente pelos grandes meios de comunicação, a leitura -ou melhor, a boa leitura-, vai se constituindo cada vez mais em um refúgio, um oásis e até, porque não, em um paraíso para a restauração.

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Quanto gostaríamos que, sobretudo às novas gerações, não lhes fosse oculta a delícia de acompanhar um bom relato histórico, desses muitos que são escritos, ou de certos clássicos da literatura, ou algum ensaio de caráter teológico ou filosófico, não pedante ou crítico, mas verdadeiramente compreensível e formativo.

É claro que a leitura não pode substituir o contato humano, pois a comunicação que ali se dá é ‘por si’ muito mais rica; na relação pessoal se transmite muito mais do que as meras palavras. Entretanto, não é menos certo que uma boa leitura pode ser uma enriquecedora conversa com alguns dos maiores gênios que já existiram na humanidade. E não é todos os dias que temos a oportunidade de conversar com Churchill, com Santo Agostinho, ou mesmo com Camões, mas sim através de um livro. Gênios da escrita ou na escrita existem para todos os gostos, para todas as inteligências, e para todas as culturas. É preciso lutar um pouco para sair do cárcere imundo da banalidade de certa mídia ‘pop’ moderna, para que assim possamos encontrar um ar puro.

Mas estas linhas não são especificamente para fazer o elogio da boa leitura, mas para irmos ‘lança em riste’ contra um tipo de má leitura, não quanto ao conteúdo, mas com relação à forma: a tão alardeada “leitura rápida”.

Pois justamente a leitura que educa e constrói -e a que é profundamente agradável- é aquela que se assemelha a uma conversa, na qual compreendemos e analisamos o que diz o nosso “interlocutor-autor”, mas não só isso. Em uma conversa também emitimos nossas opiniões, nossas concordâncias e disccordâncias, vamos assumindo posições e como fundamento de tudo, exercitamos nossa capacidade de reflexão. E esta forma de leitura tem que ser feita justamente com os ritmos da conversa e não com as preocupações do estilo “fast food”, ou “fast-game”, ou ainda “fast-life”.

Por exemplo, segundo certos métodos de leitura rápida, um romance curto pode ser lido em uma hora, uma hora e meia: quer dizer, quase que no tempo de uma viagem ao interior de uma de nossas megalópolis. E entretanto, que desperdício! “Um romance não foi escrito para ser absorvido num período tão curto. Não há tempo para se envolver com os personagens, imaginar cenas e tentar adivinhar o que vai acontecer a seguir. O livro se torna um borrão”, nos diz Danilo Venticinque, em seu excelente artigo “Ler com pressa é pior que não ler“.

Não estamos dizendo que não haja vícios de leitura, como por exemplo a regressão, que não devam ser corrigidos, e que certas lentidões não mereçam melhores ritmos. Não estamos afirmando que uma visão rápida daquilo que vamos ler não sirva, por exemplo, para preparar-nos melhor para uma leitura compreensiva, reflexiva. Entretanto, tratar Verne, Dumas ou Lamartine como amigos de uma hora apenas, é algo parecido a querer assistir um bom filme em cinco minutos, ou a comer um saboroso sushi em um. Definitivamente, um absurdo, pois pode-se -com o “forward”- “ver” o filme aos pontapés, ou ainda pode-se engolir um sushi de uma só vez, mas nem se degustou o clássico, nem se saboreou o delicioso prato: pelo contrário, acabamos nos dispondo a uma má digestão.

Na mesma linha do afirmado por Venticinque no artigo citado, concordamos que programas de leitura rápida “só terão valor se os usamos para ler textos pouco importantes”, ou para encontrar rapidamente em um “maremagnum” de simplicidades o que realmente importa. “Se é para perder tempo com bobagens, que ao menos seja pouco. A internet está cheia de textos que merecem ser lidos a 1000 palavras por minuto”. Há muitos, muitos textos que “merecem um destino melhor”.

E sobretudo, nosso espírito merece ser tratado com mais educação, com mais delicadeza, pois é reflexo do Criador.

Por Saúl Castiblanco

Traduzido por Emílio Portugal Coutinho

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