Exercícios espirituais do Papa e da Cúria Romana têm início no Vaticano

Cidade do Vaticano (Segunda-feira, 14-03-2011, Gaudium Press) Começou neste domingo à noite, na Capela “Redemptoris Mater”, no Vaticano, os chamados Exercícios Espirituais da Quaresma deste ano, destinados ao Papa e a seus colaboradores mais próximos.

Com o tema “A luz de Cristo no coração da Igreja. João Paulo II e a Teologia dos Santos”, os Exercícios, uma série de orações e reflexões que acontece anualmente durante, por exemplo, a Quaresma e o tempo de Natal, estão sendo conduzidos desta vez pelo Padre François-Marie Léthel, OCD, professor da Pontifícia Faculdade Teológica “Teresianum” e prelado secretário da Pontifícia Academia de Teologia.

O pregador Padre Léthel, em entrevista à Gaudium Press

Durante toda a semana, o pontífice suspenderá suas atividades e se dedicará à oração e à reflexão sobre a figura de seu predecessor, o Servo de Deus João Paulo II, e sobre a teologia dos Santos, em uma “preparação espiritual” também para a beatificação do Papa polonês no próximo dia 1º de maio. As atividades de Bento XVI serão retomadas no próximo domingo, quando o pontífice irá à nova paróquia romana de São Corbiniano para consagrar a igreja e depois retornará ao Vaticano para o Ângelus.
Como no ano passado, o Santo Padre quis que fosse um professor e “simples padre” a conduzir os exercícios espirituais no Vaticano. De 2006 a 2009, os pregadores foram sempre cardeais eméritos.

“Estava completamente livre para escolher o tema – explicou Pe. Léthel. O Cardeal Bertone me chamou no último dia 31 de janeiro para dizer que o Santo Padre me havia escolhido como pregador. Fui logo rezar no Santuário do Divino Amor. Na oração, me veio claro que o grande acontecimento para a Igreja será a beatificação de João Paulo II, um acontecimento enorme. Me pareceu evidente que João Paulo II não era somente um Papa santo, mas também um Papa da santidade. João Paulo II, com sua espiritualidade cristocêntrica e mariana “Totus Tuus”, havia lembrado a todos o chamado à santidade, especialmente aos jovens. Fez um número enorme de beatificações e os santos tinham em sua vida um lugar especial”, declarou o novo pregador à Gaudium Press.

Ele explicou de forma mais detalhada o que o levou a optar por João Paulo II e a teologia dos Santos nestes Exercícios. “Para mim, o símbolo mais bonito deste retiro é João Paulo II, que guia, que nos dá a mão e nos dá a mão de um certo número de santos. Em primeiro lugar, há São Luís Maria de Monfort que escreveu o tratado da verdadeira devoção mariana, o escrito que teve uma grande influência na vida de Karol Wojtyla, até sua morte. Este é o primeiro dos santos de João Paulo II e imediatamente depois vem Santa Teresa de Lisieux, a única doutora da Igreja de seu pontificado. Teresa de Lisieux é uma ‘gigante’, padroeira das missões, que tem tanto a dizer com uma linguagem simples, mas profunda. João Paulo II dizia que tinha nomeado Teresa doutora da Igreja como especialista da ciência do amor”.

A atualidade do tratado mariano de Monfort para hoje permanece na figura do próprio João Paulo II, observa Pe. Léthel. “É ele que responde com o seu “Totus Tuus””, diz. Ele explica que Monfort teve uma influência enorme para tantos santos e também sobre João Paulo II, “ainda mais impressionante”. Em seu brasão há Maria ao lado de Jesus Crucificado. “Sua Mãe que se torna nossa Mãe. Todo o tratado de Monfort fala da importância deste dom. João Paulo II soube disso diretamente. Dizia todos os dias um trecho deste tratado”.

Para o pregador pontifício, a beatificação de João Paulo II será um grande convite para todo o povo.

Ontem à noite, às 18 horas (horário local), os exercícios tiveram início com a celebração das Vésperas, seguidas pela meditação introdutiva, pela Adoração e pela Benção Eucarística. O ritmo dos próximos dias será: a celebração dos Louvores, da Terceira Hora e das Vésperas, às quais se acrescentarão três meditações do pregador e se concluirá com a Adoração e a Benção Eucarística.

O tema da primeira meditação foi “A beatificação de João Paulo II na Luz de Cristo Ressuscitado, Luz do mundo, Luz que ilumina o nosso caminho de santidade (A “conversão de São Pedro” no amor de Jesus: Jo 21, 15-19)”. Os temas das meditações desta segunda são: “A grande ciência dos santos (São Luís Maria de Monfort) no Céu como na Terra: Scientia beata, scientia fidei, scientia amoris (da Fides et Ratio alla Novo Millennio Ineunte)”; “O “Totus Tuus” cristocêntrico e mariano de Karol Wojtyla, como fio condutor de toda a sua vida (Jo 19, 25-27 e Carta aos Religiosos e às Religiosas das Famílias Monfortianas de 8 de dezembro de 2003)”; e “O esplendor da caridade, da fé e da esperança vividas por João Paulo II com Maria Santíssima”.

No terceiro dia, as meditações serão dedicadas aos temas “A doutrina de São Luís Maria de Monfort, sintetizada no Tratado da Verdadeira Devoção à Santa Virgem e resumida no Segredo de Maria”; “Santa Teresa de Lisieux, Padroeira das Missões, declarada Doutora da Igreja por João Paulo II “como especialista da scientia amoris” (Novo Millennio Ineunte, n. 42). A História de uma alma e outros Escritos”; e “O cristocentrismo de Teresa: no Nome de Jesus e no Amor de Jesus são abraçados todos os Mistérios de Deus e do Homem”.

Os temas das meditações do quarto dia, por sua vez, são: “A sua nova descoberta da Misericórdia Infinita e do Amor Misericordioso, fonte de uma esperança sem limites. O pequeno caminho de confiança e de amor”, caminho seguro de santidade para todos”; “A paixão de Teresa vivida com Maria na Kenosis da fé (cf Redemptoris Mater, nº 18) para a salvação de todos os seus irmãos ateus do mundo moderno. A descoberta do “Coração da Igreja”” e “Santo Anselmo de Aosta, Doutor da “scientia fidei” como teologia “Crucis””.

O quinto dia será dedicado à figura dos grandes doutores da Igreja: “São Tomás de Aquino, Doutor da “scientia fidei” como teologia “Lucis”” ; “Santa Catarina de Siena, Doutora do Corpo e do Sangue de Cristo, empenhada para a Reforma da Igreja”; e “A paixão de Santa Joana d’Arc na Igreja “Sancta simul et semper purificando (Lumen Gentium, n.8)””.

O sexto dia terá um aspecto cultural para a 14ª meditação, que apresentará a figura do cristão francês convertido Charles Péguy e falará sobre “uma teologia poética da comunhão dos santos e da esperança”. A 15ª meditação sobre o tema, “Ser Mãe”, segundo Concepción Cabrera de Armida, leiga mística e mãe de família (declarada Venerável por João Paulo II em 1999), apresentará a figura de uma mãe mexicana de nove filhos que “viveu não somente uma maternidade humana, mas também uma imensa maternidade espiritual, especialmente na Igreja mexicana no momento das perseguições”, explicou Pe. Léthel.

A 16ª meditação por sua vez, falará sobre “A jovem leiga Chiara Luce Badano (morta aos 18 anos em 1990 e beatificada em 2010), primeira beata da Obra de Maria (Movimento dos Focolares), testemunha de Jesus Abandonado fonte da Unidade para todos os homens”.

Os exercícios espirituais se concluirão no sábado, dia 19 de março, solenidade de São José e dia da festa do nome (onomástico) do Santo Padre, batizado Joseph Ratzinger. Por isto o tema da 17ª e última meditação será: “São José Redemptoris Custos, Esposo de Maria e Patrono da Igreja”.

Os exercícios espirituais também serão realizados pela Guarda Suíça e pelos gendarmes. Para os membros do Corpo da Gendarmeria e bombeiros, os exercícios espirituais começam hoje na Casa Generalícia das Freiras Canossianas em Roma e durarão três dias, um dia para cada grupo. O pregador será Pe. Gioele Schiavella, O.S.A., Capelão do Corpo.

A Guarda Suíça começou seus exercícios espirituais na quinta-feira passada, na casa de retiro em Ariccia, perto de Roma. Os oficiais estão divididos em três grupos, dois de língua alemã e um de francês. Os sermões são conduzidos pelo Capelão da Polícia de Baviera, na Alemanha (para os grupos de língua alemã), e o Capelão Militar da França (para o grupo de franceses).

Anna Artymiak