Gaudium news > Igreja Católica na Nicarágua vive outro Natal sob perseguição de Daniel Ortega

Igreja Católica na Nicarágua vive outro Natal sob perseguição de Daniel Ortega

A Igreja na Nicarágua viveu mais um Natal “a portas fechadas”, sem poder expressar sua alegria e fé fora das igrejas, nas ruas, nas praças ou com demonstrações visíveis em suas casas.

Foto: Parroquia San Miguel Arcángel - Masaya

Foto: Parroquia San Miguel Arcángel – Masaya/ Facebook

Redação (30/12/2025 15:22, Gaudium Press) Na Nicarágua, a Igreja Católica vive mais um Natal sob perseguição; as missas são monitoradas, as procissões são proibidas, os sacerdotes forçados ao exílio. Uma Igreja quase “asfixiada” por um regime que impede até mesmo turistas de entrarem no país com uma Bíblia.

Apesar da repressão, a Igreja Católica continua a testemunhar sua fé e sua esperança, como demonstra a recente ordenação de novos sacerdotes na catedral de Manágua.

A Igreja da Nicarágua viveu mais um Natal “a portas fechadas”, sem a possibilidade de manifestar a sua alegria e a sua fé fora dos templos, nas ruas, nas praças, com sinais visíveis nas suas casas. Isto vem acontecendo há anos, desde que a repressão, iniciada em 2018 após os grandes protestos populares, se intensificou.

A fé continua viva. Há algumas semanas, a celebração de La Purísima, título com que se venera na Nicarágua Maria Imaculada, padroeira do país, foi marcada pela vigilância opressiva da polícia e das estruturas dos CPC (Conselhos do Poder Cidadão), que visitaram altares domésticos não sinalizados, tirando fotos e registrando os nomes das famílias. Essa intimidação gerou medo e censura em uma das tradições religiosas mais arraigadas do país. Muitas famílias contrárias ao regime evitaram exibir símbolos como as bandeiras azul e branca (cores da oposição) ou sinais de devoção, substituindo-os por flores de cores menos chamativas.

Israel González Espinoza, jornalista nicaraguense exilado na Espanha, declara à agência SIR:

“O nível de perseguição religiosa promovido pelo regime de Ortega beira a paranoia. Não só a entrada de livros e jornais é proibida, mas agora a própria Bíblia é vetada no país, como se fosse uma leitura ‘subversiva’. Na realidade, quando se lê atentamente as Sagradas Escrituras, percebe-se que a Palavra de Deus sempre ilumina e liberta as consciências.”

Há um ano, o Papa Francisco afirmava em uma carta ao povo da Nicarágua que a consciência é “a intimidade do nosso coração, onde reside a liberdade dos filhos e das filhas de Deus, e ninguém pode nos tirá-la”. Mesmo que o regime de Ortega persista em sua perseguição religiosa e na violação sistemática de todos os direitos humanos no país, o Evangelho e a vida da Igreja na Nicarágua continuarão a avançar, pois o martírio e a perseguição sempre são sementes de novos cristãos.

Martha Patricia Molina, advogada e ativista, realiza há anos um minucioso “recenseamento” das perseguições sofridas pela Igreja Católica e por outras igrejas cristãs. O relatório elaborado por ela, intitulado *Nicarágua: uma Igreja perseguida*, já está em sua sétima edição. “A ditadura Ortega-Murillo continua perseguindo tudo o que diz respeito à liberdade religiosa na Nicarágua”, comentou recentemente a ativista. Missas monitoradas, recitação de novenas natalinas proibidas, padres perseguidos e ameaçados, roubos em paróquias, intimidações para impedir qualquer denúncia — inclusive por parte dos leigos. Até acólitos menores de idade foram convocados ou “visitados” em suas casas para assinar documentos sem sequer lê-los previamente.

Ao todo, 304 pessoas — bispos, sacerdotes, seminaristas, diáconos e religiosas — não exercem mais sua missão pastoral na Nicarágua. Neste mês de dezembro, três sacerdotes nicaraguenses que estavam no exterior foram informados de que sua autorização de entrada no país havia sido revogada.

“Penso no meu país, a Nicarágua, onde a ditadura refinou diabolicamente os antigos métodos de Herodes. Eles não apenas forçam cidadãos honestos e inocentes ao exílio, mas também os proíbem de entrar em seu próprio país, confiscam suas propriedades e ameaçam e perseguem suas famílias”, afirmou Dom Silvio José Báez, bispo auxiliar de Manágua, exilado em Miami.

Em agosto passado, a última edição do relatório de Martha Patricia Molina registrava 1.010 ataques diretos contra a Igreja, o confisco de pelo menos 36 bens imobiliários e a proibição de 16.564 procissões desde abril de 2018.

Nos últimos meses, novas agressões foram registradas, embora em número menor que nos anos anteriores. Esses números, porém, não devem ser interpretados como um afrouxamento da pressão do regime, mas sim como sinal de que a Igreja está hoje extremamente enfraquecida e exausta por uma repressão implacável.

“Diante do poder do opressor, poder perante o qual muitas vezes nos sentimos impotentes, não devemos cair no desespero, pensando que tudo é inútil e que não há nada a fazer”, declarou Dom Silvio José Báez durante a missa de 21 de dezembro passado.

Em um clima de medo, vigilância e exílio forçado, a Igreja Católica da Nicarágua continua, apesar de tudo, cumprindo sua missão espiritual e pastoral. Privada de visibilidade pública, enfraquecida em suas estruturas, ela permanece presente na consciência dos fiéis e na vida interior de um povo sofrido. Enquanto o regime tenta reduzir a fé ao silêncio, essa Igreja perseguida testemunha, por sua perseverança e fidelidade, que a esperança cristã não se deixa confiscar nem proibir, mesmo durante a repressão mais dura.

Com informações agensir.it e Tribune Chrétienne 

Deixe seu comentário

Notícias Relacionadas