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Papa Leão XIV celebra primeira Santa Missa de Natal de seu pontificado

Confira a homilia completa proferida pelo Santo Padre na Basílica de São Pedro, no Vaticano.

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Cidade do Vaticano (24/12/2025 19:31, Gaudium Press) Apresentamos abaixo a homilia completa primeira da Santa Missa da noite de Natal celebrada pelo Papa Leão XIV em seu pontificado. Às 22h de hoje (horário de Roma – 18h no horário de Brasília), 24 de dezembro, o Santo Padre presidiu a celebração eucarística por ocasião da Solenidade do Natal do Senhor na Basílica do Vaticano.

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Queridos irmãos e irmãs,

Durante milênios, em todas as partes da Terra, os povos perscrutaram o céu, dando nomes e formas às silenciosas estrelas: na sua imaginação, liam os acontecimentos do futuro, procurando lá no alto, entre os astros, a verdade que faltava cá em baixo, entre as casas. Naquela escuridão, como que a tatear, eles permaneciam confusos com os seus próprios oráculos. Todavia, nesta noite, «o povo que andava nas trevas viu uma grande luz; habitavam numa terra de sombras, mas uma luz brilhou sobre eles» (Is 9, 1).

Eis a estrela que surpreende o mundo, uma centelha recém-acesa e flamejante de vida: «Hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador, que é o Messias Senhor» (Lc 2, 11). No tempo e no espaço, onde quer que estejamos, vem Aquele sem o qual nem mesmo teríamos existido. Vive conosco Aquele que por nós dá a vida, iluminando com a salvação a nossa noite. Não há trevas que esta estrela não ilumine, porque à sua luz toda a humanidade vê a aurora de uma existência nova e eterna.

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É o Natal de Jesus, o Emanuel. No Filho feito homem, Deus não nos dá algo, mas a si mesmo, «para nos resgatar de toda a iniquidade e formar para si um povo puro» (Tt 2, 14). Nasce na noite Aquele que da noite nos resgata: o vestígio do dia que amanhece, já não deve procurar-se lá longe, nos espaços siderais, mas inclinando a cabeça, para o estábulo ao lado.

Com efeito, o sinal claro dado a um mundo às escuras é «um menino envolto em panos, deitado numa manjedoura» (Lc 2, 12). Para encontrar o Salvador, não é preciso olhar para cima, mas contemplar o que está embaixo: a onipotência de Deus resplandece na impotência de um recém-nascido; a eloquência do Verbo eterno ressoa no primeiro choro de um bebé; a santidade do Espírito brilha naquele corpinho recém-lavado e envolto em panos. É divina a necessidade de cuidado e calor, que o Filho do Pai partilha na história com todos os seus irmãos. A luz divina que irradia deste Menino ajuda-nos a ver o homem em cada vida nascente.

Para iluminar a nossa cegueira, o Senhor quis revelar-se como homem ao homem, sua verdadeira imagem, segundo um projeto de amor iniciado com a criação do mundo. Enquanto a noite do erro obscurecer esta verdade providencial, então «não há espaço sequer para os outros, para as crianças, para os pobres, para os estrangeiros» (Bento XVI, Homilia na noite de Natal, 24 de dezembro de 2012). Estas palavras do Papa Bento XVI, lembram-nos que na terra não há espaço para Deus se não houver espaço para o homem: não acolher um significa não acolher o outro. Em vez disso, onde há lugar para o homem, há lugar para Deus: então um estábulo pode tornar-se mais sagrado do que um templo e o ventre da Virgem Maria é a arca da nova aliança.

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Caríssimos, admiremos a sabedoria do Natal. No Menino Jesus, Deus dá ao mundo uma vida nova: a sua, para todos. Não uma ideia que resolve todos os problemas, mas uma história de amor que nos envolve. Perante as expectativas dos povos, Ele envia um bebé, para que seja palavra de esperança; perante a dor dos miseráveis, Ele envia um indefeso, para que seja força para se levantarem; perante a violência e a opressão, Ele acende uma luz suave que ilumina com a salvação todos os filhos deste mundo. Como observava Santo Agostinho, «a soberba humana esmagou-te tanto que só a humildade divina podia levantar-te» (Sermo in Natale Domini 188, III, 3). Sim, enquanto uma economia distorcida leva a tratar os homens como mercadoria, Deus torna-se semelhante a nós, revelando a infinita dignidade de cada pessoa. Enquanto o homem quer tornar-se Deus para dominar o próximo, Deus quer tornar-se homem para nos libertar de toda a escravidão. Será este amor suficiente para mudar a nossa história?

A resposta surge logo que, como os pastores, despertamos da noite de morte para a luz da vida nascente, contemplando o Menino Jesus. Sobre o estábulo de Belém, onde Maria e José, cheios de admiração, velam o Recém-nascido, o céu estrelado torna-se «uma multidão do exército celeste» (Lc 2, 13). São hostes desarmadas e desarmantes, porque cantam a glória de Deus, cuja manifestação na terra é a paz (cf. v. 14): efetivamente, no coração de Cristo palpita o vínculo que une no amor céu e terra, Criador e criaturas.

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Por isso, há exatamente um ano, o Papa Francisco afirmou que o Natal de Jesus reaviva em nós «o dom e o compromisso de levar a esperança onde ela se perdeu», porque «com Ele a alegria floresce, com Ele a vida muda, com Ele a esperança não desilude» (Homilia na noite de Natal, 24 de dezembro de 2024). Com estas palavras, começou o Ano Santo. Agora que o Jubileu se aproxima do seu termo, o Natal é para nós um tempo de gratidão e missão. Gratidão pelo dom recebido, missão para o testemunhar ao mundo. Como canta o Salmista: «Proclamai, dia após dia, a sua salvação. / Anunciai aos pagãos a sua glória / e a todos os povos, as suas maravilhas» (Sl 96 ,2-3).

Irmãs e irmãos, a contemplação do Verbo feito carne suscita em toda a Igreja uma palavra nova e verdadeira: proclamemos, então, a alegria do Natal, que é festa da fé, da caridade e da esperança. É festa da fé, porque Deus se faz homem, nascendo de uma Virgem. É festa da caridade, porque o dom do Filho redentor se realiza na dedicação fraterna. É festa da esperança, porque o Menino Jesus a acende em nós, tornando-nos mensageiros da paz. Com estas virtudes no coração, sem temer a noite, podemos ir ao encontro do amanhecer do novo dia. (EPC)

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