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Leão XIV: na reta final do Jubileu do Papa Francisco

Com a nomeação do novo arcebispo de Nova York, há motivos para pensar que testemunhamos o fim da era Francisco.

Foto: Vatican News

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(22/12/2025 16:27, Gaudium Press) Com a nomeação do novo Arcebispo de Nova York, há motivos para pensar que vimos o fim da era Francisco, pelo menos no que diz respeito às nomeações episcopais.

O Arcebispo Ronald Hicks, escolhido para suceder o Cardeal Timothy Dolan como Arcebispo de Nova York, tem um perfil que muitos consideram tipicamente franciscano.

Por um lado, Hicks foi auxiliar do Cardeal Blase Cupich em Chicago antes de ser nomeado para a sé sufragânea de Joliet, e Cupich é amplamente visto como tendo sido os olhos e ouvidos de Francisco nos Estados Unidos.

A nomeação, no entanto, admite múltiplas interpretações. É verdade que o novo Arcebispo de Nova York foi o braço direito do Cardeal Cupich em Chicago, mas Hicks também foi o homem que o falecido Cardeal Francis George de Chicago nomeou, in illo tempore, para dirigir os seminários arquidiocesanos.

Assim, a nomeação de Hicks poderia ser também uma indicação final e direta de como Leão XIV está gerenciando a transição. Os procedimentos para a sucessão do Cardeal Dolan começaram assim que ele completou 75 anos, em fevereiro passado, porque Francisco queria substituir Dolan antes de Cupich, embora Cupich seja mais velho, tendo completado 75 anos um ano antes.

A percepção de proximidade de Dolan com o governo Trump e com o próprio Trump não foi inteiramente irrelevante na decisão. Dolan, como se lembram, foi convidado para proferir a oração na posse do segundo mandato presidencial de Trump.

Leão XIV não bloqueou o processo de nomeação. Não acelerou a transição de Cupich, como poderia ter sido possível, e não tanto por ser amigo do Cardeal Cupich. Ele deixou claro, em um encontro com os bispos italianos, que em geral ele prefere que os bispos permaneçam no cargo até os 75 anos e que, apenas para os cardeais, poderia ser considerada uma prorrogação de um ou dois anos.

Em vez disso, Leão escolheu o perfil com as características mais de centro. Um homem do Cardeal George, mas também um homem do Cardeal Cupich. Um arcebispo, em suma, que sabe se posicionar no centro, sabe dialogar e, acima de tudo, é considerado alheio à polarizações.

Alguns argumentam que, talvez, se o Papa Francisco estivesse vivo, a escolha teria recaído sobre um bispo mais polarizador, como ocorreu com a nomeação do Cardeal Robert McElroy como Arcebispo de Washington, DC.

Talvez sim, talvez não. Podemos notar, em todo caso, que Leão não acelerou nem freou o processo. Ao mesmo tempo, ele agiu em continuidade prudente com o Papa Francisco.

Em relação às nomeações de bispos, houve leves ajustes, mas sem mudanças radicais. Aqueles que veem nessas circunstâncias e decisões um Leão que é essencialmente um Francisco II, no entanto, estão perdendo a visão do todo por se concentrarem nos detalhes. O Cardeal Robert Prevost, como prefeito do Dicastério para os Bispos, foi encarregado de gerenciar o processo de transição e já trabalhava para encontrar candidatos não polarizados.

Candidatos a bispo, em resumo, que pudessem fazer parte de uma mudança geracional tão necessária, e não apenas nos Estados Unidos. Agora, como Papa Leão XIV, o mesmo homem está em posição de efetivar essa mudança geracional.

Leão XIV é, de fato, um papa da nova geração, fora do debate do Concílio Vaticano II, mais pragmático na gestão das crises do nosso tempo e menos suscetível à polarização. E esse é provavelmente o tipo de bispo que esperamos. Bispos capazes de dizer a verdade e, ao mesmo tempo, ficar ao lado dos menos privilegiados. Bispos para todos, nem progressistas nem conservadores. Bispos difíceis de rotular.

Isso também diz muito sobre a forma como Leão XIV pretende governar a Igreja.

A transição não foi imediata, e muitos observam que vários temas deixados pelo Papa Francisco ainda estão por resolver. Mencionam-se frequentemente as questões mais midiáticas, como o julgamento do Padre Marko Ivan Rupnik, acusado de abusos realmente hediondos, ou o julgamento sobre a gestão dos fundos da Secretaria de Estado, para o qual há um recurso pendente.

Há amplos motivos para a atenção e o escrutínio da mídia sobre os casos e questões de grande visibilidade. Leão XIV, no entanto, se encontra gerenciando uma crise mais profunda. Ele decidiu, por ora, realizar alguns pequenos ajustes na governança e entender como realmente mudar a estrutura.

Sabemos que haverá um consistório nos dias 7 e 8 de janeiro, e sabemos que os cardeais foram convocados no início diretamente pela Secretaria de Estado, e só depois o decano do colégio dos cardeais enviou uma comunicação formal. Sabemos que as três sessões de debate serão moderadas pelo Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado do Vaticano, com o papa, é claro, presidindo. Mas não sabemos os temas — houve vazamentos de uma carta que o Papa supostamente enviou aos cardeais, mas há poucas evidências disso —, nem sabemos se o consistório pode ser considerado uma nova forma de governança.

Essa convocação um tanto misteriosa, no entanto, revela outro aspecto da personalidade de Leão XIV. Ele é um papa que escuta, que raramente expressa sua posição, mas que quer envolver o maior número possível de pessoas. Convocar um consistório para debater significa colocar os problemas na mesa e esperar encontrar uma solução compartilhada. Leão XIV busca a comunhão, em vez da oposição. Busca a comunidade, em vez de exercer liderança.

Nisso, ele é verdadeiramente um frade. Isso também é evidente em sua decisão muito prática de não interromper os processos iniciados pelo Papa Francisco e de prosseguir com as nomeações como já estavam sendo previstas, ou pelo menos como se pensa que estavam previstas.

O pontificado de Leão XIV ainda não começou de fato.

A partir do pequeno ajuste que levou à nomeação do Arcebispo Hicks para Nova York, no entanto, podemos entrever algo do que será este pontificado. Um pontificado não de ruptura, mas de ajuste. Não um pontificado de restauração. Um pontificado de renovação, mas dentro da tradição.

Enfim, este pontificado será uma busca pelo equilíbrio.

 Artigo de Andrea Gagliarducci, publicado originalmente em inglês em Monday Vatican, 22-12-2025. Tradução Gaudium Press.

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