“O ministério sacerdotal exige fidelidade e comunhão”, assegura Leão XIV
Na Carta Apostólica ‘Uma fidelidade que gera futuro’, o Papa reflete sobre a identidade, a missão e o futuro do ministério presbiteral.
Cidade do Vaticano (22/12/2025 12:33, Gaudium Press) Na manhã desta segunda-feira, 22 de dezembro, o Papa Leão XIV publicou a Carta Apostólica ‘Uma fidelidade que gera futuro’, por ocasião dos 60 anos dos Decretos conciliares ‘Optatam totius’ e ‘Presbyterorum Ordinis’. No Documento, o Santo Padre reflete sobre a identidade, a missão e o futuro do ministério presbiteral.
A fidelidade sacerdotal como caminho que gera futuro para a Igreja está no centro da Carta Apostólica, na qual o Pontífice propõe uma releitura atualizada da identidade e da missão dos presbíteros, à luz das transformações culturais, sociais e tecnológicas do nosso tempo. Também são tratadas a formação permanente, fraternidade, sinodalidade e discernimento no uso das mídias, convidando os sacerdotes a uma fidelidade vivida como dom, conversão e serviço à evangelização.
Nascimento da vocação e a formação permanente
Logo no início do documento, o Pontífice ressalta que toda vocação nasce do encontro pessoal com Jesus, “que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo”. A fidelidade à vocação fortalece-se quando o sacerdote não perde a memória daquele primeiro chamado e permanece unido a Cristo. “Ao longo de toda a vida somos sempre ‘discípulos’, com o constante anseio de nos configurarmos a Cristo. Apenas esta relação de obediente seguimento e fiel discipulado pode manter a mente e o coração na direção certa, apesar das perturbações que a vida reserva”, assegura.
A formação permanente é amplamente tratada na Carta, sendo definida como condição indispensável para manter vivo o dom recebido na Ordenação. “A fidelidade ao chamamento não é imobilismo ou fechamento, mas um caminho de conversão quotidiana”, diz o Santo Padre, frisando que a formação não pode se limitar ao tempo do Seminário.
Abusos, abandono do ministério e fraternidade presbiteral
Tratando sobre os abusos e o abandono do ministério por parte de alguns sacerdotes, o Pontífice insiste na necessidade de uma formação integral que assegure “o crescimento e a maturidade humana”, juntamente com uma vida espiritual sólida. Segundo Leão XIV, o seminário deve ser “uma escola de afetos”, onde se aprende a amar como Cristo, para que o sacerdote seja sempre “ponte, não obstáculo ao encontro com Cristo”.
Já sobre a fraternidade presbiteral, o Papa destaca que ela não é apenas um ideal ou um esforço organizativo, mas “um dom inerente à graça da Ordenação”. Citando o Concílio, ele explica que os presbíteros “são irmãos entre os irmãos, membros de um só e mesmo corpo de Cristo”. A fidelidade à comunhão exige superar o individualismo e cuidar concretamente uns dos outros, sobretudo dos sacerdotes mais sós, doentes ou idosos, e questiona “como poderíamos nós, ministros, ser construtores de comunidades vivas, se entre nós não houvesse antes de tudo uma fraternidade efetiva e sincera?”.
O Papa exortou aos presbíteros a cultivarem relações marcadas pela escuta, pela colaboração e pelo reconhecimento dos carismas dos leigos. Citando o ‘Presbyterorum Ordinis’ ele afirma que os presbíteros “devem descobrir com sentido de Fé os carismas, humildes ou excelentes, que sob múltiplas formas são concedidos aos leigos”. O ministério sacerdotal encontra novas possibilidades de fecundidade quando supera modelos de liderança isolada e se abre a uma condução mais colegial e missionária.
A lógica da eficiência e do ativismo
O Pontífice alertou para duas tentações opostas presentes na missão: a lógica da eficiência e do ativismo, que mede o valor do sacerdote pela quantidade de atividades realizadas, e o fechamento defensivo que paralisa o impulso evangelizador. A resposta está na caridade pastoral, definida como “o princípio que unifica a vida do presbítero”. Neste contexto está inserida uma importante reflexão dedicada ao discernimento sobre a visibilidade pública do sacerdote e o uso dos meios de comunicação: “cada sacerdote deve ‘desaparecer para que Cristo permaneça, fazer-se pequeno para que Ele seja conhecido e glorificado […] a exposição mediática, o uso das redes sociais e de todos os instrumentos hoje à disposição devem ser sempre avaliados com sabedoria, tendo como paradigma de discernimento o serviço à evangelização”.
Leão XIV manifesta ainda seu desejo de um renovado impulso vocacional na Igreja, sublinhando que “não há futuro sem cuidar de todas as vocações” e que “a escassez de vocações sacerdotais exige que todos reflitam sobre a fecundidade das práticas pastorais da Igreja”. Segundo ele, “é necessário que tenhamos a coragem de fazer propostas fortes e libertadoras aos jovens, disponibilizando cada vez mais nas Igrejas particulares os ambientes e as formas de pastoral juvenil impregnadas de Evangelho, onde as vocações ao dom total de si possam manifestar-se e amadurecer”. O Papa conclui a Carta Apostólica recordando que “o sacerdócio é o amor do coração de Jesus. Um amor tão forte que dissipa as nuvens da rotina, do desânimo e da solidão; um amor total que nos é dado em plenitude na Eucaristia. Amor eucarístico, amor sacerdotal”. (EPC)







Deixe seu comentário