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Monsenhor Gänswein reconciliou-se com Papa Francisco? Compila testemunhos para beatificação de Bento XVI?

O atual núncio nos países bálticos foi entrevistado pelo jornal Il Tempo.

Foto: Vatican News

Foto: Vatican News

Redação (16/12/2025 14:08, Gaudium Press) Em uma entrevista realizada por Francesco Capozza ao jornal Il Tempo, Monsenhor Georg Gänswein, ex-secretário e homem de confiança do Papa Bento XVI, falou detalhadamente sobre os eventos que envolveram seus importantes papéis no Vaticano. O atual Núncio Apostólico junto às Repúblicas Bálticas da Estônia, Letônia e Lituânia relembrou como, imediatamente após a morte do Papa Emérito Bento XVI, foi solicitado a retornar imediatamente à sua diocese de origem, Freiburg, sem que o Papa Francisco lhe confiasse quaisquer funções – uma ocorrência incomum para um prelado que havia desempenhado funções tão exigentes para um Pontífice.

Capozza não deixa de notar um certo toque surrealista no cenário onde se desenrola a entrevista: a Casa Santa Marta, ainda marcada pela presença do Pontífice anterior, que a escolheu como sua residência, e onde o atual núncio podia dizer que não era inteiramente bem-vindo. Mas os tempos mudam.

Questionado pelo jornalista sobre uma reconciliação recente com o Papa Francisco, ele respondeu relembrando a audiência que solicitou ao Papa a respeito de sua situação, após a qual recebeu o cargo de Núncio Apostólico.

“Reconciliação talvez seja um termo exagerado”, responde Mons. Gänswein. Como sabem, logo após o funeral de Bento XVI, o Papa Francisco decidiu que eu deveria voltar imediatamente à minha diocese natal, Friburgo. Entretanto, não me foi atribuída nenhuma função; algo incomum para o secretário de um pontífice falecido. Até pessoas que não eram exatamente amigas me confessaram que, de fato, o tratamento que eu havia recebido tinha sido excessivamente duro. Um ano depois, em 31 de dezembro de 2023, primeiro aniversário da morte de Bento XVI, fui a Roma para celebrar uma missa no altar da Cátedra de São Pedro e outra junto ao seu túmulo, nas Grutas do Vaticano. Foi uma das Memores Domini (consagradas leigas que cuidaram de Joseph Ratzinger durante todo o seu pontificado e até à sua morte) que me aconselhou a solicitar uma audiência com o papa. Eu havia planejado ficar apenas dois dias e achava difícil conseguir. Enfim, pensei nisso durante uma noite e, no dia seguinte, pedi um encontro com Francisco.

A audiência foi concedida imediatamente, e as quatro Memores me acompanharam. Assim que nos sentamos, o papa me perguntou: “Como está Friburgo?”. Respondi com franqueza: “Mal, Santidade. Depois de todos esses anos de intensa atividade, não fazer nada dói meu coração, minha alma e meu espírito’. Bergoglio disse que pensaria sobre o assunto, mas que eu deveria apresentar um breve relatório sobre nossa conversa à Secretaria de Estado. Assim o fiz e, alguns meses, fui informado de que o Papa Francisco havia decidido me designar uma Nunciatura”.

O arcebispo também falou sobre o livro Dio é la vera realtà (Deus é a verdadeira realidade), que reúne a vida e o pensamento de Bento XVI. A apresentação desse livro foi um dos eventos que trouxe Mons. Gänswein a Roma nos últimos anos.

Trata-se, como explica Monsenhor Ganswein, do segundo volume que contém as homilias do Papa Emérito: “Todos os domingos, de 2013 até o final de 2018, quando sua voz começou a enfraquecer, o Papa Bento XVI pregava, e talvez nesses anos tenha proferido suas homilias e sermões mais belos e significativos. Com as Memores, consideramos oportuno registrá-los, mas Bento XVI nunca soube disso”.

A Fundação Ratzinger decidiu publicá-los precisamente para que o legado teológico do falecido Pontífice não se perdesse.

Ainda mais porque suas homilias, assim como sua lectio magistralis, apresentavam frequentemente um caráter profético, como sublinha o Núncio, a partir da lectio de 13 de maio de 2004, “O autodesprezo do Ocidente”, na qual ele considerou o paradoxo de um “multiculturalismo continuamente incentivado e favorecido, que não pode existir sem pontos de referência que partam de seus próprios valores e, certamente, não pode existir sem respeito pelo sagrado”, e acrescentou: “O Ocidente tenta se abrir de maneira louvável à compreensão e aos valores externos, mas já não se ama e agora só vê o deplorável e destrutivo de sua própria história, não sendo capaz de perceber o que é grandioso e puro”

Relação com a música

Outro evento em que o arcebispo esteve envolvido foi a entrega do Prêmio da Fundação Ratzinger ao maestro Riccardo Muti, um prêmio concedido anualmente às figuras mais ilustres do mundo da ciência, da história e da cultura. Nessa ocasião, o maestro dirigiu um magnífico concerto na presença do Papa Leão XIV.

Na entrevista, o prelado recordou a especial relação de Bento XVI com a música clássica, sendo o próprio Bento músico e crente convicto da grande importância da música sacra na liturgia e, portanto, na própria oração.

Audiência com o Papa Leão XIV

Interrogado sobre suas impressões do novo Pontífice, o Arcebispo Georg não escondeu seus pensamentos e enfatizou as diferenças entre o Papa Francisco e o Papa Leão XIV, especialmente quanto à “centralidade de Cristo”, que se reflete em suas homilias e em suas palavras como pastor universal da Igreja.

Desde o momento em que Leão XIV apareceu na loggia central da Basílica de São Pedro para seu discurso inaugural e a bênção Urbi et Orbi, Gänswein percebeu uma mudança. As impressões visuais e acústicas divergiam marcadamente dos doze anos anteriores — positivamente. “Imediatamente ficou evidente que algo realmente havia mudado”, observa ele. Nestes primeiros sete meses, Leão XIV irradiou “serenidade e paz”, restaurando “a centralidade de Cristo” ao primeiro plano das homilias e ensinamentos papais.

Documentos para o processo de beatificação de Bento XVI

Por fim, na entrevista foi mencionada a compilação de documentos, iniciada pelo arcebispo Georg, sobre diversos eventos milagrosos atribuídos ao falecido Papa Emérito Bento XVI, que poderiam, no futuro, dar início ao processo de beatificação, apesar de a Igreja ainda exigir que se esperem pelo menos cinco anos após a morte do possível beato.

“Há algum tempo, comecei a receber inúmeros e-mails e cartas com testemunhos de eventos milagrosos ocorridos após orações invocando o Papa Bento XVI. Esses testemunhos chegam de todas as partes do mundo, muito detalhados e precisos. Eu os guardo à medida que chegam. Quando contatei o Dicastério para as Causas dos Santos, fui informado de que não há nenhum processo canônico aberto e, portanto, eu mesmo deveria coletar as informações. Além disso, a Igreja, eu diria sabiamente, estabelece que, antes de abrir um processo canônico nesse sentido, é necessário aguardar pelo menos cinco anos após a morte do possível beato, exceto, é claro, nos casos expressamente decididos e pela vontade inquestionável do Sumo Pontífice.”

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