Benny Lai, o primeiro pontificado sem ele
“Resta o nome ‘vaticanista’, cunhado por Benny Lai, que ficará para sempre na história. Resta não só a memória, mas também o exemplo”.
(13/12/2025 08:41, Gaudium Press) É a primeira vez na história desta profissão que Benny Lai não viu um Papa ser eleito. Ele faleceu pouco depois da eleição do Papa Francisco, e havia acompanhado os conclaves que elegeram João XXIII, Paulo VI, João Paulo I, João Paulo II e Bento XVI. Benny Lai não era apenas parte da história do vaticanismo. Ele era a história.
Por isso, eu me perguntava o que ele teria dito sobre este novo pontificado. Como ele teria comentado, como teria julgado as perguntas dos colegas. Enfim, porque Benny Lai observava os colegas com atenção, ponderava suas perguntas, tentava ler dentro deles.
Um pouco como fazia com a galeria de personagens que nos presenteou ao longo de sua vida, e que se encontram em seus diários, “Il Mio Vaticano” (Meu Vaticano), mas também em seus “Racconti vaticani” (Contos Vaticanos). Um pouco como fazia na vida, quando seu modo brusco de agir não significava distanciar-se das pessoas. Era, antes, a sua linguagem, o seu modo de se aproximar, a sua provocação para compreender a partir das reações. Benny Lai era um lutador de judô das palavras e das relações, jogava na defensiva sem nunca se expor, mas sabia atacar quando era necessário, com uma ironia cortante e com aquele meio sorriso que fazia sempre que sabia que tinha acertado em cheio.
No fim de sua vida, Benny Lai sempre dizia que aquilo que estava vivendo já não era mais o “seu Vaticano”. Em 2011, ele foi convidado para um Cortina Incontra[1], e essa é a única edição cujo vídeo não consigo encontrar. Mas lembro-me vividamente do que ele disse em um debate que girava em torno dos livros escandalosos sobre a Igreja e do primeiro Vatileaks: “A Igreja deixou de ser ela mesma. A Igreja quer ser demasiado secular”.
Leigo de profissão e agnóstico por vocação inicial e desencanto geral, Benny Lai não era o que se poderia definir como “um beato”. Mas ele havia aprendido a apreciar a linguagem da Igreja. Ele havia estudado seus símbolos, dado vida à história, tentado tornar plásticas e evidentes as pessoas da Igreja, e fazia isso porque gostava delas pela coerência, pela capacidade de manter um ponto de princípio, pelo pragmatismo que nunca deixava de lado a história. O equilíbrio dos homens da Igreja era difícil, assim como o dos jornalistas que faziam cobertura do Vaticano.
Não é de se surpreender, portanto, que Benny Lai tenha construído sua relação mais privilegiada com o Cardeal Giuseppe Siri, a quem ele descreveu como “O Papa não eleito” em um livro inesquecível. Porque o Cardeal Siri era uma pessoa franca, direta, mas que mantinha uma certa graça nessa franqueza. Benny Lai não apenas se identificava com o Cardeal Siri. Ele era fascinado por ele.
No entanto, se Siri se tivesse tornado Papa, Benny Lai certamente não teria usado o privilégio do conhecimento. Teria mantido a discrição, teria dosado as informações, preferindo ensinar em vez de impor.
O início do pontificado do Papa Francisco foi, para Benny, uma ruptura com o “Vaticano em voz baixa” que ele tinha descrito. Ele só viu o início, mas isso foi suficiente para Benny perceber a mudança, a mudança de paradigma. Não era mais um Vaticano que não usava mais sua linguagem, como ele havia dito em Cortina Incontra. Havia um passo adicional, um desvio de narrativa, quase como se a história do Vaticano fosse agora filtrada por lentes diferentes e, assim, sentissem vergonha de quem haviam sido. Porque a glória não é algo a ser evitado, para cavaleiros como Benny Lai. A glória deve ser compreendida, celebrada, abraçada e vivida com humildade. É uma nuance essencial.
Mas hoje Benny não estaria entre os defensores do retorno ao antigo, porque saberia que nada volta a ser igual a si mesmo. Ele apreciaria o retorno de alguns símbolos – a mozzetta vermelha, por exemplo –, mas provavelmente já estaria em busca de uma nova simbologia, de uma nova linguagem. Porque Benny Lai compreendia os sinais dos tempos e procurava antecipar-se aos tempos.
Hoje, mais do que falar de Leão XIV, provavelmente estaria conversando com os cardeais para entender o que está mudando e o que não está, para recolher rumores em voz baixa, tentando decifrar uma tendência nas novas linguagens pontifícias que possa ser um prenúncio do futuro.
Eu o vejo, e o vejo com sua voz um pouco rouca, mas intensa e com um tom decidido e peremptório, abordando um cardeal na rua e perguntando-lhe diretamente: “Então, eminência, este consistório?” E hoje eu o vejo observando e tomando notas de cada detalhe com sua caligrafia que parecia antiga e nova, um pouco grossa, mas não demais. Porque Benny gostava dos detalhes invisíveis, não dos visíveis.
Provavelmente, ele estaria imune às polêmicas sobre o papel da informação vaticana. Não tanto porque não teria críticas a fazer – ele teria, e muito! –, mas sim pelo fato de que ele gostava de ter seu lado original e, portanto, preferia encontrar sozinho as notícias que ninguém tinha. Afinal, Benny Lai nunca trabalhou para uma agência.
Incrivelmente, hoje Benny Lai estaria em busca de novidades, mesmo continuando sendo um homem do velho mundo. Paradoxal, mas justamente por isso verdadeiro, porque os seres humanos são paradoxais.
Mas lembrar Benny Lai significa lembrar a primeira geração de vaticanistas. Uma época heroica, em que se definia uma profissão e se estabeleciam seus limites. Era uma época mais romântica, distante do fasto pós-conciliar da segunda geração de vaticanistas, que vinham muitas vezes da grande experiência dos movimentos católicos e já sabiam o que pensar.
Benny Lai, porém, pôde ver a terceira geração, ou seja, a minha, e dedicou tempo a essa geração, ensinando à sua maneira “um pouco brusca” (como ele mesmo a definia), com piadas cortantes e afirmações tranchant. E hoje sente-se muito a falta de mestres como Benny Lai. Sente-se a falta de alguém que possa ensinar a quarta geração. Mas resta o exemplo de Benny Lai. Restam os livros, os artigos, as gravações das entrevistas, alguns vídeos. Resta o nome de vaticanista, inventado por Benny Lai e que ficará para sempre na história. Resta não só a memória, mas também o exemplo.
Artigo de Andrea Gagliarducci no Vatican Reporting, 12-12-2025
[1] Ou “Cortina InConTra” é um famoso evento cultural e de atualidades realizado anualmente na cidade de Cortina d’Ampezzo, na Itália, reunindo figuras políticas, econômicas, culturais e do entretenimento para debates e discussões sobre temas relevantes.






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