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São José de Anchieta propugnador da expulsão dos calvinistas

Dominando feras e serpentes, São José de Anchieta catequizou os índios, realizou diversos milagres e empenhou-se vigorosamente pela expulsão dos franceses calvinistas, que haviam invadido o Rio de Janeiro.

Benedito Calixto Evangelho nas Selvas 1893 ost 585 x 70 cm Padre Anchieta

Redação (07/12/2025 14:52, Gaudium Press) Pertencente a uma nobre família espanhola, Anchieta nasceu em 1534 na cidade São Cristóvão da Laguna – Arquipélago das Canárias – da qual seu pai era prefeito. Sendo muito jovem foi estudar na célebre Universidade de Coimbra, Portugal, e aos 17 anos tornou-se noviço da Companhia de Jesus e fez o voto de castidade.

Por ordem de seus superiores, viajou para o Brasil em companhia do segundo Governador Geral da Colônia, Dom Duarte da Costa. Em 25 de janeiro de 1554, fundou a aldeia de São Paulo de Piratininga que recebeu esse nome porque nesse dia se comemora a festa da conversão do Apóstolo.

Um velho índio fiel à lei natural

Exerceu intenso apostolado junto aos índios, aprendeu seus dialetos e chegou a redigir uma gramática da língua tupi. Nos lugares pelos quais andava, as feras se amansavam e as serpentes perdiam seu veneno. Catequizou inúmeros silvícolas, curou doentes e ressuscitou mortos.

Caminhando pela mata, a certa altura ele encontrou, sentado num tronco
de árvore, um índio muito velho e perguntou-lhe se precisava de alguma coisa.

O indígena explicou que estava esperando ali a hora da morte, pois havia sonhado que, quando estivesse velho, “viria um homem vestido com esse traje preto que o senhor veste e me ensinaria a Religião verdadeira, a qual a vida inteira eu quis conhecer. Há tempos me sento neste tronco à espera desse homem, e hoje o senhor veio”.

O Santo ensinou-lhe as verdades essenciais da Fé, batizou-o, e depois o homem morreu na paz de Deus.

Esse índio foi fiel à lei natural a qual, segundo São Tomás de Aquino, é a participação da lei eterna na criatura racional.[1]

Na areia da praia escreveu poema a Nossa Senhora

Instigados pelos franceses calvinistas que haviam invadido o Rio de Janeiro, os índios tamoios atacaram os portugueses causando muitas mortes e ameaçando, assim, extirpar a Fé católica no Brasil.

Em julho de 1563, foi feito um tratado entre lusos e indígenas. Anchieta foi entregue a estes como refém e conduzido às praias de Iperoig, atual Ubatuba no litoral do Estado de São Paulo.

Num ambiente tão contrário à prática das virtudes, ele rogou a Nossa Senhora que preservasse sua castidade e prometeu escrever um poema em louvor à Virgem.

Na areia da praia, utilizando uma varinha passou a redigi-lo e decorá-lo. Muitas vezes um passarinho, de bela e variada cor, esvoaçava em torno dele enquanto escrevia o poema, e pousava nos seus ombros.

Certo dia, as ondas se ergueram formando uma parede e avançavam rumo à praia; o Santo não percebeu porque estava de costas para o mar, em meditação. Tendo sido avisado pelos índios, através de gritos e sinais, ele se retirou com rapidez e ficou ileso.

Durante os três meses em que permaneceu entre os selvagens, sua pureza ilibada e suavidade de trato conquistaram-lhes o coração. Assim, pôde-se concluir a paz, satisfatória para ambas as partes.

Libertado, o Santo dirigiu-se a São Vicente onde escreveu em latim o poema em louvor de Maria Santíssima, composto de quase seis mil versos.

A propósito desses fatos, Dr. Plinio Corrêa de Oliveira comentou:

“Vemos em tudo isso o papel da graça, este dom de Deus recebido no Batismo que nos faz participar da própria vida divina e nos confere uma energia, uma clareza de vistas e uma superioridade maiores do que aquelas que nos são próprias segundo a natureza. E começamos a entender, a falar, a fazer coisas maiores do que seríamos capazes naturalmente. É o mais alto dom que uma criatura pode receber.” [2]

Gesta de Mem de Sá

Em 1566, viajou à Capitania da Bahia a fim de informar ao Governador geral Mem de Sá sobre o andamento da guerra contra os franceses calvinistas, e solicitar o envio de tropas portuguesas ao Rio de Janeiro para expulsar os invasores.

Esse altíssimo objetivo foi conseguido graças ao empenho de nosso Santo, que posteriormente escreveu em latim a obra “Gesta de Mem de Sá”, impressa em Coimbra, onde retrata a luta dos portugueses, chefiados pelo Governador geral Mem de Sá, para expulsar os franceses da baía da Guanabara, onde o herege Villegagnon fundara a França Antártica.

Por esta época, foi ordenado sacerdote na Catedral de Salvador, aos 32 anos de idade, e regressou ao Sul do país. Passando pelo atual Estado do Espírito Santo, fundou a aldeia Reritiba, hoje Anchieta.

Rezando o Breviário no fundo de um rio

Nas cercanias de São Paulo, ele em companhia de outro padre jesuíta e alguns índios viajavam numa canoa que se aproximou de uma cachoeira. Os sacerdotes rezavam o Breviário e não perceberam o grande risco que corriam. De repente, a embarcação se desfez em pedaços e seus tripulantes foram lançados ao rio.

Exímios nadadores, os indígenas livraram-se facilmente do perigo. Com certa dificuldade, salvou-se também o outro padre jesuíta. Mas Anchieta não sabia nadar e foi ao fundo…

Um índio, muito devoto do Santo, lançou-se ao rio à sua procura e, pouco depois, o trouxe à margem totalmente enxuto. Ele o encontrara sentado no fundo do rio, rezando serenamente o Breviário.

Tendo sido nomeado, em 1577, Provincial da Companhia de Jesus no Brasil –função que exerceu por dez anos –, dirigiu o Colégio dos Jesuítas em Vitória, no Espírito Santo.

Em 1595, obteve dispensa dessas atividades e mudou-se para o colégio jesuíta de Reritiba.  No dia 9 de junho de 1597, faleceu serenamente pronunciando os nomes de Jesus e Maria. Toda a população acorreu para venerá-lo.  Transportado aos ombros pelos índios, seu corpo foi sepultado em Vitória, na Igreja de São Tiago.[3]

Peçamos a São José de Anchieta, cuja memória se celebra em 9 de junho, que nos obtenha a combatividade para lutarmos ardorosamente contra os “invasores” da Igreja Católica Apostólica Romana, que conspurcam a face imaculada da Esposa Mística de Cristo.

Por Paulo Francisco Martos

Noções de História da Igreja


[1] cf. Suma Teológica I-II, q. 91, a. 2; q. 94.

[2] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. São José de Anchieta: dedicação heroica aos índios. In Dr. Plinio. São Paulo. Ano XVII, n. 195 (junho 2014), p. 31.

[3] Cf. VASCONCELOS, Simão de. SJ. Vida do venerável Padre José de Anchieta. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional. 1943.   

Cf. CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. São José de Anchieta: dedicação heroica aos índios. In Dr. Plinio. São Paulo. Ano XVII, n. 195 (junho 2014), p. 28-29.

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