O profeta do Altíssimo
Entre as múltiplas virtudes do Precursor, brilha a verdadeira humildade, que consiste sobretudo na defesa da glória de Deus e no apagamento de si mesmo.

São João Batista – Catedral de Notre-Dame, Paris Foto: Sergio Hollmann
(06/12/2025 12:25, Gaudium Press) Neste 2º Domingo do Advento a figura de São João Batista aparece, na pena de São Mateus, pregando no deserto da Judeia. Vestia-se rudemente e se alimentava de mel silvestre e gafanhotos, contrapondo-se aos costumes mundanos da época. Habitantes de Jerusalém, da Judeia e de além-Jordão o procuravam para ouvirem sua pregação e serem batizados.
Apesar de sua humilde aparência, contra o mal ele era implacável. Dirigindo-se aos fariseus e saduceus, que se misturavam à multidão para o observarem, advertia: “Raça de cobras venenosas, quem vos ensinou a fugir da ira que vai chegar?” (Mt 3, 7).
Assim ele os chamava porque geravam sempre mais filhos da perdição e para perdição! Explica-nos São Tomás que é louvável sofrer com paciência as injúrias que se nos fazem; mas é sumamente ímpio perdoar aquelas feitas a Deus.
Quanta semelhança entre essas palavras cheias de fogo e as admoestações pronunciadas pelo Salvador contra essa mesma gente, quando a increpava: “Serpentes! Raça de víboras! Como escapareis ao castigo do inferno?” (Mt 23, 33).
O Precursor nos convida, neste Tempo do Advento, a uma mudança de vida através da vigilância, oração e penitência. Uma conversão interior radical e verdadeira, não farisaica e mentirosa – portanto, feita apenas de exterioridades – nem sedenta de privilégios como a dos saduceus, pois de nada adianta dizermos que “temos Abraão por pai” (Mt 3, 9) se não produzimos frutos de santidade.
João, aquela criança que estremeceu de alegria no seio de sua mãe, Isabel, quando ouviu a voz de Maria (cf. Lc 1, 44); João, de quem Jesus disse ser o maior entre os nascidos de mulher (cf. Mt 11, 11); João, que de si mesmo declarou não se considerar digno de desamarrar a correia das sandálias de Nosso Senhor (cf. Jo 1, 27); João, mensageiro divino em cuja alma resplandecem tantas e tantas virtudes… oxalá possamos imitá-lo em sua humildade.
Santa Teresa de Jesus nos ensina que a humildade consiste em andar na verdade, e São Tomás afirma ser ela completada pela magnanimidade. Sem esta, a humildade deixa de ser real, e passa a ser pusilanimidade e até mesmo covardia.
O Batista não se acovardou diante do Tetrarca da Galileia, Herodes Antipas, exprobrando sua impiedade e seu pecado, e por amor à verdade foi martirizado. Quando, a pedido de Salomé, trouxeram sua cabeça numa bandeja, de seus olhos meios cerrados e de seus lábios virginais entreabertos ainda ecoava o brado: “Não te é lícito!” (Mt 14, 4).
Sigamos o exemplo do profeta do Altíssimo e amemos seus ensinamentos. Sejamos nós também paladinos da Santa Igreja sem respeito humano, defendendo sempre a verdade inteira. Humildes, vigilantes e com as nossas lâmpadas acesas, estejamos à espera do Menino Deus, que vai nascer.
Artigo extraído da Revista Arautos do Evangelho n. 288, dezembro 2025. Por Pe. Hamilton José Naville, EP.





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