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No voo de volta do Líbano, Leão XIV aborda diversos temas: paz, sínodo alemão, Venezuela

O Papa manteve um diálogo cordial com os jornalistas no voo de volta a Roma.

Foto: Vatican News

Foto: Vatican News

Redação (02/12/2025 17:00, Gaudium Press) Em um diálogo cordial e franco, o Papa Leão XIV respondeu a diversas perguntas de jornalistas durante o voo que o levava de Beirute de volta a Roma nesta terça-feira (2 de dezembro). O Pontífice respondeu às perguntas em inglês, espanhol e, claro, italiano, tratando de temas centrais da política mundial.

Ele começou reforçando que “um aspecto desta viagem que não foi o motivo principal”, foi promover a paz e destacou que a Santa Sé “mantém relações diplomáticas com a grande maioria dos países da região”.

Leão XIV lembrou ainda que o motivo original da viagem — a primeira viagem apostólica de seu pontificado, que incluiu a Turquia e o Líbano — foi celebrar os 1.700 anos do Concílio de Niceia, noção fundamental da doutrina católica sobre a pessoa de Jesus Cristo. No entanto, enfatizou o caráter profundamente ecumênico da visita: o desejo de unidade entre todos os seguidores de Cristo. “O encontro com os patriarcas — católicos, ortodoxos — em busca da unidade da Igreja”, resumiu.

Ao responder uma pergunta, o Papa revelou intimidades de sua espiritualidade pessoal: “Se querem saber algo sobre mim, sobre minha espiritualidade ao longo de muitos anos, em meio a grandes desafios, vivendo no Peru durante os anos do terrorismo, sendo chamado a servir em lugares em que jamais poderia ter pensado que seria chamado para servir. Eu confio em Deus e essa mensagem é algo que compartilho com todas as pessoas. Então, como isso aconteceu? Eu me rendi quando vi como as coisas estavam indo e disse que isso poderia se tornar realidade”. Respirei fundo e disse: “Eis-me aqui Senhor, Tu és o chefe, Tu guias o caminho”.

Ele revelou que essa mesma confiança esteve presente no conclave, quando, em determinado momento, sentiu que poderia ser eleito Papa.

Próximas viagens

O momento mais aguardado da coletiva foi quando perguntaram sobre futuras viagens apostólicas. Leão XIV começou com bom humor: “Quanto a viagens, não há nada certo”. Logo emendou que seu desejo é fazer “uma viagem à África”, que “provavelmente será a próxima”. Mencionou especialmente a Argélia, terra de Santo Agostinho, respeitado lá — mesmo num país de maioria muçulmana — como um “filho da pátria”.

Em seguida, voltou a falar da América Latina com carinho evidente: “Argentina e Uruguai estão esperando a visita do Papa… e o Peru? Acho que também me receberiam”, brincou, arrancando risos — uma referência jocosa à sua nacionalidade peruana, adquirida durante décadas de missão no país. Não descartou países vizinhos, mas fez a ressalva: “Ainda não está definido.”

Venezuela

Questionado sobre a grave crise venezuelana e os rumores crescentes de uma possível intervenção militar americana — em meio a movimentações de navios de guerra, submarinos nucleares e caças dos EUA no Caribe, sob o pretexto de combater o narcotráfico ligado ao regime de Nicolás Maduro —, o Papa foi cauteloso, mas direto. Afirmou que, por meio da Conferência Episcopal e do Núncio, a Santa Sé busca “acalmar a situação, buscando acima de tudo, o bem do povo”. Reconheceu que “as vozes que vêm dos Estados Unidos mudam com certa frequência”, mas admitiu a possibilidade real de uma ação, uma operação, incluindo a “invasão do território venezuelano”.

“Eu não sei mais que isso”, disse, antes de acrescentar uma frase que chamou atenção: “É melhor buscar o diálogo nessa pressão, incluindo a pressão econômica, mas buscando outra forma para mudar, se é isso que os Estados Unidos decidirem fazer”. A declaração pode ser interpretada como abertura, ainda que muito cautelosa, a medidas externas para forçar uma mudança de regime.

Diálogo inter-religioso e caminho sinodal alemão

Na parte final da conversa com os jornalistas, Leão XIV também falou sobre as possibilidades de diálogo entre muçulmanos e cristãos. “Acho que uma das grandes lições que o Líbano pode ensinar ao mundo é justamente mostrar uma terra onde o Islã e o Cristianismo estão presentes e se respeitam, e onde existe a possibilidade de viverem juntos e serem amigos”, frisou.

Ao ser questionado sobre as tensões entre o caminho sinodal da Igreja na Alemanha e o da Igreja universal, reconheceu “semelhanças”, mas também “diferenças marcantes”. Garantiu, porém, que tais diferenças não significam necessariamente “ruptura ou cisma”. “Ao mesmo tempo, temo que muitos católicos na Alemanha acreditem que certos aspectos do caminho sinodal celebrados até agora no país não representem suas esperanças para a Igreja ou sua maneira de viver a Igreja. Portanto, é necessário mais diálogo e escuta dentro da própria Alemanha, para que nenhuma voz seja excluída, para que a voz dos mais poderosos não silencie a voz daqueles que podem ser muito numerosos, mas que não têm um espaço para falar e ser ouvidos. De modo que suas próprias vozes e expressões de participação na Igreja sejam de fato escutadas”.

O Papa expressou confiança de que as reuniões regulares entre bispos alemães e cardeais da Cúria Romana impedirão que o Caminho Sinodal alemão se desvie, por assim dizer, daquilo que deve ser considerado um caminho da Igreja universal”. (SCM)

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