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Ecumenismo: até que ponto Oriente e Ocidente podem se aproximar da unidade em Niceia?

 O obstáculo ecumênico mais grave no momento pode ser aquele gerado pelo Patriarcado de Moscou ao romper com o Patriarcado Ecumênico de Constantinopla e declarar cisma dentro da Igreja Ortodoxa.

Foto: Vatican News/ X

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Redação (25/11/2025 16:31, Gaudium Press) O Papa Leão XIV publicou a carta apostólica In Unitate Fidei antes de sua viagem a Niceia (2025), onde participará, junto com o Patriarca Ecumênico Bartolomeu I, das comemorações dos 1.700 anos do Concílio de Niceia (325) e do Credo Niceno-Constantinopolitano.

No documento, o Papa recorda as acirradas disputas doutrinárias que precederam e sucederam à formulação do Credo Niceno. O Papa enfatizou que, após gerações de divisão e heresia sobre a natureza essencial da Trindade, grande parte do cristianismo mundial hoje está unida na confissão da natureza essencial de Deus.

Por isso, afirma que é hora de “deixar para trás as controvérsias teológicas que perderam sua razão de ser” e avançar para um pensamento comum e, sobretudo, uma oração comum ao Espírito Santo, “para que Ele nos reúna a todos numa única fé e num único amor”. Leão reforça a clássica frase ecumênica: “o que nos une é muito mais do que o que nos divide” e apresenta a comunidade cristã universal como sinal de paz e instrumento de reconciliação num mundo dividido e dilacerado por muitos conflitos.

Embora os pontos de divergência atuais não sejam trinitários, alguns podem estar enraizados em disputas sobre outros artigos do credo e sobre a natureza dos sacramentos.

O ponto alto da viagem será o ato conjunto com Bartolomeu I para comemorar o Concílio de Niceia e do seu credo. O Patriarca Ecumênico de Constantinopla, ao longo das últimas duas décadas, cultivou gestos de reaproximação com a Igreja Católica, trabalhando em estreita colaboração com vários papas. Em entrevista ao The Pillar, Bartolomeu afirmou que “o diálogo e a reconciliação não são opcionais para nós; são diretrizes e mandamentos”. Desde 2020, trocas de mensagens, visitas fraternas e declarações de estima tornaram-se rotina. Avanços concretos incluem:

2023: primeiro documento conjunto em anos entre teólogos católicos e ortodoxos sobre sinodalidade e primado, afirmando que a interdependência entre ambos é princípio fundamental da vida da Igreja.

2024: Papa Francisco restabeleceu o título papal “Patriarca do Ocidente” (abandonado por Bento XVI em 2006 por razões ecumênicas, mas que acabou sendo mal interpretado no Oriente); o gesto foi recebido por alguns ortodoxos como sinal positivo de sinodalidade.

Apesar desses progressos, o panorama ecumênico permanece complexo, sobretudo após a invasão da Ucrânia pela Rússia.

A Igreja Ortodoxa Russa, a maior das igrejas orientais, reivindica sua primazia no mundo ortodoxo e afirmou a soberania eclesiástica sobre os ucranianos ortodoxos, juntamente com a tentativa de Moscou de subjugar o Estado ucraniano; fato que levou muitas das Igrejas Ortodoxas do mundo, lideradas por Bartolomeu e pelo Patriarcado de Constantinopla, a reconhecer a natureza autocéfala da Igreja Ucraniana, o que, por sua vez, desencadeou anátemas e a declaração de cisma pelo Patriarcado de Moscou.

Paradoxalmente, o afastamento de Moscou das mesas de diálogo católico-ortodoxo retirou alguns dos opositores mais intransigentes à união com Roma, abrindo espaço a uma comunhão mais estreita entre o Oriente e o Ocidente. Ao mesmo tempo, porém, aproximações muito rápidas entre Roma e Constantinopla correm o risco de agravar as divisões já existentes dentro da própria Igreja Ortodoxa.

Bartolomeu tem insistido que nenhum acordo com os católicos deve criar mais tensão entre as igrejas ortodoxas locais e reafirma “o comprometimento total com a cura das divisões entre nossas Igrejas. Oramos intensamente pela cura do cisma de 1054 entre Roma e Constantinopla.” Já o Papa Leão, na carta, adota tom de entusiasmo e flexibilidade, propondo o Credo de Niceia como base e critério de referência para o caminho da “verdadeira unidade na legítima diversidade”.

Resta saber onde exatamente se define essa “legítima diversidade”. Ironicamente, o maior obstáculo pode não estar entre Roma e o Oriente, mas entre os próprios ortodoxos.

Com informações The Pillar 

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