Leão XIV: colocando as peças no lugar
A nomeação dos dois novos “vice-ministros” da Secretaria de Estado foi tornada pública após ambos os cargos terem ficado vagos por mais de um mês.
Papa com Monsenhor Mihăiţă Blaj – Foto: Vatican News
Redação (24/11/2025 06:26, Gaudium Press) O Papa Leão XIV iniciou uma grande mudança geracional no aparato central de governo da Igreja, a Cúria Romana.
Esta mudança começou na Secretaria de Estado, na semana passada, com as nomeações de Anthony Onyemucho Epko como assessor e Mihăiţă Blaj como subsecretário para os Negócios Estrangeiros da Secretaria de Estado, o órgão chave e central da Cúria Romana. Ela se estenderá a vários dicastérios do Vaticano até que tenhamos uma nova lista de eclesiásticos – os homens de Leão – em posições-chave em todo o aparato governamental. O processo pode levar um tempo, e talvez se estenda até a maior parte de 2026.
A nomeação dos dois novos “vice-ministros” da Secretaria de Estado foi tornada pública após ambos os cargos terem ficado vagos por mais de um mês. No início da semana, foi celebrado o Jubileu do Corpo Diplomático, e a foto em grupo do encontro com o Papa registrou a ausência do assessor e do subsecretário para as Relações com os Estados na Secretaria de Estado.
Isso foi incomum, pois esses dois cargos não podem permanecer vagos por muito tempo. O subsecretário para as Relações com os Estados, uma espécie de “vice-ministro das Relações Exteriores”, é responsável por dossiês importantes, começando pelo da China. O acordo Sino-Vaticano para a nomeação de bispos sempre foi assinado – até agora – pelos “vice-ministros das Relações Exteriores”, e as delegações do Vaticano que se reúnem periodicamente com as delegações chinesas para discutir o andamento do acordo também sempre foram lideradas pelo subsecretário para as Relações com os Estados.
Em suma, havia o risco de chegar à próxima reunião de atualização com a China, em dezembro, sem um líder natural da delegação para gerenciar o dossiê. A escolha recaiu sobre Monsenhor Blaj, um jovem com experiência em várias nunciaturas, que recentemente atuou como secretário pessoal do Arcebispo Paul Richard Gallagher, Secretário para as Relações com os Estados e as Organizações Internacionais da Santa Sé
O papel do assessor é ainda mais crucial.
De fato, há dois subsecretários para as Relações com os Estados, e há também um subsecretário para os assuntos multilaterais — Monsenhor Daniel Pacho — que pode intervir na ausência do outro “vice-ministro das Relações Exteriores”, embora suas responsabilidades não se refiram às relações entre os Estados. No entanto, não há um segundo assessor no organograma da Santa Sé. O assessor, adjunto do Substituto da Secretaria de Estado, é responsável por assegurar o funcionamento da Secretaria de Estado. Ele tem várias funções, é também membro do Comitê de Segurança Financeira e responsável por supervisionar seu funcionamento geral.
Para o cargo, foi escolhido Monsenhor Epko, o primeiro assessor que não vem das fileiras da Secretaria de Estado, onde, no entanto, serviu antes de ser nomeado subsecretário do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral. Epko também escreveu um livro em inglês sobre a Cúria Romana, um dos poucos estudos sobre as origens, a história e o funcionamento da máquina do Vaticano, muito apreciado nos países de língua inglesa.
O que podemos deduzir dessas duas nomeações?
A primeira é que Leão XIV começou a reorganizar a Cúria, e a nomeação de Monsenhor Epko, um especialista na área, é um sinal muito claro. Não só isso. Epko é um “outsider” na Secretaria de Estado do Vaticano, e conhecido por ser um homem fiel. Seu nome não parece ter sido indicado pelo atual substituto, o Arcebispo Edgar Pena Parra, e isso é interpretado por alguns observadores como um sinal da saída iminente de Pena Parra do cargo.
Mas a escolha de Epko também sugere mudanças profundas no Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral. Epko era subsecretário, e o atual prefeito, Cardeal Michael Czerny, completará 80 anos em breve. Czerny foi um dos símbolos da “revolução” do Papa Francisco e um guardião da revolução. E foi Czerny quem deu continuidade ao legado de Francisco, organizando o encontro de Leão XIV com movimentos populares e também orientando o discurso de Leão XIV sobre o assunto, profundamente imbuído da espiritualidade bergogliana.
Com a chegada do subsecretário, porém, o dicastério poderá passar por uma grande transformação, dependendo do novo presidente, que também poderá dar uma nova direção. Até agora, o dicastério tem se concentrado na antiga seção de Migrantes e Refugiados, perdendo grande parte das antigas características que tinha quando era o Pontifício Conselho para Justiça e Paz.
Outro sinal de uma possível renovação no Dicastério foi a recente reforma da pastoral marítima, que o Papa estruturou na chamada “Stella Maris”. Mas também esta reforma terá de resistir ao teste do tempo. Por um lado, ela precisa solucionar um descuido na Praedicate Evangelium, a constituição apostólica da era Francisco que reformou a Cúria no papel (e mal mencionou a pastoral dos marítimos). Por outro lado, a nova estrutura parece refletir um pouco a da Caritas Internationalis, que o Papa Francisco reformou com um foco mais gerencial, indo além da reforma de Bento XVI, que havia procurado caracterizar o trabalho da Caritas em uma estrutura teológica sólida, em vez de administrativa.
Veremos se Epko, como assessor e especialista na Cúria Romana, também terá a tarefa de restaurar a ordem em uma máquina curial cujo trabalho se tornou mais complicado após as reformas do Papa Francisco.
A nomeação de Blaj, no entanto, parece ser um prelúdio para outra promoção: a de seu superior imediato, o Arcebispo Paul Richard Gallagher. O “ministro das Relações Exteriores” do Vaticano pode estar destinado a um cargo na Cúria, talvez com o barrete cardinalício, e a pista está precisamente na promoção concedida pelo Papa a seu secretário pessoal, uma medida que normalmente anuncia uma transferência.
Se Pena Parra e Gallagher deixarem seus cargos, a Secretaria de Estado passaria por profundas mudanças. Mas não seria o único órgão. Leão XIV já nomeou um vice-regente da Casa Pontifícia, o sacerdote agostiniano Dalong, em quem deposita grande confiança. E tudo indica que a nomeação abrirá caminho para a substituição do atual regente, Monsenhor Leonardo Sapienza.
O Arcebispo Diego Ravelli, atual mestre de cerimônias papais, também parece pronto para ser transferido para uma diocese, porque o papa gostaria de escolher alguém mais próximo de sua sensibilidade e não aprecia a ideia de um arcebispo como “acólito”.
Todas essas mudanças devem ocorrer após o consistório de 7 e 8 de janeiro, cujo tema ainda não foi anunciado por Leão XIV. Mas isso abriria caminho para um intenso período de mudança geracional, culminando em um consistório para criar novos cardeais no final de 2026. Atualmente, há 126 cardeais eleitores, mas até o final do próximo ano, o número cairá para menos de 120.
Os novos cardeais também terão, com o tempo, uma maior influência sobre a Igreja que Leão XIV deseja ter.
Artigo de Andrea Gaglarducci, publicado originalmente em inglês no site Monday Vatican, em 24 de novembro de 2025. Tradução Gaudium Press.



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