Exposição da Bíblia do Duque Borso d’Este
A Bíblia de Borso d’Este estará em exposição na Sala Capitular do Senado da República Italiana, de 22 de novembro de 2025 a 15 de janeiro de 2026.
Fotos: Vatican News
Redação (18/11/2025 15:42, Gaudium Press) Um século depois da sua primeira exposição pública, a célebre Bíblia do Duque Borso d’Este regressa à Sala Capitular da Biblioteca do Senado italiano, em Roma – precisamente – o mesmo local onde, em 1923, Giovanni Treccani a salvou do esquecimento.
A exposição, intitulada “Et vidit Deus quod esset bonum” – “E Deus viu que era bom. A Bíblia de Borso d’Este: uma obra-prima para o Jubileu”, constitui um retorno carregado de significado histórico e simbólico. Foi naquela mesma sala que Treccani, ao lado de Giovanni Gentile, contemplou pela primeira vez o manuscrito com iluminuras e, profundamente emocionado – “até às lágrimas”, segundo testemunhos da época –, decidiu adquiri-lo para a nação italiana.
Agora, por ocasião do Jubileu de 2025, o manuscrito – que ao longo de um século só em raríssimas ocasiões foi mostrado ao público – volta a abrir-se aos olhares dos visitantes, permitindo que se admire uma das mais altas realizações da arte renascentista italiana e, ao mesmo tempo, se recorde o gesto visionário que o preservou para a posteridade.
A cerimônia de inauguração, promovida pelo Presidente do Senado, Ignazio La Russa, reuniu autoridades e personalidades de destaque, entre as quais a vice-presidente do Senado, Mariolina Castellone; o subsecretário de Estado para a Cultura, Gianmarco Mazzi; o Comissário Extraordinário para o Jubileu de 2025, Roberto Gualtieri; e os três conferencistas principais: Dom Rino Fisichella, pró-Prefeito do Dicastério para a Evangelização; Carlo Ossola, presidente do Comitê Científico da Enciclopédia Italiana Treccani; e Alessandra Necci, diretora das Galerias d’Este e curadora da exposição.
Uma beleza que desafia
Em seu discurso, Dom Rino Fisichella destacou o significado espiritual e artístico do manuscrito: “A Bíblia não é apenas um livro, é a Palavra viva que interpela cada geração. Nesta obra magnífica, encomendada pelo Duque Borso d’Este, a beleza não é mero ornamento, mas uma oração visual, uma memória que atravessa os séculos”
As páginas decoradas com ouro e pigmentos preciosos tornam-se um convite à contemplação, um convite a redescobrir o texto sagrado, em seu valor mais autêntico. É a mesma Palavra, sublinhou o arcebispo, que hoje chega até nós em edições acessíveis, que podem ser guardadas nas estantes de nossas casas ou, muitas vezes, apenas esperando para serem reabertas e deixarem seu conteúdo emergir.
Alessandra Necci reconstrói o contexto em que nasceu o manuscrito: a corte de Borso e Ercole d’Este, um laboratório de arte, política e esplendor, no qual trabalharam Taddeo Crivelli, Franco de’ Russi, Girolamo de Cremona e Guglielmo Giraldi. Ali, tomou forma a linguagem, que Roberto Longhi definiu “capaz de dialogar, em pé de igualdade, com a pintura monumental”.
A diretora da exposição recorda: “A Bíblia não era apenas um objeto de devoção, mas também um manifesto político, que Borso levou para Roma, em 1471, com o intuito de demonstrar ao Papa a grandeza da família d’Este”.
E a diretora Necci concluiu: “Trata-se de uma obra de Corte, que se tornou patrimônio de todos, que guia o visitante, por meio de mais de seiscentos manuscritos com iluminuras, animais fantásticos e cenas, que ecoam o estilo de Donatello.
Harmonia entre beleza e sacralidade
Carlo Ossola, presidente do Comitê Científico da Enciclopédia Italiana Treccani, realçou o alcance cívico e cultural do gesto histórico de Giovanni Treccani: “Um exemplo nobre de patrocínio moderno. Sua generosidade permitiu que a Itália voltasse a retomar posse de um tesouro, que corria o risco de se perder a nível internacional”.
Para Ossola, a presente exposição representa um reencontro simbólico entre a trajetória da Bíblia de Borso e a própria história do Instituto Treccani. “Toda a cultura italiana”, afirmou, “concentra-se, de certa forma, nestes dois volumes magníficos. Um século após a doação, a Bíblia continua a ser um dos símbolos da ideia de cultura como bem comum”.
A Bíblia de Borso d’Este não é apenas um livro, mas um microcosmo visual. Em suas páginas convivem, em perfeita sintonia, sagrado, a política, a arte, a zoologia fantástica e o orgulho da dinastia. O azul ultramarino afegão dos preciosos lápis-lazúli, o fundo dourado, os brasões, os centauros, os emblemas da família d’Este.
Cada página exsuda aquela “harmonia entre beleza e sacralidade” de que falou Dom Rino Fisichella, convertendo-se em espelho privilegiado para o peregrino do Jubileu: contemplar estas iluminuras é, ao mesmo tempo, elevar o espírito e maravilhar-se com a capacidade humana de traduzir o divino em cor e luz.
Conservada habitualmente em Modena como a mais inestimável joia das Galerias d’Este, em Roma, ela será um ápice da memória, pois recorda o que a cultura pode obter quando se unem instituições, estudiosos, cidadãos e história.
Um livro, enfim, que justifica plenamente o título da exposição: algo que, ao ser contemplado, faz ecoar ainda hoje o veredicto divino do Gênesis — “E Deus viu que era bom”.
Com informações Vatican News





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