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Uma das maiores figuras femininas da História

Na cidade de Ávila, Norte da Espanha – cujas belas muralhas com 86 torres foram construídas em fins do século XI –, nasceu Santa Teresa de Jesus, em 1515.

Foto: Wikipedia

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Redação (15/11/2025 19:26, Gaudium Press) Seus pais, pertencentes a ilustres famílias de Castela, deram-lhe esmerada formação. Sendo criança, um sacerdote lhe perguntou sobre sua ascendência e ela respondeu: “Basta-me ser filha da Igreja Católica; mais me afligiria ter cometido um pecado venial do que ser descendente dos homens mais pobres e mais vis do mundo.”[1]

Tendo sete anos de idade, ela e seu pequeno irmão fugiram do palácio onde viviam para irem à África a fim de lutarem contra os mouros, morrerem e alcançarem o Céu. Pouco depois, foram encontrados por um tio que os trouxe de volta.

No início de sua juventude, ingressou no mosteiro carmelita de Nossa Senhora da Encarnação, em Ávila, cujas freiras viviam no relaxamento: podiam sair e receber visitas à vontade, não precisavam renunciar a seus bens etc.

Ela mesma se deixou influenciar por esse ambiente e decaiu espiritualmente. Sucedeu, então, um fato que marcou sua vida.

Foi levada ao Inferno e colocada num forno apertado e escuro. O piso era forrado de lama exalando um cheiro insuportável, na qual se arrastavam répteis venenosos. Sentia-se arder e ser cortada em mil pedaços. Padecia dores terríveis e, pior, julgava que eram eternas…

Passado algum tempo, esse castigo pela sua moleza cessou.

Compreendendo que a decadência era generalizada nos conventos, movida pela graça divina decidiu empreender a reforma do ramo feminino da Ordem do Carmo.

Reunindo quatro freiras, fundou um pequeno convento em Ávila e deu-lhe o título de São José, do qual era muito devota. As carmelitas do mosteiro da Encarnação se revoltaram e mobilizaram toda a cidade para que o novo convento fosse extinto. Mas, dotada de muita sagacidade, a Santa obtivera anteriormente a aprovação do Bispo diocesano ao seu empreendimento e, assim, a efervescência se acalmou.

Um dos motores mais vigorosos da Contra-Reforma

Indignada contra a disseminação do protestantismo, rogava a Nosso Senhor que enviasse apóstolos para combater a heresia.

Afirma Dr. Plinio Corrêa de Oliveira ter ela compreendido que deveria passar “da mediocridade para o fervor, a fim de conseguir que os pregadores, os doutores católicos, os batalhadores pelas armas católicas se tornassem capazes de derrotar os protestantes.” Dessa ideia surgiu a reforma do Carmelo.

“Essa reforma teve um efeito extraordinário nos imponderáveis de toda a Cristandade. Em torno das carmelitas desencadeou-se um movimento de afervoramento, que foi um dos motores mais vigorosos da Contra-Reforma”[2] ou seja, da luta doutrinária e tendencial contra o protestantismo e seitas dele derivadas.

Salvação da França católica

Deus a favoreceu com muitas visões e revelações as quais, por conselho de seus confessores e mestres, ela escreveu detalhadamente.

No convento São José, redigiu a obra “Caminho de perfeição”, em cujo primeiro capítulo expõe as razões que a levaram a estabelecer uma rigorosa observância da regra carmelitana na casa religiosa recém-fundada.

A França católica ficou tão impressionada com tais razões que deveu “sua salvação a Santa Teresa”. Face às perturbações provocadas pelos hereges naquele país, e como a “desgraçada seita” dos protestantes se fortalecia dia a dia – ela suplicou a Deus que desse remédio a tão grande mal. “Parecia-me que daria mil vidas para salvar uma única das numerosas almas que se perdiam naquele reino [da França].”[3]

Personalidade semelhante a um querubim

960px Santa Teresa de Avila. Museo del PradoQuanto às suas visões, revelações, êxtases, diversos clérigos diziam que eram obra do demônio. Mas São Francisco de Borgia e São Pedro de Alcântara declararam que provinham de Nosso Senhor.

Na realidade, indicam “um especial convívio com Deus, em que se percebe o refulgir colossal da graça, causando-nos a impressão de extraordinária personalidade que verdadeiramente nos deslumbra […] a ponto de vermos nela uma espécie de querubim, com todas as eminências de um ser puramente espiritual”.[4]

Venerada por Felipe II e Duque de Alba

Ela se tornou bastante conhecida em toda a Espanha. O Rei Felipe II escreveu-lhe diversas cartas e, numa delas, pediu-lhe que fosse ao palácio real, em Madri, para conhecê-la e lhe fazer perguntas. E o heroico Duque de Alba apreciou a autobiografia da Santa e a levava consigo em campanhas militares.

O Visitador apostólico nomeado por São Pio V ordenou-lhe que fosse priora do Mosteiro da Encarnação, do qual ela saíra havia vários anos. Ali viviam 130 monjas que protestaram contra a nova priora.

Com palavras plenas de bondade e sabedoria, ela acalmou-as; mandou embora as pensionistas, dificultou as visitas de pessoas mundanas e combateu a tibieza ali existente.

Um homem de grande importância em Ávila foi falar com ela e criticou asperamente as normas introduzidas no mosteiro. Com firmeza a Santa disse-lhe que se ele voltasse a pôr os pés nos umbrais daquela casa, ela “faria com que o rei lhe cortasse a cabeça”[5].

Levando uma vida contemplativa, ela também se dedicou a intensos trabalhos pela expansão de sua obra. Fundou 17 mosteiros femininos e, com a ajuda de São João da Cruz, promoveu a instituição de outros tantos para homens.

Entre as diversas obras que escreveu, destaca-se “Castelo interior” onde narra as sete moradas pelas quais caminham as almas sequiosas de alcançar a santidade.

Rosto luminoso, belo e rejuvenescido

Após fundar o convento de Burgos, em 1582, a Duquesa de Alba pediu-lhe que a visitasse em seu castelo de Alba de Tormes; o Duque, seu esposo, encontrava-se na cidade de Lisboa, em expedição militar.

Ela para lá se dirigiu, mas instalou-se no convento carmelita da cidade, onde caiu doente. A Duquesa a visitava frequentemente e a servia com dedicação.

Tendo recebido o Sacramento da Unção dos Enfermos, rezou o trecho do salmo Miserere: “Meu Deus, não rejeiteis um coração contrito e humilhado” e repetiu-o até o momento em que perdeu o uso da palavra.

Em 4-10-1582 – dia em que Gregório XII reformou o calendário –, entregou sua alma a Deus e uma pomba branca evolou de sua boca. Seu rosto se tornou luminoso, belo e rejuvenescido. Seu corpo – que permanece incorrupto até hoje – exalava um suave perfume, o mesmo sucedendo com os objetos que haviam sido tocados por ela.

Santa Teresa era dotada de “qualidades suavemente justapostas, com algo de harmonicamente dissonante entre a ação e a contemplação, altivez e misericórdia, determinação e bondade, que denotam e constituem uma imensa personalidade. Realmente, ela foi uma das maiores figuras femininas de toda a História”.[6]

Por Paulo Francisco Martos

Noções de História da Igreja


[1] WALSH, Willian Thomas. Santa Teresa de Ávila. Lisboa: Aster. 1961, p. 10.

[2] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Santa Teresa de Ávila, uma alma universal. In Dr. Plinio. São Paulo. Ano XIII, n. 151 (outubro 2010).151, p. 12-13.

[3] ROHRBACHER, René-François. Vida dos Santos. São Paulo: Editora das Américas. 1959, v. 18, p. 201.

[4] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Santa Teresa de Jesus – Alma de rara grandeza. In Dr. Plinio. Ano IX, n. 103 (outubro 2006), 24,26.

[5] WALSH, Willian Thomas. Op. cit., p. 275.

[6] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Decisão, perseverança e reflexão. In Dr. Plinio.  Ano XVI, n. 187 (outubro 2013), p. 2.

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