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O que o Papa pensa sobre educação católica?

“Os carismas educativos não são fórmulas rígidas; são respostas originais às necessidades de cada época”.

Foto: Vatican news/ Vatican Media/ X

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Redação (02/11/2025 10:50, Gaudium Press) Na Carta Apostólica Traçar novas rotas de esperança, assinada em 28 de outubro de 2025, por ocasião dos sessenta anos da Gravissimum educationis, o Papa Leão XIV apresenta uma visão renovada da missão educativa da Igreja. A educação não é um apêndice pastoral, mas o próprio coração da evangelização: é o modo concreto pelo qual o Evangelho se integra na cultura, formando consciências e restaurando a dignidade humana ferida pelo individualismo e pela indiferença.

A referência à Gravissimum educationis é fundamental para compreender o alcance desta nova carta. Publicada em 1965, durante o Concílio Vaticano II, a declaração conciliar sobre a educação cristã reafirmou o direito universal à instrução e o dever da Igreja de promover uma formação integral – intelectual, moral e espiritual. Foi o primeiro documento conciliar dedicado exclusivamente à educação que estabeleceu as bases teológicas para a missão educativa contemporânea: educar como forma de santificação, e não apenas de instrução.

Leão XIV retoma esse legado e o reinterpreta diante dos desafios do século XXI. Se, há seis décadas, a Igreja se abria ao diálogo com o mundo moderno, agora precisa defender o ser humano contra as forças que o desfiguram. O homem, imagem de Deus, é “capaz de verdade e de relação”, e a formação cristã deve abranger a totalidade da pessoa — espiritual, intelectual, afetiva, social e corporal. Assim, a educação católica não pode se limitar a transmitir conteúdos ou preparar o educando para o mercado de trabalho; deve formar para a liberdade, para a responsabilidade e para a comunhão.

O Papa descreve a verdadeira escola católica como lugar de transcendência, onde se aprende a olhar para o alto, a contemplar o mistério e a responder à própria vocação, à verdade e ao bem. Nesse contexto, fé e razão não se opõem, mas se harmonizam. A carta invoca o exemplo de São Tomás de Aquino e de John Henry Newman, recém-nomeado co-padroeiro da educação católica, mostrando que o intelecto iluminado pela fé deve servir o homem e não o dominar. O valor da educação não se mede pela eficiência, mas pela dignidade, pela justiça e pela capacidade de servir ao bem comum.

Um dos conceitos mais originais da carta é o da “constelação educativa”: expressão que simboliza a rede viva de escolas, universidades, comunidades e famílias que, juntas, compõem o âmbito educativo da Igreja. Cada instituição é uma estrela que orienta o caminhar humano; isoladas, perdem brilho, mas unidas desenham o mapa da esperança. Essa imagem exprime a necessidade de uma “aliança educativa” entre Igreja, família e sociedade, a fim de reconstruir o tecido moral e cultural do mundo contemporâneo.

O texto faz também referência ao Pacto Educativo Global, iniciativa lançada pelo Papa Francisco em 2019 e reafirmada por Leão XIV como parte essencial da missão evangelizadora no campo da educação. Longe de confundi-lo com os pactos promovidos por organismos internacionais, o Pontífice o descreve como um compromisso propriamente eclesial, nascido do Evangelho e orientado pela visão cristã do homem. Nesse contexto, o Papa recorda que o pacto não é um programa político nem um protocolo da ONU, mas uma aliança moral e espiritual para reconstruir a cultura do encontro, unir esforços entre famílias, escolas, universidades e governos, e formar pessoas capazes de servir ao bem comum. O Pacto Educativo Global é uma das “estrelas que orientam o caminho” das instituições católicas — um chamado a educar com alma, a resistir à fragmentação e a colocar novamente Deus e o ser humano no centro do processo educativo.

A imprensa católica internacional destacou os principais eixos da mensagem. O National Catholic Register observou que o Papa define três prioridades para o novo século educativo: recuperar a vida interior, humanizar o uso da tecnologia e educar para uma cultura de paz. O site Crux Now sublinhou que o pontífice exorta as instituições católicas a falarem novamente “ao coração das novas gerações”, unindo espiritualidade e conhecimento em uma visão de mundo coerente. Já a America Magazine enfatizou o apelo para que as escolas católicas deixem de medir seu sucesso por resultados acadêmicos e retornem ao cultivo do espírito, redescobrindo a contemplação como fonte do saber.

Essas análises convergem para a ideia de que Leão XIV entende a educação como um ato de caridade intelectual. Ensinar, para ele, é um serviço ao crescimento do ser humano; educar é um gesto de esperança que restitui ao homem a consciência de sua origem e de seu destino. Contudo, impõem-se exigências concretas. O equilíbrio entre tradição e inovação é um deles: manter viva a herança da Igreja sem cair na nostalgia ou na adaptação superficial. Outro desafio é o discernimento diante da revolução tecnológica. O Papa adverte que nenhum algoritmo poderá substituir o que torna humana a educação: poesia, amor, arte, imaginação. Mas, para que essa visão se concretize, será necessário investir na formação dos professores, fortalecer o discernimento ético e cultivar uma presença católica crítica no ambiente digital.

Há ainda o tema da justiça educativa. Leão XIV afirma que, onde o acesso à instrução permanece um privilégio, a Igreja deve abrir portas e inventar caminhos, pois perder os pobres é perder a própria escola. A educação católica, portanto, não pode ser privilégio das elites, mas expressão da caridade e da inclusão. Isso exige criatividade pastoral, recursos partilhados e uma nova consciência missionária.

Em síntese, no seu documento Traçar novas rotas de esperança, Leão XIV apresenta a educação como fronteira da evangelização contemporânea. Ensinar é evangelizar, e evangelizar é educar; ambos são gestos que elevam o homem à verdade e o libertam da banalidade. O texto também propõe uma pedagogia da transcendência — educar não para o êxito, mas para o florescimento do ser; não para competir, mas para servir; não para acumular, mas para amar. A educação católica, na visão do Pontífice, torna-se a primeira obra de misericórdia intelectual do nosso tempo, um farol no mar de dispersão que caracteriza a modernidade.

Por Rafael Tavares 

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